A minha é uma das cerca de 23 milhões de famílias americanas que adotaram um animal durante a pandemia, e Ozzy, nosso novo e amado mestiço de pastor-alemão, galgo afegão e chow chow, nos trouxe alegria durante um período muito difícil. Um estudo de 2021 descobriu que, na pandemia, as pessoas que possuíam animais se sentiam mais apoiadas socialmente e eram menos propensas a ter sintomas de depressão do que as que não tinham, mas queriam ter. O pêlo de astro do rock de Ozzy, que parece espetado e enrolado em sua cabeça –o nome dele é por causa do Ozzy Osbourne– e seus ruídos estranhos que parecem de macaco nos fazem rir, e meus filhos adoram brincar de cabo de guerra com ele no quintal.
Mas Ozzy às vezes também é muito irritante, fazendo coisas como saltar sobre a mesa da cozinha para roubar meu sanduíche ou puxar a coleira como um cão de trenó quando caminhamos. Então, alguns meses atrás, meu parceiro e eu contratamos uma treinadora, Amber Marino, para nos ajudar a entendê-lo. A primeira coisa que ela nos ensinou foi que provavelmente estávamos interpretando errado grande parte do comportamento de Ozzy, o que a maioria dos tutores faz. “Os cães estão sempre se comunicando conosco, mas na maioria das vezes não estamos ouvindo, o que pode levar a problemas comportamentais”, disse ela. Fiquei surpresa ao saber que quando um cachorro rola no chão ele não quer necessariamente um carinho na barriga –pode ser que ele queira mais espaço. Eu sempre achei que quando um cão abana o rabo significa que está feliz, mas na verdade pode significar que está empolgado e prestes a correr.
Eu queria saber mais sobre o que faz os cães agirem da maneira como agem, então entrei em contato com vários cientistas para me explicarem o que os humanos erram quando se trata de comportamento canino. Aqui estão algumas coisas fascinantes que aprendi.
Um erro importante que as pessoas cometem é que muitas vezes não percebem os sinais de que os cães estão estressados ou ansiosos –o que geralmente antecede um comportamento agressivo. De acordo com os especialistas, um filhote estressado pode mostrar que está com medo lambendo os lábios, bocejando, levantando uma pata dianteira, soltando pelos, coçando-se, tremendo, ofegando ou andando de um lado para o outro.
Os olhos também podem mudar: quando costumávamos levar nosso outro cachorro, Henry, ao parque de cães, ele às vezes adotava o que meu parceiro e eu chamávamos de “olho de louco” –seus olhos se esbugalhavam e víamos mais da parte branca. Eu só soube recentemente que esse é um fenômeno chamado “olho de baleia”, e muitas vezes é um sinal de estresse canino. Isso não significa que toda vez que seu cão arfa, boceja ou levanta a pata, ele esteja à beira de um colapso. Os cães também ofegam quando sentem calor. Alguns deles, como os perdigueiros, levantam uma pata dianteira quando sentem um cheiro. Bocejar também pode significar, é claro, que o cachorro está cansado.
Para entender o que a linguagem corporal e o comportamento de um cão estão dizendo, “você precisa olhar para todo o corpo dele e avaliar o contexto em que está”, disse Sarah Byosiere, psicóloga e diretora do Centro de Pensamento Canino (Thinking Dog Center) no Hunter College, parte da Universidade da Cidade de Nova York, nos Estados Unidos. Se o cão estiver com problemas, o que você deve fazer?
Primeiro, tente descobrir o que pode estar causando o desconforto, disse Angie Johnston, psicóloga e diretora do Centro de Cognição Canina e Laboratório de Aprendizagem Social do Boston College. Você está num lugar desconhecido? Seu cão está conhecendo novas pessoas ou cães? Uma vez que você tenha uma ideia do que pode estar lhe causando incômodo, “afaste-se dessa atividade”, disse ela, e veja se esses comportamentos de ansiedade se dissipam.
Os movimentos da cauda são outra coisa que pensamos entender, mas normalmente não. “O equívoco mais comum, de longe, é que abanar o rabo definitivamente significa que o cachorro está feliz”, disse Johnston. Se o abanar do rabo de um cachorro for fluido e relaxado, então sim, ele provavelmente está contente, disse Johnston. Mas se o rabo estiver balançando apenas levemente e parecer rígido, pode ser um sinal de que ele está prestes a ser agressivo. Pesquisas também sugerem que quando o rabo abanando de um cão se inclina mais para a direita, ele está feliz, mas se se inclina mais para a esquerda, ele se sente hostil.
Os especialistas me disseram que muitas vezes atribuímos as ações de nossos cães a sentimentos que eles realmente não estão tendo. Eu sempre acreditei que Ozzy lambe meu rosto porque ele me ama. Mas –e lamento saber disso– os cães costumam lamber os rostos porque querem provar o que você comeu recentemente, disse Evan MacLean, antropólogo evolucionista e psicólogo comparativo na Universidade do Arizona. (Isso vem do comportamento de lobos jovens, que lambem o interior da boca de suas mães para que elas regurgitem comida para eles comerem. O que explica por que os cães fazem coisas nojentas, como comer o vômito de pessoas.)
Além disso, aquela expressão de culpa que você vê no rosto do seu cachorro depois que ele fez algo “mau”? A pesquisa mostra que não é realmente um sinal de que ele está envergonhado –provavelmente está apenas reagindo à sua raiva. “Os cães adotam essa aparência como resposta ao comportamento ou tom de sua pessoa, não por terem feito algo que consideramos errado”, disse Alexandra Horowitz, cientista cognitiva que dirige o Laboratório de Cognição Canina do Barnard College. Em última análise, os cães nos entendem muito melhor do que nós os entendemos, disse Johnston.
Ao longo de milhares de anos de domesticação, eles se tornaram “muito bons em ler nossas emoções”, disse ela, mas “não acho que tenha funcionado tanto na outra direção”. Para agir certo com nossos amados cães, precisamos realmente conhecê-los –e suas pequenas dicas estranhas. Percebo agora que Ozzy tem nos comunicado suas necessidades com bastante clareza, mas que simplesmente não fomos receptivos –e agora que estamos prestando mais atenção ele se comporta muito melhor. No entanto, ainda estamos trabalhando com sua tendência a roubar sanduíches. Essa é mais difícil de domar.
Melinda Wenner Moyer para o The New York Times
Fonte: Folha