Desde a descoberta de buracos na camada de ozônio, em 1985, países se mobilizam para propor ações visando a recuperação da atmosfera e o controle do efeito estufa. Agora, 40 anos após as primeiras políticas ambientais para conter o problema, o controle de danos parece finalmente começar a surtir efeito. É o que indica uma pesquisa publicada nesta semana na revista Nature Climate Change.
O levantamento, conduzido na Universidade de Bristol, no Reino Unido, indica que, pela primeira vez na história recente, houve um declínio notável nos níveis de substâncias que destroem a camada de ozônio que reveste a atmosfera da Terra. Esses gases atmosféricos, que estão entre 20 km e 35 km de altitude, ajudam a bloquear a passagens de raios ultravioletas, que favorecem o aumento das temperaturas no planeta.
“Esta é uma notícia muito boa. A projeção mais recente, feita em 2022, previa que os níveis de poluentes não começariam a cair antes de 2026”, destaca Luke Western, pesquisador que liderou o estudo, em artigo para o site The Conversation.
A importância dos tratados ambientais
Os cientistas que assinam a pesquisa atribuem os ganhos a tratados ambientais assinados entre os países desde a década de 1980 — em especial, o Protocolo de Montreal ratificado por todos os membros da ONU em 2017.
O Protocolo de Montreal proibiu a liberação de gases de efeito estufa no mundo todo. Isso obrigou os países a pensarem em alternativas aos clorofluorcarbonos (CFCs) — que, até então, eram amplamente usados na fabricação de câmaras frigoríficas, aerossóis, espumas e embalagens — e alteram a composição da camada de ozônio.
Hoje, esses produtos contêm gases como o propano que, embora inflamável, não esgota o ozônio na atmosfera quando é liberado. Para a produção de sistemas de refrigeração e ar condicionado, uma alternativa para substituir os CFCs foram os hidroclorofluorocarbonetos (HCFCs).
Os HCFCs também contêm cloro, componente dos CFCs por trás dos danos à camada de ozônio. O gás, porém, possui um potencial de destruição bem menor – seria necessário libertar cerca de dez vezes mais HCFC para ter um impacto comparável ao dos CFCs.
Mesmo assim, o fato é que ambas as alternativas são fontes importantes de gases de efeito de estufa. O mais usado dos HCFCs, o HCFC-22, tem um potencial de impacto 1.910 vezes maior que o do CO2 no aquecimento global. Assim, à medida que alternativas aos HCFCs começaram a surgir, o Protocolo de Montreal ganhou alterações para eliminar gradualmente também os HCFCs.
Esse corte ainda está em curso, e a meta para acabar com a maior parte da produção de HCFC a nível global está definida para 2030, permitindo apenas quantidades muito pequenas até 2040. O estudo mais recente notou a exatamente esse movimento.
Após atingir o seu ápice em 2021, os níveis de HCFC na atmosfera caíram um pouco menos de 1% em 2023. Ainda que os números ainda não sejam tão expressivos, isso demonstra uma tendência em direção ao caminho certo.
Para chegar aos resultados, a equipe reuniu dados de observatórios atmosféricos em todo o mundo, como o Advanced Global Atmospheric Gases Experiment (AGAGE), da Universidade de Bristol, e medições da Administração Oceânica e Atmosférica (NOAA), órgão do governo americano.
“Este estudo destaca a necessidade nos mantermos vigilantes e proativos em nosso monitoramento ambiental, garantindo que outros gases controlados de destruição da camada de ozônio e de efeito estufa sigam uma tendência semelhante, que ajudará a proteger o planeta para as gerações futuras”, afirmou Isaac Vimont, coautor do estudo, ao em comunicado.
Atenção necessária
Apesar dos níveis de HCFC na atmosfera estarem em queda, essa mesma tendência não vale para todas as substâncias que destroem a camada de ozônio. Segundo Western, em 2019, ele e sua equipe encontraram provas de que o CFC-11, que integra produtos como espumas para isolamento, ainda era usado em partes da China, apesar da proibição global da sua produção.
O pesquisador alerta também para uma brecha no Protocolo de Montreal: “Em 2023, os níveis de CFC aumentaram na atmosfera. Em vez da produção ilegal, este aumento foi provavelmente o resultado de uma lacuna na legislação que permite a produção de CFC quando usado para fabricar outras substâncias, como plásticos”.
O estudo também demonstrou que alguns tipos de HCFCs presentes em níveis muito baixos na atmosfera estão aumentando ou não diminuindo com rapidez suficiente — apesar de terem pouca ou nenhuma aplicação conhecida na indústria. A equipe desconfia que a maior parte dos poluentes que continuam a aumentar na atmosfera são liberados na produção de fluoropolímeros ou hidrofluorocarbonetos (HFC).
Dá para ter esperança?
“Ao descobrir a queda nos níveis atmosféricos de HCFC, sinto que podemos estar prestes a virar a última esquina no esforço global para reparar a camada de ozônio”, declara Western. “Ainda há um longo caminho a percorrer antes de voltar ao seu estado original, mas agora existem boas razões para estarmos otimistas”.
Na visão do pesquisador, embora “clima” e “otimismo” sejam palavras raramente vistas juntas, com políticas em vigor focadas na eliminação progressiva dos gases de efeito estufa, é possível ter esperança. Como o estudo conclui, os acordos ambientais e a cooperação internacional são chave para combater as alterações climáticas.
Fonte: Revista Galileu