A cena é intrigante e se repete com frequência no Centro Histórico de Petrópolis, Região Serrana do Rio. Cachorros se misturam aos humanos e aguardam a sua vez de atravessar em segurança na faixa de pedestres. Adaptação, observação e até um grau de consciência são algumas das explicações apontadas por especialistas e estudiosos para o comportamento “civilizado” dos animais. No Dia dos Animais, comemorado nesta sexta-feira (14), eles são um exemplo para o próprio homem.
“Eles seguem o fluxo de pessoas. Já se tornou um hábito ir atrás da multidão. Poderiam atravessar em qualquer lugar, mas preferem a faixa”, afirma Benício Pacheco de Assis, de 40 anos, dono de uma banca de jornais na Praça Duque de Caxias, no Centro. No local vivem pelo menos cinco cães que recebem cuidados dos taxistas e outros grupos de pessoas. “Fico aqui o dia todo e a cena se repete diversas vezes”, diz o jornaleiro, se referindo aos “pedestres caninos”.
A veterinária com especialidade em comportamento animal, Christianne Moll, explica que os cães aprendem por experiência e por imitação/observação. “Eles foram ou assistiram a atropelamentos e observaram que a atenção para atravessar as ruas é essencial para sua integridade física”, destaca Moll.
A coordenadora de atividades da ONG AnimaVida, Ana Cristina Ribeiro, acrescenta que estudos apontam que outras espécies também têm esta capacidade. “Todo animal tem seu grau de inteligência e utiliza a observação para sua sobrevivência”, diz ela, acrescentando que este seria o caso dos pombos, que também desenvolveram o hábito de utilizar a sinalização na cidade.
Uma pesquisa científica desenvolvida por Stanley Coren na Universidade Columbia Britânica, no Canadá, aponta que a inteligência dos cachorros é dividida em três níveis: instintivo, adaptativo e aprendizado.
Para Ana Cristina, o que se vê no Centro de Petrópolis é uma prova de inteligência adaptativa, que é quando o animal aprende a resolver problemas conforme a experiência e estímulos recebidos.
Exemplo a ser seguido pelos humanos
Pretinho é um exemplo de cão que não se arrisca. Ele faz parte do grupo que “mora” na Praça Duque de Caxias, que fica próxima a cruzamentos perigosos onde foram registrados dois atropelamentos no ano passado. Para ir de um lado a outro, ele não “corta caminho” e obedece a sinalização.
Alguns motoristas se rendem ao encanto dos animais “conscientes”, como é o caso de Marcello Santos, de 35 anos. “Já parei várias vezes para o cachorro atravessar. É justo, já que ele aguardava na faixa”, brinca. Mas Marcello não acredita que haja lógica neste hábito. Na opinião dele, os animais apenas gostam de acompanhar o movimento das pessoas.
Por inteligência ou puro instinto, o fato é que este comportamento deveria fazer parte também da rotina da população. No ano passado, 120 pessoas foram atropeladas na cidade. Os dados são do 15º Grupamento de Bombeiro Militar. Somente nos dois primeiros meses de 2014, já foram 18 acidentes deste tipo. Parte deles poderia ter sido evitado se a população seguisse o exemplo dos cães.
Fonte: G1