Ele escreveu uma nota para o colega: “Este é o pior mergulho da minha vida”. Rago acabara de analisar as imagens capturadas dos corais da um mês antes , Quando eles começaram a filmar, o ritmo da destruição ficou muito claro. “Foi como uma pancada no rosto”, disse.
Rago estava na fase final da filmagem do novo documentário da Netflix, “Chasing Coral”, que mostra como as mudanças climáticas estão devastando nossos ecossistemas subaquáticos.
O filme não disfarça o estado atual de nossos oceanos, explicando que, nos últimos 30 anos, o mundo perdeu a metade de seus corais, principalmente por causa do branqueamento: um fenômeno natural que ocorre quando as temperaturas dos oceanos aumentam e as cores dos corais se tornam brancas.
O diretor de “Chasing Coral”, Jeff Orlowski, também dirigiu “Chasing Ice”, o documentário de 2012 que mostrou o derretimento de geleiras no mundo. O novo filme possui especialistas, mergulhadores veteranos e cientistas que documentaram o branqueamento de corais da Flórida (EUA) a Papua Nova Guiné.
Orlowski disse que nunca havia visto um cientista chorar diante das câmeras até rodar seu filme: “Acredito que todos eles compreenderam o poder das imagens”, observou.
Corais felizes podem viver milhares de anos. Suas cores marcantes se originam das algas que vivem dentro de seus tentáculos. Eles lhes fornecem abrigo e as algas oferecem alimento. Quando as temperaturas aumentam – apenas alguns graus são suficientes – as algas tornam-se desconfortáveis e destrutivas, e os corais as expulsam, reduzindo seus hospedeiros a esqueletos sem cor e famintos. A menos que o ambiente se torne mais temperado e as algas retornem, os corais morrerão de desnutrição.
Os recifes de corais, também conhecidos como florestas de corais, criam um ecossistema subaquático do qual 25% de toda a vida marinha depende para se alimentar e encontrar abrigo. Mas isso está mudando à medida que os oceanos são quentes.
Segundo o Mother Jones, a Grande Barreira de Corais – uma floresta de corais que é maior que a Grande Muralha da China – teve dois eventos negativos de branqueamento, que prejudicaram 67% do recife nos últimos dois anos.
“Chasing Coral” ajuda a perceber a relação entre o estado dos oceanos e o futuro da vida terrestre. O oceano absorve 93% do calor extra que fica preso pelas emissões de gases de efeito estufa, causadas principalmente por seres humanos que queimam combustíveis fósseis como o carvão e o petróleo. Se essa absorção não ocorresse, a temperatura média acima da água seria de 50 graus.
Depois de encerrar o filme, Rago admitiu que aquele não era o pior mergulho de sua vidam, mas sim quando sua equipe voltou para Lizard algumas semanas depois e a mesma floresta de corais parecia um cemitério: “Não havia nada vivo”, desabafou.