Após quase 25 anos observando as praias arenosas de Sekania, na ilha de Zakynthos, um dos mais famosos locais de nidificação de tartarugas marinhas do mundo, a especialista em desenvolvimento sustentável, Charikleia Minotou, testemunhou tanto neste ano quanto no ano passado um número recorde de ninhos e filhotes sobreviventes da tartaruga-comum, à medida que a espécie faz um ressurgimento extraordinário.
“A mensagem que as tartarugas marinhas estão enviando é muito clara”, disse Minotou, que coordena o programa do WWF na área protegida, em entrevista ao The Guardian. “E é que as medidas que tomamos ao longo dos últimos 25 anos para garantir que as condições sejam adequadas para que as tartarugas marinhas nidifiquem aqui estão funcionando… É fantástico.”
Uma das espécies mais antigas ainda existentes, acredita-se que as tartarugas marinhas existam há mais de 100 milhões de anos. Embora altamente migratórias – ao longo da vida, esses répteis cruzam milhares de quilômetros de mares e oceanos – as fêmeas sempre retornam como adultas maduras, cerca de 20 a 25 anos depois, ao habitat onde nasceram para pôr seus ovos. É um ciclo reprodutivo que acontece com sincronia perfeita. Em Sekania e em outros locais de nidificação em Zakynthos e ao redor da Grécia, tartarugas marcadas ao nascer por biólogos há 25 anos agora reaparecem para nidificar.
“É extremamente emocionante”, expressou Minotou, que destaca a importância dos avanços tecnológicos, incluindo a instalação de câmeras de segurança, para ajudar a afastar gaivotas, caranguejos fantasmas e outros predadores.
“Este ano, mais de 1.200 ninhos foram registrados em Sekania, o que representa um a cada 50 cm de praia. Um número incrível”, contou ela.
Da Espanha até Chipre, o Mediterrâneo testemunhou um aumento recorde na nidificação de tartarugas marinhas, uma prova dos esforços meticulosos de ambientalistas determinados a salvar uma antiga espécies que, não muito tempo atrás, estava à beira da extinção. Apenas uma em cada mil tartarugas marinhas filhotes chega à idade adulta, tornando a recuperação ainda mais notável.
Na Grécia, que abriga 60% dos ninhos de da espécie, o renascimento tem sido fenomenal: de uma média de 5 mil a 7 mil ninhos por ano, desde 2023 mais de 10 mil ninhos foram registrados anualmente, de acordo com Archelon, a Sociedade de Proteção das Tartarugas Marinhas da Grécia.
“Durante os anos 2000, estávamos registrando declínios anuais de cerca de 6% em Creta, por exemplo”, disse a Dra. Aliki Panagopoulou, coordenadora de pesquisa da Archelon. “Agora estamos vendo um aumento dramático no número de ninhos, resultado de décadas de esforços de proteção. Nossa estratégia sempre foi garantir que o maior número possível de filhotes chegue à água e seja recrutado para a população.”
Trinta anos atrás, antes da criação de uma área de proteção financiado pelo estado em Zakynthos – o maior local de nidificação de tartarugas marinhas do país, depois da baía de Kyparissia, no Peloponeso – as autoridades gregas pareciam alheias à situação de uma espécie cuja sobrevivência agora é amplamente reconhecida como vital para os ecossistemas marinhos e a biodiversidade ecológica da região.
Poucos têm memórias mais vívidas dos perigos que essas criaturas enfrentavam do que Lily Venizelos, que fundou a Medasset, a Associação Mediterrânea para Salvar as Tartarugas Marinhas, com sede no Reino Unido, nos anos 1980.
A ativista, agora com mais de 90 anos, passou anos fazendo lobby junto a sucessivos governos gregos para legislar políticas que protegessem a tartaruga-comum da então incipiente ameaça do turismo e de outros perigos representados por hélices de lanchas, mobiliário de praia e atividades humanas em habitats de tartarugas marinhas.
“Passei anos, quando elas estavam ameaçadas, correndo por diferentes ministérios com pedaços de papel porque, naquela época, ninguém se importava em ouvir”, lembrou Lily. “É a notícia mais maravilhosa, na minha idade, descobrir que as Caretta caretta não estão mais tão ameaçadas, mas é crucial que as medidas de proteção continuem sendo aplicadas. Um movimento em falso e tudo pode se perder.”
O número recorde de turistas visitando a Grécia – até 2028 o país pretende atrair 40 milhões de turistas, quase quatro vezes sua população – e o apelo das empresas de viagens que anunciam “tours da última chance” para locais ameaçados pelas mudanças climáticas e pelo turismo excessivo eram “catastróficos”, de acordo com ela. “Por um lado, a UE quer proteger a espécie e, por outro, as organizações estão levando turistas nesses ‘tours da última chance’”, lamentou Venizelos. “Não faz sentido nenhum.”
“Não há dúvida de que, em todo o Mediterrâneo, o aumento da população de tartarugas-comuns é uma reação da natureza a todos os esforços de conservação das ONGs nas últimas décadas”, disse Nadia Andreanidou, responsável pelos programas e políticas da Medasset. “Mas agora, mais do que nunca, precisamos do apoio do governo para implementar as leis pelas quais lutamos, se quisermos manter o ímpeto e manter este animal extraordinário fora de perigo. As ameaças ainda estão muito presentes, e tudo isso pode facilmente se desfazer.”