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INSALUBRIDADE

Novas evidências confirmam que Covid-19 teve como origem o abuso, a exploração e o cativeiro de animais silvestres

17 de março de 2023
4 min. de leitura
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Foto: Creative Commons

Há três anos, o mundo tenta descobrir a origem do vírus SARS-Cov-2, causador da covid-19. Pois esta semana, uma equipe internacional de especialistas em vírus acrescentou evidências de que a pior pandemia em um século pode ter sido iniciada por um animal infectado que estava sendo negociado através do comércio ilegal em um mercado de Wuhan, na China.

Conforme relatado em primeira mão pelo The Atlantic, uma nova análise de sequências genéticas coletadas no local relaciona cães-guaxinim, vendidos de forma ilícita, ao coronavírus.

Os dados genéticos foram extraídos de zaragatoas colhidas dentro e ao redor do Mercado Atacadista de Frutos do Mar de Huanan a partir de janeiro de 2020, logo depois que as autoridades chinesas fecharam o estabelecimento devido a suspeitas de que ele estava ligado ao surto de um novo vírus.

Segundo o jornal The New York Times, na ocasião, os animais já haviam sido retirados, mas pesquisadores coletaram amostras de paredes, pisos, gaiolas de metal e carrinhos de transporte. Nas que deram positivo para o SARS-Cov-2, a equipe encontrou material genético pertencente a animais, incluindo grandes quantidades que eram compatíveis com cães-guaxinim.

A reportagem deixa claro que a mistura de material genético do vírus e dos animais não prova que um cão-guaxinim em si foi infectado. E, mesmo que tenha sido, também não fica claro se ele espalhou o patógeno para as pessoas.

Apesar disso, o trabalho estabeleceu que os animais depositaram assinaturas genéticas no mesmo local onde o material genético do vírus foi deixado. E essa evidência, garantiram os especialistas, é consistente com um cenário em que o vírus tenha se espalhado para humanos a partir de um animal selvagem.

Jeremy Kamil, virologista do Centro Shreveport de Ciências da Saúde da Louisiana State University, que não participou do estudo, disse ao NYT que as descobertas mostram que “as amostras do mercado que continham linhagens iniciais de covid estavam contaminadas com leituras de DNA de animais selvagens”.

Ele acrescentou que faltam evidências conclusivas de que um animal infectado tenha desencadeado a pandemia, mas que os dados “realmente destacam o comércio ilegal de animais de uma maneira íntima”.

Sem a colaboração da China

A reportagem destaca que cientistas chineses divulgaram um estudo analisando as mesmas amostras do mercado em fevereiro de 2022. Esse trabalho mostrou que elas eram positivas para o coronavírus, mas sugeriam que o vírus vinha de pessoas infectadas que faziam compras ou trabalhavam no mercado, e não de animais sendo vendidos lá.

Os dados brutos da análise foram publicados no GISAID, um repositório internacional de sequências genéticas de vírus. Em 4 de março, Florence Débarre, bióloga evolutiva do Centro Nacional Francês de Pesquisa Científica, estava pesquisando esse repositório em busca de informações relacionadas ao mercado de Huanan quando notou mais sequências do que o normal.

A especialista, então, alertou outros cientistas, incluindo os líderes de uma equipe que publicou um conjunto de estudos no último ano apontando o estabelecimento chinês como origem da pandemia. A partir daí, um grupo internacional, que incluiu Michael Worobey, biólogo evolutivo da Universidade do Arizona; Kristian Andersen, virologista do Scripps Research Institute, e Edward Holmes, biólogo da Universidade de Sydney, começou a explorar os novos dados genéticos.

Uma amostra em particular chamou a atenção deles. Ela foi retirada de um carrinho ligado a uma barraca específica no mercado de Huanan. Holmes averiguou que o local continha cães-guaxinim enjaulados em cima de uma gaiola separada contendo pássaros – exatamente o tipo de ambiente propício à transmissão de novos vírus.

“Conseguimos descobrir com relativa rapidez que, pelo menos em uma dessas amostras, havia muito ácido nucleico (blocos de construção químicos que carregam a informação genética) de cachorro-guaxinim, junto com o ácido nucleico do vírus”, disse Stephen Goldstein, virologista da Universidade de Utah, que trabalhou no estudo.

De acordo com o NYT, os cientistas disseram que, depois que se depararam com os novos dados, procuraram os pesquisadores chineses que haviam carregado os arquivos com uma oferta de colaboração, respeitando as regras do repositório online. Contudo, as sequências desapareceram do GISAID – não está claro quem os removeu ou por quê.

Outros profissionais envolvidos na análise relataram que algumas das amostras também continham material genético de outros animais e de humanos. Mas, Angela Rasmussen, virologista da Organização de Vacinas e Doenças Infecciosas da Universidade de Saskatchewan, no Canadá, que trabalhou no estudo, afirmou que isso era esperado, visto que as pessoas estavam comprando e trabalhando lá.

Fonte: Época Negócios

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