A toxoplasmose é uma doença infecciosa de alta incidência mundial, mesmo em países desenvolvidos. Isso porque o protozoário Toxoplasma gondii, causador da doença e eliminado pelas fezes dos felídeos, principalmente dos gatos domésticos, é facilmente transmitido às pessoas. Além de sua forma congênita, o simples contato com superfícies contaminadas pelo parasita ou a ingestão de alimentos infectados – especialmente carnes cruas ou mal passadas – são vias frequentes de contágio.
Para possibilitar maior controle da doença, o veterinário Marcos de Assis Moura, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), vem desenvolvendo, com apoio da FAPERJ, o projeto Estudo do ciclo biológico do Toxoplasma gondii em culturas primárias de enterócitos de gato doméstico.
Sob a orientação das pesquisadoras Helene S. Barbosa e Maria Regina Amendoeira, ambas da Fiocruz, Marcos Moura desenvolveu um modelo de cultivo in vitro de células intestinais de gato doméstico.
– Este método pode ser o primeiro passo para a realização de pesquisas sem a utilização de animais adultos vivos e pode abrir caminho para novas estratégias de controle da doença – afirma o veterinário.
De acordo com Marcos, a reprodução sexuada do protozoário causador da toxoplasmose acontece somente no intestino dos felídeos. Ali são produzidos os oocistos (ovos), que, depois de eliminados pelas fezes dos animais, contaminam água, solo, planta, outros animais e o homem.
– Nosso modelo experimental é capaz de reproduzir esse ciclo. Infectamos as culturas de células intestinais de gatos com o parasito, que evoluiu até a formação dos gametas. Isto nunca havia sido conseguido in vitro – comenta.
Segundo o veterinário, estabelecer um modelo experimental adequado, que reproduza, em tubo de ensaio, as condições do ambiente onde acontecem os diversos estágios evolutivos do ciclo sexuado do Toxoplasma gondii, não foi tarefa fácil. Após tentativas infrutíferas com gatos adultos, Marcos e equipe encontraram o modelo certo, com células de fetos de gatos, doados pela Universidade Castelo Branco (UCB/RJ).
– Como o gato adulto tem muito contato com o meio externo, seu epitélio intestinal abriga diversos microorganismos e é de difícil descontaminação. Já o dos fetos é descontaminado e apresenta alta capacidade multiplicativa. O modelo poderá servir de base para pesquisas mais complexas sobre a doença, sem a necessidade de modelos vivos, o que, além dos benefícios éticos, representa ganhos de capacidade de logística.
Com isso, Marcos pretende entender o porquê de o ciclo sexuado do Toxoplasma gondii acontecer somente no intestino dos felídeos.
– Quando descobrirmos o motivo para que o ciclo sexual deste protozoário aconteça apenas nos felídeos, isso possibilitará o desenvolvimento de novas vacinas ou medicamentos para aplicação em gatos, para que assim se possa interromper o ciclo reprodutivo do parasito – explica.
A toxoplasmose é uma doença assintomática em cerca de 80% dos casos. Torna-se mais grave quando contraída por pessoas com baixa imunidade ou transmitida de forma congênita, ou seja, da mãe para o feto, podendo causar retardo mental, cegueira, problemas oculares e até provocar um aborto espontâneo. A doença, no entanto, não é transmissível de uma pessoa para outra, embora já tenha sido constatada a transmissão por transfusão sanguínea e pelo transplante de órgãos de pessoas infectadas.
O diagnóstico da toxoplasmose é feito levando em conta exames clínicos e exames laboratoriais de sangue, pela pesquisa de imunoglobulinas, como a IgM e IgG.
Fonte: ABN News