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Número de mortes em zoo de Goiás é quase o dobro do divulgado

26 de julho de 2009
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O número de mortes de animais dentro do Parque Zoológico de Goiânia (GO) neste ano pode ser superior a 15, e não apenas oito como havia sido informado anteriormente pela administração do zoológico. Isso porque, segundo a direção do parque, anteriormente, não eram contabilizados os animais que não são considerados de grande porte. Na terça-feira, a Polícia Civil abriu investigação para descobrir se a falta de investimentos no zoo pode ter influenciado na morte dos animais.

O total equivale a mais de 2,5% do plantel do zoo, atualmente em torno de 600 animais. O diretor do zoológico, Raphael Cupertino, disse que não saberia precisar a quantidade exata de óbitos porque toda documentação referente às mortes foi encaminhada ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

O parque foi fechado na terça-feira, dia 21 de julho, após acordo da administração do local com o Ibama para que todo plantel fosse examinado. Quando a visitação foi suspensa, era de conhecimento público a morte de sete animais de grande porte – dois hipopótamos, um leão, uma onça, um tamanduá-bandeira, uma girafa e um jacaré-açu. Depois, na quinta-feira, morreu um queixada. Ao ser procurado pela reportagem do Terra, na tarde de ontem, Cupertino afirmou não ter como dizer, naquele momento, mais detalhes sobre os outros animais mortos.

“Foram todas mortes ocasionais, sem nenhuma relação entre elas. Uma fatalidade. Muitos animais já chegaram doentes aqui e outros estavam velhos demais.” O intuito dos exames nos animais é descobrir se há algum doente e assim tentar evitar novas mortes. Foram examinados 30 mamíferos até este fim de semana e já se descobriu que uma sussuarana está com insuficiência renal e precisa de tratamento.

Falta de investimento
Desde o ano passado, o Ministério Público Estadual (MPE) de Goiás investiga denúncias de maus-tratos e de descaso do Poder Público com o parque. Um relatório feito em junho deste ano pela perícia ambiental do MPE concluiu que a prefeitura nunca investiu na manutenção e na modernização do zoológico, criado em 1956.

O laudo do MPE, feito pelo engenheiro agrônomo Giuliano Pompeu Rios de Pina, técnico ambiental do órgão, aponta que a falta de conservação do parque colocou em risco as condições de higiene e saúde do plantel. Segundo o laudo, o zoológico “foi dimensionado para uma demanda de 53 anos atrás” e “não passou por melhorias”.

No mesmo dia do fechamento do zoológico, o delegado Luziano Carvalho, titular da Delegacia Estadual de Meio Ambiente (Dema) abriu inquérito para apurar se a prefeitura pode responder pela morte dos animais. “Se ficar constatado que os animais deixaram de receber um atendimento melhor por causa da falta de investimento e que se tivessem recebido esse atendimento poderiam estar vivos, com certeza isso pode ser classificado como maus-tratos, então teremos um crime”, disse.

A promotora Sandra Mara Garbelini, coordenadora do Centro de Apoio Operacional (CAO) do Meio Ambiente do Ministério Público Estadual, diz que o zoológico só volta a abrir as portas para o público quando suprir todas as deficiências apontadas no relatório do órgão, assim como atender às exigências feitas pelo Ibama, cujo laudo final ainda não ficou pronto. Mas disse que ainda precipitado afirmar que a administração do zoológico pode ter responsabilidades pelas mortes dos animais: “precisamos aguardar os laudos que estão sendo feitos pelo Ibama para chegar a uma conclusão”.

A justificativa de Cupertino para não modernizar o atual zoológico é que a prefeitura já decidiu pela mudança do parque para outro lugar. De acordo com o presidente da Agência Municipal de Meio Ambiente, Clarismino Luiz Pereira Júnior, há três espaços sendo analisados e um projeto do novo zoológico já estaria praticamente pronto.

