Por Fátima Chuecco (da Redação)
Acuada diante das evidências e numa tentativa de justificar os assassinatos em série, Dalva Lima da Silva, conhecida como a matadora de animais do bairro da Vila Mariana, em SP, confessou à polícia que vem matando cães e gatos há mais de um ano por escassez de adotantes e custos elevados com veterinários. Ela assumiu usar injeções para provocar a morte e que aprendeu o método com um veterinário amigo da família. O ex-marido de Dalva, já falecido, era também médico.
Somada à revelação, uma situação difícil de aceitar: apesar da confissão, ela não está presa, já colocou sua casa à venda e pode estar recolhendo mais vítimas das ruas – preferencialmente filhotes de gatos, que oferecem pouca resistência aos seus métodos de extermínio que ela, ironicamente, chamou de “boa ação”, alegando que estava contribuindo para acabar com o “sofrimento do abandono” e que não sabia que era proibido fazer isso.
Vale lembrar que numa primeira abordagem, na noite do flagrante (12 de janeiro), Dalva confessou ter matado apenas seis dos 37 animais encontrados mortos porque, segundo ela, estavam muito doentes. O detalhe é que os animais eram todos saudáveis. Alguns estavam prontos para a adoção, vacinados e castrados, assim como as milhares de cães e gatos que lhe foram entregues nos últimos treze anos e dos quais ela não soube apontar o paradeiro até o momento.
Foi num segundo interrogatório, dirigido pelo delegado da Divisão de Investigações Contra o Meio Ambiente do DPPC – Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania, José Celso Damasceno Junior que, embora continuasse negando as mortes em massa daquela ocasião, Dalva admitiu “eutanasiar” outros animais que lhe eram entregues há algum tempo por não ter condições de doar ou cuidar deles.
Se já não tinha adotantes e nem podia ficar com os bichos, porque continuava recebendo-os? E porque não os devolvia ou soltava? Segundo o delegado Damasceno, testemunhas relataram que uma das condições impostas por Dalva ao receber os animais era de não devolvê-los jamais.
Câmara do Terror
O caso conta com oito depoimentos de pessoas que entregaram cães e gatos à Dalva ou que conviveram com ela, como uma faxineira que alguns anos atrás viu animais sendo entregues na casa e tinha conhecimento de um quarto sem janelas onde Dalva provavelmente cometia os crimes. Por que alguém teria em casa um cômodo sem janelas? A testemunha disse que era proibida de entrar no recinto, mas que nas raras ocasiões em que foi convocada para limpar o quarto encontrou fezes, urina e sangue.
Alice Queiroz, filha de Dalva, hoje com 22 anos, estava morando em um quarto no subsolo da casa localizada à Rua Mantiqueira, 168. “É uma área reservada, inclusive com grades, que indicava que a moça buscava privacidade e certa distância da mãe. Não foram encontrados indícios de que Alice participava das mortes e por essa razão ela não foi indiciada junto com a mãe”, comenta o delegado.
Ele explica que na hipótese de Alice ter ciência do que Dalva fazia, ela não pode ser enquadrada como cúmplice porque não há provas de sua participação direta. A ausência de indícios e testemunhas de seu envolvimento na morte dos bichos a protegeu, até o momento, de também ser indiciada.
Magia Negra ou comércio de carnes?
Damasceno conta que na casa não havia objetos ou qualquer outra indicação de que Dalva é uma seguidora de Magia Negra ou de outras seitas que fazem sacrifício com animais. “Não havia nada que pudesse sugerir rituais”, conta. Além disso, na época noticiou-se que um dos gatos tinha farofa na boca mas, conforme o delegado, era vômito.
A extração de sangue dos animais e venda ao mercado negro de transfusão é improvável, como levantado quando o caso veio à tona, porque exigiria um equipamento sofisticado de armazenamento que não foi encontrado. Também não houve relatos e nem provas de que os animais pudessem estar sendo vendidos a restaurantes orientais. A hipótese mais provável é que a motivação de Dalva seja compulsão por matar uma vez que há crimes em série (ao longo dos anos) já confessados e em massa no dia 12 de janeiro deste ano (37 corpos encontrados numa mesma data).
O que acontece daqui pra frente
Dalva continua solta, mas responderá por crime de maus-tratos, segundo a Lei de Crimes Ambientais 9.605/98. O caso se encontra no Fórum do Jabaquara e o delegado Damasceno aguarda o resultado dos testes toxicológicos para saber quais substâncias Dalva injetava diretamente no coração dos animais com uma agulha de grosso calibre.
