Depois de passar por uma temporada histórica de estiagem, os rios da região amazônica têm registrado níveis melhores, “navegáveis”, nas últimas semanas. O transporte de soja e milho foi retomado com 50% da sua capacidade no rio Tapajós – serviço havia sido suspenso no início de outubro, destaca a Reuters.
O rio Madeira, cuja atividade fluvial havia sido interrompida ainda em setembro, voltou a transportar grãos do oeste de Mato Grosso e Rondônia para terminais de exportação do Amazonas com 100% da capacidade a partir desta semana. Já o rio Negro, que chegou ao ponto mais baixo em 120 anos de medição, voltou a receber navios cargueiros em Manaus.
O g1 detalha que, somente em novembro, o rio subiu mais de dois metros. Na terça-feira, a medição estava em 14,26 metros. A bacia do rio Paraguai, em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, também saiu da classificação de seca.
A seca no Norte do país, que impactou em grande medida a economia baseada no escoamento de produtos via rios, fez ressurgir o debate sobre infraestrutura no Amazonas, aponta a Veja. A região vem ganhando participação nos embarques totais de grãos brasileiros. O impacto só não foi maior porque o país já havia embarcado a maior parte da soja até outubro, explica o InfoMoney.
Já o Um Só Planeta destaca que a seca não impactou apenas a economia. Em todo o Amazonas, mais de 800 mil pessoas foram impactadas pela estiagem. Em toda a Amazônia, 69% dos municípios vêm registrando índices de seca ainda mais intensos que os de 2023.
No Amazonas, o Boletim Estiagem 2024, divulgado pelo governo do estado, indica que mais 850 mil pessoas foram impactadas pela descida das águas, e todos os 62 municípios estão em estado de emergência. Segundo o Serviço Geológico Brasileiro (SGB), a estiagem pode se agravar ainda mais até o mês de dezembro.
Apesar do alívio no aumento dos níveis dos rios, está chovendo menos do que se deveria para este período do ano no Amazonas. O início da estação chuvosa, o “inverno amazônico”, é considerado anormal pela meteorologia.
“As chuvas que deveriam estar caindo nesta época do ano não estão ocorrendo de forma correta. Elas estão irregulares e tudo isso em decorrência do aquecimento anômalo do Atlântico Tropical Norte”, diz Leonardo Vergasta, meteorologista e pesquisador do LABCLIM (Laboratório de Modelagem do Sistema Climático Terrestre) da UEA (Universidade do Amazonas), ao Amazonas Atual.
Segundo o pesquisador, o Oceano Atlântico Tropical Norte está muito aquecido, o que atrasa o posicionamento da ZCIT (Zona de Convergência Intertropical) – sistema que traz bastante chuva para a região.
As alterações climáticas na região também têm posto como incerto o futuro de botos na região de Tefé (AM). Segundo o Mongabay Brasil, em 2023, foram encontradas 209 carcaças de tucuxis e botos-cor-de-rosa, um evento de mortalidade sem precedentes para essas espécies.
A maioria das mortes foi relacionada ao superaquecimento das águas, que chegaram a temperaturas superiores a 40°C. Com uma taxa de reposição anual de apenas 5%, a perda de mais de 200 animais em 2023 representou um impacto significativo para essas populações – cerca de 80% dos animais mortos naquele ano eram botos-cor-de-rosa.
Ambas as espécies de golfinhos de água doce da Amazônia estão na lista vermelha de espécies ameaçadas da União Internacional para Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN).
Fonte: ClimaInfo