O diretor do zoológico, Raphael Cupertino, garante que os cerca de 600 animais que compõe o plantel do parque são bem tratados e cita, como prova, o nascimento de filhotes, como o de um macaco-prego na última semana. “Vários animais tiveram filhotes dentro do zoológico. E para eles se reproduzirem em cativeiro é sinal de que estão sendo bem tratados, que a alimentação é feita de modo adequado, senão não teriam se reproduzido”.

Cupertino alegou ainda que a prefeitura abriu um concurso público para a contratação de mais dois veterinários e dois biológos para o zoológico, aumentando a equipe para 12 pessoas. Atualmente, há três veterinários, quatro zootecnistas e um biólogo. “Além disso, temos uma parceria com a Escola de Veterinária da UFG, e desenvolvemos em conjunto com eles várias melhorias aqui no parque”, disse.

A coordenadora de fauna do Ibama em Goiás, Cristiane Borges Miguel, diz que é preciso aguardar a conclusão dos exames feitos no plantel do zoológico ou, pelo menos, a conclusão do laudo desenvolvido pelo Ibama, previsto para esta semana, para falar sobre as condições do zoológico e até que ponto isso interferiu na saúde dos animais. Mas salienta que até então não há nenhuma irregularidade por parte da administração.

Laudo
Entre os problemas citados no laudo do MP estão que alguns recintos do zoo ficam sombrados por árvores, o que pode ocasionar o surgimento de fungos, lodo e musgos; má conservação de caixas d’água, tampas de esgoto, do sistema de drenagem pluvial, do material de revestimento do teto, piso e paredes dos recintos; poluição do solo, da água e da atmosfera, colocando em risco a saúde pública; erosão ao redor do parque; comprometimento da flora; possível fragilidade no controle de fichas dos animais; livre circulação de urubus, pombos, gatos, ratos e baratas.

Entretanto, o ponto mais grave apontado pela perícia do MPE é a falta de um prédio para a Creche/Biotério, um para a triagem de animais e outro para a quarentena (local em que os animais novos ficam isolados para se adaptarem ao zoo por até 120 dias). Os recintos onde funcionavam estes espaços foram demolidos, segundo o laudo, devido a falta de manutenção e condições de uso. “Constatamos a necessidade da existência de creche, biotério e quarentena, sem eles o zoológico se torna vulnerável tecnicamente, pois as áreas são primordiais no manejo dos animais e na manutenção da sanidade do ambiente”, aponta o técnico no relatório.

Pina escreve em seu laudo que o setor para o qual estes departamentos foram transferidos “não está adequado, pois não são áreas específicas aos procedimentos médicos veterinários, aliado ao fato de que estão passando por demolições e estruturações”. Questionado sobre este ponto do laudo, o titular da Dema disse que já foi informado sobre o problema e concordou que é grave. “É o que vamos investigar. Essa é uma das questões. Até que ponto isso comprometeu a saúde dos animais”, disse.

Sem prazo
Apesar de inicialmente a administração do zoológico ter indicado que o fechamento duraria no máximo 45 dias, hoje já não se fala mais em datas. “Não quer dizer que o parque não vai abrir, vai sim, mesmo com a intenção da prefeitura em mudar o zoológico para outro lugar. Só que precisamos fazer os exames corretamente e são muitos animais, então pode demorar mais que os 45 dias”, disse Cupertino.

Paralelamente aos exames, foi iniciado o trabalho de reforma e revitalização de algumas áreas do zoológico. A iluminação foi trocada, árvores foram podadas, houve troca de telas e pisos de alguns espaços e alguns recintos estão sendo melhorados. Essa pequena reforma não contempla todas as sugestões feitas no relatório do MPE e, segundo Cupertino, elas não serão totalmente atendidas. “A prefeitura decidiu pela mudança, então não faz sentido investir na construção de novos espaços aqui no zoológico. O que temos feito é atender todas as normas exigidas pelo Ibama e dar as melhores condições possíveis de vida para os animais”, disse.

Fonte: Terra

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