Relatório publicado em 16 de janeiro pelo Centro de Combate ao Ódio Digital (CCDH) revelou que o YouTube está ganhando milhões de dólares por ano com publicidade em canais que disseminam desinformação sobre mudanças climáticas.
Organização sem fins lucrativos que monitora o discurso de ódio online, o CCDH usou inteligência artificial para revisar a transcrição de 12.058 vídeos de 96 canais do YouTube que publicaram conteúdo sobre o tema.
Como o YouTube, seguindo a política do Google, proíbe a monetização (ganho de dinheiro com publicidade online) de vídeos que neguem o aquecimento global e seu vínculo com gases de efeito estufa, a análise indicou que os criadores de conteúdo com falsas alegações sobre o tema estão usando novas táticas para driblar as políticas da plataforma destinadas a combater a desinformação.
Por exemplo, sustentam que energias eólica e solar são ineficazes, que a elevação do nível do mar beneficia recifes de coral e que cientistas do clima são corruptos e alarmistas. Tais tópicos já representariam 70% de todas as alegações de negação do clima publicadas no YouTube, contra 35% em 2018.
Opinião pública
Imran Ahmed, CEO e fundador do CCDH, acredita que a mudança de tática se deve ao fato de que a opinião pública está cada vez mais convencida de que a mudança climática é real e está prejudicando os ecossistemas do planeta. “Como os impactos da crise climática – com ondas de calor escaldantes e tempestades ferozes – afetam uma faixa mais ampla da população global, as narrativas que negam a existência da mudança climática estão se tornando menos eficazes.”
Mas essa nova negação climática, ele prossegue, não é menos deletéria. Ao contrário, pode “ter uma enorme influência sobre a opinião pública a respeito da ação climática nas próximas décadas.”
O relatório do CCDH aponta que o YouTube ganhou até US$ 13,4 milhões por ano com anúncios em vídeos sobre negação das mudanças climáticas. O trabalho também indicou que os vídeos contendo negacionismo climático receberam mais de 325 milhões de visualizações no período analisado. Dentre os canais com maior número de assinantes estão o de Jordan Peterson (7,64 milhões), BlazeTV (1,92 milhão) e PragerU (3,21 milhões).
Depois de analisar o relatório do CCDH, porta-vozes do YouTube reconheceram que alguns vídeos incluídos no estudo violaram as políticas de mudança climática da plataforma. Em contrapartida, alegaram que a maioria do material seguiu suas políticas.
Pesquisa da emissora Euronews mostrou que, no Reino Unido, quase um terço dos adolescentes de 13 a 17 anos acha que há exagero em torno da cobertura jornalística sobre mudanças climáticas.
Para Michael Khoo, diretor do Programa de Desinformação Climática da organização Amigos da Terra, tal ceticismo tem relação com a atuação de plataformas como o YouTube. “Elas desenvolveram tecnologia para monopolizar a atenção dos jovens e não devem direcionar isso para a negação do clima”, disse à Euronews.
Fonte: Portal Imprensa