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AMADOS E PROTEGIDOS 

Nem nas ruas, nem doméstico: essa cidade é a mais felina do mundo com 250 mil gatos cuidados por todos

Com dispensa oficial de ração, casinhas nas calçadas e cuidado comunitário, cultura, fé e história moldaram uma convivência única entre moradores e gatinhos

21 de novembro de 2025
Raony Salvador
2 min. de leitura
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Foto: Flickr

Uma das primeiras coisas que qualquer visitante percebe é que Istambul vive em duas frequências. De um lado, o ritmo frenético das barcas, dos bazares e das ruas cheias. Do outro, o compasso lento e absolutamente seguro de cerca de 250 mil gatos espalhados pela cidade como se fossem moradores registrados em cartório.

Esses gatos transitam por praças, restaurantes, lojas e mesquitas com a naturalidade de quem sabe que pertence ao lugar. Não são animais abandonados. Tampouco são exatamente pets. Em Istambul, eles formam uma categoria própria: os gatos do bairro. Na porta de uma padaria, sempre há alguém deixando água fresca; na entrada de um mercado, tigelas de ração aparecem todos os dias. E se um gato decide entrar no café para tirar um cochilo na cadeira mais confortável, ninguém contesta.

A devoção não é nova. Desde os tempos otomanos, os gatos são tratados com respeito e carinho, influenciados pela tradição islâmica e por histórias envolvendo o Profeta Muhammad e seu gato Muezza. Essa relação antiga transformou o cuidado coletivo em cultura urbana: casinhas de madeira espalhadas pelas calçadas, moradores que pagam consultas veterinárias, açougueiros que separam um pedaço especial de carne para um gato específico.

O poder público acompanha o movimento. Parques ganharam dispensadores automáticos de ração, e cada distrito mantém serviços de castração e atendimento básico para animais de rua.

Até a cena cultural da cidade abraçou o tema. A 18ª Bienal de Istambul escolheu “O Gato de Três Pernas” como tema central, transformando o felino em metáfora de resistência e adaptação. Em galerias e museus, relatos sobre gatos sobreviventes circulam com a mesma intensidade de obras e performances.

A verdade é que nenhum turista sai de Istambul sem levar ao menos uma foto de um gato no celular. Eles aparecem em muralhas bizantinas, nos trilhos dos bondes, em livrarias, no colo de desconhecidos que pararam apenas para fazer um carinho rápido. Em meio à agitação da maior cidade da Turquia, os gatos oferecem algo raro: um instante de calma.

Talvez esse seja o segredo de Catstanbul. Entre ruídos de mercado, cheiro de especiarias e embarcações cruzando o Bósforo, os gatos lembram que há outra forma de ocupar o mundo — mais suave, mais lenta, mais atenta. E a cidade, ao que tudo indica, aprendeu isso com eles.

Fonte: Revista Fórum

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