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Nova plataforma reúne dados sobre o desaparecimento do Cerrado

A Plataforma de Conhecimento do Cerrado será constantemente atualizada como uma referência nacional no bioma,A Plataforma de Conhecimento do Cerrado será constantemente atualizada como uma referência nacional no bioma

9 de março de 2021
Redação | Giovanna GiRedação | Giovanna Gi
5 min. de leitura
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Imagem da Chapada dos Veadeiros
Foto: Pixabay
  • Uma ferramenta online e colaborativa criada pela Universidade Federal de Goiás no Brasil reúne a maior e mais antiga coleção de dados disponíveis no bioma Cerrado.
  • A Plataforma de Conhecimento do Cerrado será constantemente atualizada como uma referência nacional no bioma, consolidando informações a serem usadas por pesquisadores trabalhando pela preservação e gestão.
  • A plataforma bilíngue inclui dados sobre o desmatamento, uso de solo, biodiversidade e socioeconômica; usuários também podem contribuir em atualizar dados, mapas e informações geoespaciais.
  • Seus criadores disseram esperar que o website promova conhecimento sólido para apoiar pesquisadores na formulação de políticas públicas ou na formulação de programas de conservação de um bioma que já perdeu mais de 50% da sua vegetação natural

Monitorando o processo de desmatamento do Cerrado, o vasto cerrado que confina com a Amazônia no Brasil, tornou-se cada vez mais essencial nas recentes décadas. Esse bioma, a savana com mais biodiversidade do planeta, já perdeu 55% da sua vegetação natural, e sua degradação traz problemas à água e à segurança alimentar no Brasil.

Surpreendentemente, é mais conhecido como “o celeiro do mundo” do que pela sua inestimável contribuição socioambiental.

O desmatamento do Cerrado é impulsionado principalmente por pastagens e produção de soja (usada para alimentar os animais explorados para consumo). Em um esforço para fornecer dados precisos, iluminar a situação e ajuda na tomada de decisões sobre a gestão do bioma, pesquisadores no Processamento de imagem e Laboratório de Geoprocessamento na Universidade Federal de Goiás (Lapig/UFG) lançaram A Plataforma de Conhecimento do Cerrado no final do ano passado.

Ao cruzar dados que incluem imagens aéreas, a ferramenta online, bilíngue e colaborativa ajuda a identificar cronologicamente o uso de terra e o status socioeconômico do bioma, associando fatores físicos, dados sociais e dados da biodiversidade.

“O Cerrado precisa ser urgentemente conhecido, só assim seremos capazes de salvá-lo” disse Ivanilton Oliveira, professor e diretor da UFG Instituto de Estudos Socioambientais, que inclui Lapig. “A devastação é o resultado de ações e políticas públicas, que tem transformado a paisagem da savana em benefício do agronegócio desde 1970. Nós temos que mudar a visão das pessoas sobre a região com um “celeiro”.

De um ponto de vista hidrológico, o Cerrado é a casa de três aquíferos que fornecem água para o Brasil: os aquíferos Guarani, Urucuia e Bambuí. A ecologia do Pantanal, a maior planície de inundação do mundo, depende da água que flui do Cerrado, e a maior parte dos afluentes do sul do rio Amazonas também é originado nesse ecossistema. O bioma também fornece água para consumo humano e agricultura por meio de escoamento superficial, recarga subterrânea e fluxos na atmosfera. É assim que a chuva é formada em várias regiões do país, beneficiando – se da localização central do Cerrado

A Plataforma de Conhecimento do Cerrado foi financiada por instituições financeiras por meio do Fundo de Parcerias para ecossistemas críticos (CEPF) e levou cerca de seis meses para ser desenhada. O esforço colaborativo envolveu a UFG e muitos parceiros, incluindo ONGs, o Ministério da Ciência do Brasil, Tecnologia e Inovação (MCTIC/Inpe), o Ministério Público do estado de Goiás, e o Map Biomas.

O site está dividido em três sub plataformas: socioambiental, imagens aéreas, e desmatamento. Também fornece dados estatísticos desde 1985 até 2019, tutorial de geoprocessamento, coleção de fotos e uma biblioteca digital com livros e artigos científicos relacionados ao bioma. Todas as contribuições vêm de organizações públicas, privadas, acadêmicas e ambientais.

Nessa biblioteca virtual, é possível identificar, por exemplo, conflitos de terra e água denunciados pela Comissão Pastoral da Terra afiliada à Igreja Católica, em territórios indígenas, unidades de conservação, propriedade rurais e território quilombola (comunidade de afrodescendentes). A ferramenta fornece resultados por estado, município ou localização geográfica, de acordo com o interesse dos usuários.

Usuários podem também visualizar uma clara divisão cartográfica da paisagem atual do bioma: a região centro-sul do Brasil tem sido bastante transformada pela pecuária e expansão da fronteira agrícola (dividida pelos principais tipos de culturas, a maior parte delas destinada à alimentação dos animais explorados para consumo humano), que está avançando para a região norte do país, especialmente nos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia (região conhecida coletivamente como Matopiba).

‘Canivete suíço’

Paulo Cícero Lopes, aluno de mestrado em geografia da Unimontes no estado de Minas Gerais, que participou em um dos cursos de treinamento em como usar a Plataforma de Conhecimento do Cerrado, diz que é uma ferramenta muito sólida, intuitiva e clara para quem está procurando por dados precisos.

“Ter tudo em um ambiente possibilita análises não só por organizações ambientais mas também organizações governamentais, já que os dados podem melhorar o planejamento do território”, ele disse. “Eu diria que é um canivete suíço: fornece uma visão geral do Cerrado e nos ajudará a implementar a boa gestão que nós precisamos para os recursos naturais daquele hotspot”, completou.

Manuel Ferreira, professor na UFG e coordenador geral da iniciativa, afirma que o Global Forest Watch foi a sua fonte de inspiração: “É claro, existem várias plataformas fornecendo informações sobre o Cerrado, mas, tendo esse enorme conhecimento em uma única plataformas torna mais fácil para pesquisadores brasileiros e estrangeiros em achar e comparar esses dados.”

Ele diz que a plataforma é inédita no Brasil e reitera a necessidade de agências e instituições em divulgá-la e auxiliar na constante atualização. “Na seção ‘Contribuir com a Plataforma’, há um formulário a ser preenchido e uma área para envio de arquivos. Depois da nossa equipe técnica avaliar o material, ele poderá ser publicado, com os devidos créditos e contexto”, explicou Ferreira.

“Nós pretendemos nos tornar uma referência nacional para aqueles que estão pesquisando sobre o Cerrado. Em três meses, nós já temos muitos conteúdos, mas nós contamos com a contribuição da comunidade acadêmica, órgãos públicos e sociedade civil para a preservação do bioma.”

Os criadores da plataforma já realizaram quatro cursos de treinamento online sobre como utilizar a plataforma, que podem ser achados aqui.

Essa história foi primeiramente relatada pelo time Mongabay do Brasil e publicada na ANDA em 08 de março de 2021.

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