Nova Zelândia está vacinando aves nativas contra uma cepa altamente evoluída de uma gripe aviária mortal. O país se prepara para a chegada da cepa da H5N1, que ainda não foi registrada na região.
O país está na segunda fase de vacinação em aves nativas, com resultados iniciais sugerindo que pode ser uma linha de defesa eficaz contra a cepa altamente patogênica do vírus H5N1 da gripe aviária. O vírus tem dizimado populações de aves em outros países, e especialistas neozelandeses temem que ele possa extinguir espécies inteiras.
Um pequeno grupo de aves de cinco espécies criticamente ameaçadas – o tacaé-do-sul, cácapo, batuíra-costeira, pernilongo-da-nova-zelândia e um tipo de kākāriki – recebeu duas doses da vacina com um mês de intervalo, começando no final de janeiro, com testes de eficácia de seis meses prestes a começar.
A Nova Zelândia não teve um caso relatado de H5N1, mas as agências governamentais estão implementando uma resposta de biossegurança que inclui o direcionamento de espécies vulneráveis e o aumento da vigilância de aves marinhas selvagens, com foco nas ilhas subantárticas, agora consideradas o caminho mais provável para a doença chegar ao país.
O país da Oceania tem uma maior diversidade de aves marinhas do que qualquer outro lugar do mundo, com dezenas de espécies endêmicas. Cerca de 80% de suas aves nativas estão ameaçadas, como o pega-de-bico-preto e a gaivota de bico vermelho, de acordo com o Departamento de Conservação (DOC). Mais de uma dúzia estão à beira da extinção, incluindo o tara-iti.
O ministro da Biossegurança, Andrew Hoggard, disse que proteger as aves nativas vulneráveis era uma prioridade, pois a gripe poderia ter um impacto severo em espécies já reduzidas. “Não queremos vacinar todas agora, mas precisamos garantir que tenhamos um suprimento pronto. É uma questão de quando, não de se”, explicou Hoggard.
As autoridades acreditam que os condores da Califórnia são a única outra população de aves selvagens que teve um programa de vacinação fora dos zoológicos, iniciado pelos EUA no ano passado.
Milhões de aves em todo o mundo foram mortas por uma mutação do vírus H5N1, antes encontrado principalmente em aves domésticas. Ele chegou à Antártida em fevereiro e fez com que as autoridades australianas corressem para agir. Em algumas áreas, reduziu as populações de aves em 75%. Os sinais da doença incluem fraqueza e convulsões, torção da cabeça e dificuldade para respirar.
Brett Gartrell, professor de saúde da vida selvagem no hospital Wildbase da Universidade Massey, disse que a doença se espalharia rapidamente assim que chegasse à Nova Zelândia. “No passado, costumávamos pensar que ela viria do norte por meio de aves migratórias, mas essa cepa desenvolveu uma afinidade por deixar as aves marinhas muito doentes, então conseguiu saltar da América do Sul para a Antártica”, disse Gartrell. Aves marinhas regularmente voam grandes distâncias pelo Oceano Austral.
“Muitas de nossas espécies nativas já estão em dificuldades, e os resultados seriam trágicos”, acrescentou ele.
A veterinária do DOC, Kate McInnes, está liderando o teste de vacinação. “É bem raro estarmos nos preparando nesse nível antes de algo chegar, mas estamos conscientes de que precisamos acertar. A alternativa é devastadora”, contou McInnes.
A vacina não contém um vírus vivo e não pode causar infecção, explicou a veterinária. Anticorpos foram detectados em todas as aves, um sinal de que a vacina à base de proteínas está funcionando, e não houve reações adversas. Testes contínuos tentarão descobrir quanto tempo a proteção dura.
A equipe de Gartrell está preparando uma unidade de isolamento para aves doentes no hospital Wildbase, em Palmerston North. Qualquer gaivota levada para lá seria sacrificada, mas as diretrizes ainda estavam sendo desenvolvidas em torno do tratamento de espécies criticamente ameaçadas.
Cientistas na Base Scott e nas ilhas subantárticas foram treinados em como coletar amostras e relatar aves mortas como parte de um sistema de alerta precoce, disse a chefe veterinária do governo, Mary van Andel.