Uma equipe de cientistas e mergulhadores descobriu uma espécie desconhecida de crustáceos sem olhos, pertencente ao gênero Speleonectes, durante uma expedição ao túnel Atlântida, o maior tubo submarino de lava localizado em Lanzarote, nas Ilhas Canárias.
A descoberta, com implicações para a evolução dos crustáceos, será apresentada de forma detalhada na edição de setembro da revista Marine Biodiversity.
A nova espécie, à qual foi dado o nome de Speleonectes atlantida, é morfologicamente semelhante à Speleonectes ondinae, descoberta no mesmo tubo de lava em 1985. Com base em comparações de ADN foi possível concluir que o túnel abriga uma segunda espécie de remípedes, sendo que a clivagem entre as duas pode ter-se dado após a formação do tubo durante a erupção do vulcão Monte Corona (Lanzarote) há cerca de 20 mil anos.
Como não possui olhos, este novo habitante, com um comprimento entre 10 a 20 milímetros, está, como outros remípedes (da classe Remipedia), adaptado para a vida numa caverna sem luz, dispondo de longas antenas na parte da cabeça e de filamentos sensitivos ao longo do corpo. O S. atlantida é ainda hermafrodita (apresenta órgãos sexuais masculinos e femininos).
“Além dos membros que apresenta na cabeça, usados para caçar e perseguir animais com o dobro do tamanho, os remípedes como o S. atlantida também se alimentam por filtragem de partículas. Em outras palavras, são capazes de ingerir diversos tipos de alimentos”, revelou o investigador Stefan Koenemann, da Universidade de Medicina Veterinária de Hannover, Alemanha.
A equipe que procedeu à exploração do túnel de lava, com um comprimento de seis quilômetros, incluía cientistas das universidades americanas A&M do Texas e Pennsylvania State, a universidade La Laguna em Espanha, e das universidades alemãs de Medicina Veterinária de Hannover e de Hamburgo.
Os primeiros espécimes de crustáceos da classe Remipedia foram descobertos em 1979 durante mergulhos no sistema de cavernas sub-aquáticas da Grand Bahama. Desde então, 22 novas espécies foram descobertas. A principal área de distribuição desses animais situa-se entre a península do Yucatan, no México, e atravessa a parte nordeste das Caraíbas.
Porém, duas espécies isoladas geograficamente habitam cavernas na zona oeste da Austrália e Lanzarote. Esta distância entre as espécies leva a questionar a evolução de toda a classe. Foi assim sugerido que os remípedes são um grupo de crustáceos que terá dispersado pelos oceanos do Mesozóico, há mais de 200 milhões de anos.
Fonte: Ciência Hoje