Todos os animais achados em sacos de lixo e dentro da casa de Dalva foram mortos por esse método, dentre eles, uma cachorrinha que havia sido entregue na casa dela algumas horas antes e que continha várias perfurações no corpo. Inclusive, foi noticiado na ocasião que se tratava de uma cachorrinha grávida, mas o delegado afirma que ela estava inchada e que alguns animais já estavam começando a cheirar mal. Portanto, talvez tenham sido mortos num período de dois dias seguidos e embalados juntos para a noite da coleta de lixo na rua.
Diante do esclarecimento do delegado, fica difícil saber o que é pior: a morte de tantos animais jovens e saudáveis ou a falta de uma punição efetiva e adequada para casos como esse. Por conta disso, alguns grupos estão mobilizando a sociedade para que a Lei seja mudada, ampliando-se a pena de três meses a um ano para punições mais severas. Em países como Estados Unidos e Inglaterra, no mínimo, o agressor perde o direito de manter animais e pode perder também o direito sobre seu próprio bicho de estimação se demonstrar que não tem capacidade de zelar pela segurança e saúde do mesmo.
“Lamentavelmente, a lei brasileira não faz distinção entre matar um ou cem animais. Para cada humano que uma pessoa mata há uma punição prevista, mas no caso dos animais, tanto faz o criminoso ter exterminado vários ou apenas um. Ele será julgado por maus-tratos sem agravante por conta do número de mortes que causou e ainda pode sair praticamente ileso pagando multa e cumprindo pena com algum serviço social”, argumenta.
Assim que os exames toxicológicos ficarem prontos, Damasceno concluirá e relatará o inquérito policial ao Juiz para que o processo seja encaminhado ao Ministério Público Criminal. Houve também denúncia formal junto à Promotoria da Infância e Adolescência para apuração de possível crime contra a criança uma vez que a filha mais nova de Dalva, de cinco anos de idade, também residia na casa e pode ter sofrido trauma ao ver animais mortos ou sendo torturados.
Todos podem ajudar
Com leis que não punem devidamente os agressores ou matadores de animais no Brasil e diante de um processo que pode ainda levar alguns meses, todos podem contribuir de alguma maneira para que Dalva não capture mais vítimas:
1) Qualquer pessoa que testemunhar Dalva ou sua filha capturando animais pode chamar a polícia imediatamente. Como ela aguarda processo por maus-tratos e, inclusive, teve que entregar nove animais que estavam vivos em sua casa (atualmente sob a guarda da ONG Adote um Gatinho), de maneira alguma ela pode pegar novos animais. Como ela própria disse ao delegado não ter condições financeiras de cuidar deles e nem de arranjar adotantes, qual seu intuito de levar mais bichos para casa? Acionar a polícia (no momento do flagrante) é algo que todos podem e devem fazer.
2) É importante checar endereço para onde animais são doados e fazer visitas periódicas ao local. Protetores de Animais, a partir desse caso, devem redobrar os cuidados. O fato de muitos animais serem entregues à Dalva sem qualquer comprometimento das pessoas de averiguarem seu destino permitiu que ela agisse impunemente todo esse tempo. A divulgação da foto da Dalva nas redes sociais ajuda a manter pessoas menos avisadas sobre o fato.
3) Na maioria dos casos de grande repercussão na mídia surgem boatos. Um deles diz que Dalva estaria recolhendo animais em cemitérios como o da Aclimação. Também se comenta a possibilidade dela estar morando na frente do cemitério da Vila Mariana. As pessoas que moram próximas a esses locais podem ficar atentas e, inclusive, pedir ajuda aos funcionários dos cemitérios para que avisem se vir uma mulher com o perfil da Dalva recolhendo gatos.
4) Dalva mudou de casa e não é aconselhável a depredação de sua nova moradia. Certamente, um portão danificado e paredes pichadas (como ocorreu em sua última residência) representam um prejuízo bastante insignificante perto de tantas vidas que ela roubou de animais indefesos, abatidos de forma tão cruel, mas detonar uma nova moradia só provocará mais uma mudança dela, o que acabará dificultando o monitoramento de seus passos. No entanto, avisar aos vizinhos dela sobre o caso é importante, pois, assim, eles podem denunciar no caso de testemunharem ou desconfiarem de novos crimes.
5) Outras informações relevantes podem ser repassadas à Divisão de Investigações Contra o Meio Ambiente do DPPC, fone (11) 3331-8969 ou diretamente na Av São João, 1247, Centro – SP
Em tempo
Acompanhe, em breve, o lançamento na ANDA da Série “Matadores de Animais – Assim começa a carreira de um psicopata ”, com histórias do Brasil e do Exterior mostrando a estreita e perigosa relação entre pessoas que matam animais (desde a mais tenra idade) e os mais ardilosos matadores em série, que chocaram o mundo com seus rastros de violência.