Analistas ambientais do Instituto Chico Mendes (ICMBio) monitoram, na Floresta Nacional (Flona) de Carajás, no Pará, um ninho descoberto no alto de uma castanheira na Flona, onde está um filhote de gavião real recém-nascido. O gavião real ou harpia é considerado o mais poderoso predador entre as aves de rapina do mundo. É uma espécie rara e encontra-se hoje praticamente restrito à Floresta Amazônica, em virtude da perda de habitat, caça e tráfico de animais.
Três dias atrás, um grupo de alpinistas, sob o comando da direção da Flona, subiu em árvores ao lado da castanheira de 40 metros de altura, onde está o ninho, para fazer uma observação mais de perto do filhote. O grupo constatou que ele está bem. “A idéia é monitorar a evolução do animal”, explica o chefe da Floresta Nacional de Carajás, Frederico Drumond.
A imponência do gavião real não está apenas no seu porte – mede quase um metro altura, tem mais de um metro de comprimento e dois metros de envergadura e pode pesar até dez quilos –, mas, principalmente, na sua incrível força e ferocidade. Um gavião adulto pode carregar um animal de mais de dez quilos. Suas garras são tão poderosas (a unha chega a medir sete centímetros) e sua força tão grande, que ele consegue, em pleno vôo, arrancar uma preguiça da árvore ou um carneiro do chão.
EXPEDIÇÃO – O grupo de analistas percebeu sinais da existência do filhote durante expedição científica realizada em fevereiro, juntamente com outros pesquisadores, para observar o ninho, o qual foi descoberto em outubro do ano passado por folheiros extrativistas de jaborandi, na região do igarapé Bahia, no mosaico de unidades de conservação de Carajás. Eles avisaram ao chefe da Flona e desde então o local é monitorado pelo ICMBio.
O chefe da Flona, que é biólogo e integrou a expedição, disse que a observação realizada no local, no dia 25 de fevereiro, sugere que o filhote nasceu bem. A fêmea saiu da posição de choco e ficou fora do ninho por uma hora, voltando com uma caça e ainda protegendo o ninho da chuva. “Contudo, precisaremos realizar novas observações do alto da árvore para confirmar a situação do filhote”, informa Drummond.
Embora descoberto em outubro, o ninho passou a ser observado de forma sistemática e intensa apenas a partir de dezembro. E, apesar de se somar mais de 50 horas de observação, ainda não foi possível visualizar bem o filhote. Os analistas garantem, no entanto, que, pela movimentação da fêmea e do macho no ninho, o recém-nascido está no local. Semanalmente, há observações por terra, e, eventualmente, um escalador vai ao alto de uma árvore, em busca de uma melhor visão.
As observações indicam que o acasalamento ocorreu entre os dias 25 e 26 de dezembro e que a fêmea começou a postura entre 30 de dezembro e 7 de janeiro. Durante o período de postura, a fêmea permaneceu dentro do ninho sendo alimentada pelo macho. Com base em dados levantados em pesquisas feitas com gaviões reais criados em cativeiro, o chefe da Flona supõe que a eclosão do ovo ocorreu depois do dia 20 de fevereiro.
REALEZA – A realeza do nome se deve à aparência do gavião – asas brancas, cauda e um colar em torno do pescoço negro, peito branco e cabeça ornada por um cocar cinza e macio, do qual despontam dois conjuntos de penas maiores, semelhantes a chifres ou a um topete. Suas asas são largas e redondas, as pernas curtas e grossas e os dedos extremamente fortes, onde se destacam as enormes garras.
A ave tem um assobio longo e estridente. Voa alternando rápidas batidas de asas com planeio. Quando ataca uma presa, torna-se veloz e possante. Avessos a mudanças de habitat, os gaviões reais alimentam-se de animais como preguiças, macacos, filhotes de veado e caititu, aves como araras e serpentes. A harpia está no topo da cadeia alimentar (não tem outros predadores a não ser o homem).
Normalmente, os gaviões reais reproduzem-se de junho a dezembro. O casal escolhe sempre as árvores mais altas para fazer o ninho, refeito a cada período de reprodução, que normalmente ocorre de dois em dois anos. Geralmente, a fêmea coloca um ovo. A incubação dura em torno de 56 a 58 dias. O filhote é alimentado pelos pais e aprende a voar com cerca de 6 a 8 meses.
De acordo com o chefe da Flona de Carajás, a maior ameaça à espécie é a fragmentação de habitats, gerada pelo desmatamento. A ave de rapina depende de uma grande área para sobreviver, sendo seu território estimado entre 100 e 800 hectares.
O Plano de Ação Nacional para Conservação de Aves de Rapina, publicado pelo ICMBio em 2008, recomenda a proteção de áreas de nidificação (feitura dos ninhos) e atividades de educação ambiental para a conservação da espécie. A publicação registra a existência de 21 ninhos de harpia na Amazônia Legal até 2006. Os ninhos da Flona de Carajás não estão incluídos nessa estatística.