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VIAGEM DO TERROR

Navio Al Kuwait, que parou na Cidade do Cabo pelo cheiro fétido, está em São Sebastião (SP), embarcando 15 mil animais

16 de maio de 2024
Redação ANDA
5 min. de leitura
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Foto: Divulgação

Pela quarta vez neste ano, o lindo município de São Sebastião (SP) vai exportar bois em pé. O navio Al Kuwait, transportador de animais, que em fevereiro deste ano parou a Cidade do Cabo, na África do Sul, devido ao forte odor, está atracado desde o dia 13 de maio no Porto da localidade, embora já estivesse fundeado no local desde 13 de abril.

Desta vez está previsto o embarque de 15 mil animais, quatro mil a menos do que transportava quando houve o incidente no Continente Africano. A população mostra-se ressentida a cada vez que animais são transportados por visualizarem o sofrimento a que são submetidos, conforme uma pesquisa realizada pela Câmara de Vereadores de São Sebastião.

Recentemente o Projeto de Lei 02/2024, que proibia o transporte de animais pelo município de São Sebastião, de autoria do vereador Marcos Fuly (DEM), atual presidente da Câmara de Vereadores, foi arquivado por sete votos a quatro. Uma pesquisa realizada pela própria Câmara, sobre a atividade, mostrou que apenas ¼ dos entrevistados é favorável à atividade.

Embora os defensores do transporte de animais vivos argumentem constantemente que tudo acontece em conformidade com a legislação, são inúmeras as vozes discordantes, principalmente pelos maus-tratos aos quais os animais são submetidos. Acostumados à tranquilidade da vida no campo, os bois são colocados em caminhões para ficarem confinados durante alguns dias até que possam ser pesados para o embarque, para então seguirem viagem até o Porto que o levará ao seu destino de abate. A legislação brasileira determina que os animais não podem permanecer mais do que 12 horas embarcados, em caminhões, mas não há como comprovar que esta regra seja regimentalmente cumprida. Na entrada e saída dos animais dos caminhões e dos navios são usadas ponteiras, que dão choques, pontiagudas, ou mesmo vassouras para que seja impedida qualquer possibilidade de parada, ou recuo. O transporte é assustador para estes animais e causa grande estresse. Nos navios e nos caminhões eles necessitam ficar o tempo todo em pé, e em caso de desestabilização do veículo, que ocasione queda, isto os levará a serem pisoteados pelos demais, o que não é incomum.

Quando este mesmo navio, que saiu do Porto do Rio Grande (RS) com 19 mil bois, em fevereiro, e depois de 9 dias, atracou na Cidade do Cabo para abastecer e embarcar comida e água para os animais passou por inspeção do Conselho Nacional da Sociedade para Prevenção da Crueldade contra Animais da África do Sul (NSPCA) devido à situação caótica que a sua chegada havia criado. O que técnicos, ativistas e veterinários encontraram resultou na alcunha de “navio da morte”

Oito animais estavam tão feridos que precisaram ser sacrificados, além dos já encontrados mortos. Ainda havia muitos doentes e machucados que foram atendidos pelos veterinários que subiram a bordo. Eles contaram ter visto que em alguns dos currais havia “lama” de urina e fezes até o topo dos cascos. Os animais são levados por quase um mês em viagem transatlântica para serem mortos, após tantos dias de sofrimento.

Foto: Divulgação

O meio ambiente está em risco

Mesmo assistindo o imenso sofrimento do Estado do Rio Grande do Sul com as cheias, este tipo de atividade que degrada o meio-ambiente continua sendo permitido, conforme alerta a advogada animalista Letícia Filpi. O estado gaúcho já estava sofrendo com a enchente, em 04 de maio, quando 25 mil bois foram embarcados pelo Porto do Rio Grande no navio NADA, o mesmo que em 2018 foi impedido de zarpar por liminar requerida por organismos de defesa animal.

Sobre o Estado paulista, Letícia argumenta: “O Estado de São Paulo e o município de São Sebastião estão presenciando a destruição, o risco ambiental que esta atividade (de exportação de bois representa) e não fazer nada é chocante! É um absurdo ver o Poder Público presenciando este atentado, esta afronta ao direito da população ao meio ambiente equilibrado, aos direitos dos animais, absolutamente maltratados. Existem provas fartas dos maus-tratos aos animais, ocorridos nestes embarques. Há estudos comprovando que os navios não são preparados para o transporte de animais. Há uma gama de provas de insubordinação a inúmeros direitos. É o risco ambiental marinho, é o risco ambiental às unidades de conservação do entorno, é o risco ambiental do mangue do Araçá que será totalmente destruído, com consequências imprevisíveis. E a gente vê o Poder Público assistindo e muitas vezes, inclusive, incentivando esta atividade que é uma afronta a direitos, a direitos fundamentais humanos, aos direitos dos animais, aos direitos da terra, ao direito à saúde pública. O pior de tudo é que eles, embora eleitos pela população não a ouvem. A população de São Sebastião claro, na Câmara de Vereadores afirmou que é contra os embarques de animais vivos na cidade, por tudo o que foi citado e também pelos danos psicológicos e emocionais de ver os animais sofrendo sem poder fazer nada. Este sentimento de impotência, de compaixão pelos animais, que estão ali sofrendo, pois eles passam nos caminhões, a população vê e sofre junto com eles e o Poder Público simplesmente ignora tudo isto. Então, definitivamente algo precisa mudar urgentemente”, afirma Letícia.

O documentário “Exportação Vergonha”, lançado em julho de 2023, pela ONG Mercy For Animals (MFA), narrado em português, pela ativista Luísa Mell e disponível no YouTube, documenta o sofrimento dos animais neste tipo de transporte. Ele detalha esta situação já descrita aqui: por três a quatro semanas, milhares de bois ficam confinados nos navios, submersos em urina e fezes. Acredita-se que mais de 10% deles não resiste à viagem, e seus corpos acabam sendo lançados ao mar. Em mais um crime ambiental gravíssimo.

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