Dinis Rocha é loucamente apaixonado por animais desde que se lembra. Assim que começou a caminhar, ganhou logo o hábito de pegar em todos os animais que se cruzavam no seu caminho — e cedo percebeu as diferenças de cada um. Agora, aos 12 anos, diz que tem uma missão de vida: “Alertar as pessoas que todos os animais têm importância e que não os devem matar”.
Foi com esse objetivo que decidiu criar, há cerca de dois anos, um canal nas redes sociais onde compartilha curiosidade sobre biologia. Hoje em dia, é conhecido como “Dinis, o mini biólogo”, numa conta que já alcançou mais de 100 mil seguidores no Instagram.
“Desde pequeno que sempre fiquei atento a tudo o que me rodeava, desde caracóis aos escaravelhos, dos mais simples aos mais complexos. Gostava de pegar nesses animais”, conta o mini biólogo de Matosinhos.
Os animais marinhos foram os primeiros a chamarem a sua atenção, muito devido às idas à praia que fazia com a família. Os pais sempre o incentivaram a explorar mais este mundo e as expedições pela natureza são uma constante na vida de Dinis.
“Costumo usar o paralelismo com o futebol. Enquanto pais vamos incentivando e dando asas a este interesse, vamos fazer explorações a lugares novos sempre que ele quer encontrar um determinado animal”, revela o pai, Nelson.
Dinis nunca se esqueceu do dia em que recebeu o livro “Fauna e Flora do Mar”. Tinha apenas nove anos, mas foi aí que se encantou verdadeiramente por biologia.
“Depois disso fomos a uma atividades dos Charcos Com Vida, foi quanto comecei a ter contato com biólogos”, recorda Dinis.
O interesse e curiosidade foram sendo cada vez maiores, até ser incentivado pelo pai a criar o tal canal nas redes sociais onde pudesse partilhar com o resto do mundo todas as descobertas e curiosidades que ia encontrando.
“Não tinha coragem, achei que ia falhar, mas o meu pai incentivou-me. Foi na altura em que mudei para o quinto ano”, revela. Foi a forma que encontrou de mostrar, sobretudo, à comunidade escolar que os animais não eram “apenas um gosto, mas sim uma paixão”.
A grande missão é que as pessoas “parem de matar os animais”. Há muitas que o fazem por “questões culturais ou por falta de conhecimento”, segundo o rapaz. Mas, defende Dinis, se elas descobrirem curiosidades fascinantes sobre os animais, talvez possam olhar para as aranhas ou cobras outros olhos.
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Nos vídeos que compartilha, por exemplo, já deu a conhecer o anfíbio mais raro de Mindelo: o sapinho-de-verrugas-verdes. “Na realidade, é uma rã e não um sapo, isso acontece também com outros anfíbios, porque só depois de os animais terem nomes é que percebem, com testes genéticos, que afinal não era o que se pensava”, explica. Apesar de ter semelhanças com a rã verde, a grande diferença é que este sapinho tem verrugas.
Sempre que parte numa expedição nova, Dinis explora a natureza o máximo que consegue. Foi numa dessas aventuras, depois de levantar umas pedras pelo caminho, que encontrou a Cobra-de-escada, ou a Zamenis Scalaris, que foi assim apelidada por causa do padrão que tem nas escamas e que fazem lembrar umas escadas.
Com esta descoberta, está quase a completar a lista de cobras nativas de Portugal. Só lhe falta encontrar a Cobra-de-ferradura, para concluir a caderneta de raridades.
Apesar de já ter perdido à quantidade de espécies que estudou, há um animal em particular que gostava muito de ver ao vivo, mas ainda não conseguiu: o Siluro, o enorme peixe predador do Tejo.
“Já conhecemos muito bem a sauna que existe aqui perto da nossa casa. Costumamos ir à Reserva Ornitológica de Mindelo, Castro de São paio, onde se encontram muitas víboras, e à Serra de Valongo”, revela.
Dinis encontra as informações e curiosidades sobre as espécies em manuais ou livros de biologia que são especialmente detalhados, na Internet ou em conversa com biólogos profissionais.
Foi também através do canal que Dinis compartilhou recentemente que fora diagnosticado com síndrome de Asperger — condição do espectro do autismo — quando estava no quinto do ano da escola.
“Isto não me incapacita em nenhuma forma, na verdade até me ajuda a aprender melhor. Se não fosse o autismo, não estava aqui a saber tanto sobre os animais. É especialmente por causa disso que me foco tanto”, explicou.
“Não é uma doença, porque não se sabe a causa. Afeta o desenvolvimento e a maneira como pensamos, como reagimos a coisas e como interagimos com pessoas. Também influencia a forma como sentimos e como vemos o mundo”, continuou. Tal como os animais são todos diferentes, “nós também o somos”.
“Isto é simplesmente a minha característica e a minha maneira de ser”, disse no vídeo compartilhado em novembro no Instagram.
Além do hiperfoco, a condição faz com que por vezes tenha dificuldade em falar com as pessoas sobre temas em que não se sente à vontade — ao contrário do que acontece quando fala sobre os animais, claro. Aliás, é precisamente esta naturalidade com que compartilha dicas e curiosidades sobre várias espécies que o levou a ter tanto sucesso nas redes sociais.
“A comunicação dele sempre foi muito desenvolvida e é algo que atrai as pessoas. A maneira como fala e o entusiasmo que tem é o mais cativante”, confessa o pai.
Quando perceberam que o canal estava a gerar muito interesse e a aproximar a comunidade, decidiram dar um passo em frente. Há cerca de dois anos, a família começou a organizar expedições onde os seguidores se podiam juntar ao jovem Dinis para explorar a fauna de diferentes lugares.
O mini biólogo já liderou aventuras na Quinta do Pisão e na Praia das Avencas, em Lisboa, na Praia do Castelo do Queijo, no Porto, e em Mindelo, onde se realizou a última de todas, em outubro. Por enquanto, não há novas datas para expedições, mas costuma fazer cerca de três ou quatro ao longo do ano, todas com inscrições gratuitas.
Embora Portugal seja muito grande em termos de biodiversidade, os Rocha já estão a ponderar viajar para outros países para “conhecer outra realidade”. Um dos grandes objetivos é visitar a Costa Rica.
Apesar da grande paixão pela biologia, ainda não sabe se é esta a área que gostaria de seguir na sua futura carreira. “O que gosto mesmo é de zoologia, que envolve todos os animais”.
Fonte: Pets in Town