A situação tem se tornado cada vez mais comum em Piracicaba. Cães abandonados, sofrendo de maus tratos e até mesmo amarrados em postes, deixados à própria sorte. Só esta semana, a Gazeta de Piracicaba recebeu quatro denúncias de abandono. Não bastasse a falta de conscientização dos tutores destes animais, a reclamação recorrente diz respeito à falta de atitude por parte do Poder Público para reverter esse quadro. “Será que não é possível fiscalizar de uma forma intensa, impedir que haja esse tipo de problema?”, questiona a dona de casa Hilda Almeida.
As pessoas reclamam ligar para o CCZ sem nunca obter resposta. “A gente liga, mas ninguém faz nada. Pior: temos medo que acabem matando os cachorros”, destaca uma moradora da região do bairro Jardim Esplanada, que prefere não se identificar. Ela reclama da situação de uma cachorra de rua que é tratada por comerciantes. Atropelada, a cadela não anda direito e precisa de cuidados, embora não corra risco de morrer.
Mas, segundo a moradora, todas as vezes que manteve contato com o CCZ não existiram ações efetivas. Ela questiona a eutanásia e o processo de castração. Segundo ela, esta cadela e outros cães de rua acabam dependendo apenas da boa vontade dos comerciantes locais. A cachorrinha que motivou toda discussão, na verdade, precisaria ser adotada.
Este tipo de cena tem sido recorrente no município. A Gazeta também recebeu a denúncia de um rottweiller abandonado próximo a um grande supermercado localizado na avenida 31 de Março, em Piracicaba. Outro leitor ligou reclamando de um pit bul amarrado em um poste na região do Jardim Tatuapé. “O animal está lá, sozinho, sofrendo com o forte sol. O pior é que a gente liga para prefeitura, mas ninguém faz nada”, assinala.
Esta situação, como destaca o ativista Cláudio dos Santos, não é fruto apenas da inoperância do Poder Público. Decorre principalmente da postura dos tutores. “Não há guarda responsável no Brasil. Isso ainda não foi, efetivamente, disseminado. A construção de uma relação de amor entre tutor e cachorro ou gato ainda é privilégio de poucos. As pessoas acham que animais são como objetos, com vida útil decidida pelo responsável. Se isso não mudar, não há Zoonoses que dê jeito”.
No papel, existe uma lei aprovada no ano passado, prevendo a criação de um programa municipal de atendimento aos animais. O programa funciona como um órgão de atendimento, com pessoal qualificado da prefeitura quanto a vacinações, vermifugação, castração, cirurgias, patologias diversas e adoção gratuita com o CCZ. Para efetivação deste programa, o Poder Público pode viabilizar campanhas que conscientizem o público da necessidade de esterilização e vacinação.
O projeto foi apresentado pelo vereador Laércio Trevizan Júnior (PR). Segundo o parlamentar, com a lei aprovada, cabe à população civil organizada cobrar a efetiva implementação do programa. “Organizações não-governamentais podem inclusive apresentar projetos pedindo verbas para atividades dentro do programa, como as castrações”, explica. “As pessoas e organizações têm que cobrar da Zoonoses o cumprimento do que está escrito na lei”, completa.
Resposta da Zoonoses
Em comunicado enviado à redação, a Secretaria de Saúde reiterou que o CCZ só sacrifica animais que não possuem mais condições de recuperação. A orientação dada à reclamante (da cachorra do Jardim Esplanada) pelo CCZ foi a de que o animal deve, primeiramente, ser avaliado. Se houver condições de tratamento no Centro, os profissionais o atenderão e cuidarão até a recuperação.
Caso o animal esteja muito ferido e precisando de cuidados específicos, o CCZ orienta a pessoa que o recolheu, e tem a intenção de adotá-lo, a levá-lo a uma clínica particular. Se isso não acontecer e o caso for grave, o animal é sacrificado.
Referente à castração de animais, a Secretaria informa que o 156 protocola o pedido de castração, feito gratuitamente pelo CCZ. Em 2009, cerca de dois mil animais foram castrados.
Fonte: Gazeta de Piracicaba
Nota da Redação: O problema referente à eutanásia e à possibilidade de cuidar ou não de um cão doente ou ferido, é o parâmtro subjetivo de análise para classificar um animal como “sem condições de recuperação”. Desta maneira, é fácil afirmar que a lei está sendo cumprida, mas a decisão de salvar ou não um cão ou gato fica, na verdade, por conta das pessoas envolvidas diretamente no trabalho – o que significa que podem querer, ou não, acreditar nas condições de recuperação do animal. Nem mesmo um laudo médico pode determinar a questão, já que são incontáveis os casos de bichos condenados por veterinários que, graças à decisão de seus tutores, sobreviveram em excelentes condições de vida.