O título acima faz parte de uma frase escrita por Chiavenato em 1989. Peguei emprestada para ilustrar uma crítica ao corte indiscriminado de árvores nas pequenas, médias e grandes cidades, ou nas cidades que se pretendem grande.
A frase inteira: “Não adianta chorar a árvore derrubada. Lágrimas não purificam o rio poluído. Dor ou raiva não ressuscita os animais. Não há indignação que nos restitua o ar puro. É preciso ir à raiz do problema.”
Conforme o dicionário Houaiss, a palavra cidadania significa qualidade ou condição de cidadão que, por sua vez, é o indivíduo que usufrui de direitos civis e políticos garantidos pelo Estado e desempenha os deveres que, nesta condição, lhe são atribuídos. Verde, por sua vez, no mesmo dicionário, significa, entre outras definições, “a cor da relva”, ou “cor que corresponde à sensação provocada na visão humana pela radiação monocromática cujo comprimento de onda é da ordem de 492 e 577 nanômetros…”, ou ainda “pensamento, doutrina ou modo de agir que tem como preocupação ou interesse principal o equilíbrio ecológico do meio ambiente, que segue ,respeita ou atenta para critérios ou padrões que levam em conta a qualidade não poluída ou não poluente de um serviço”. Podemos dizer então que cidadania verde é a prática de direitos e deveres de um indivíduo no trato da questão ambiental, nos procedimentos que toma um governante e no comportamento dos governados.
O que dizer quando o verdadeiro sentido de uma palavra é roubado? Quando sua real interpretação é usurpada pelos poderes públicos e/ou privados em nome de vantagens e interesses pessoais? Quando a administração pública de uma cidade diz que para que haja progresso é preciso cortar árvores e insiste no discurso/clichê de que são feitas ‘medidas compensatórias’ a cada toco que aparece, alguma coisa não anda bem e com certeza não é só o trânsito.
Ora, todos sabem que medidas compensatórias não funcionam a longo prazo nem em nenhum prazo. Árvores jovens ou de décadas, não importa, mortas para dar espaço a um carro é falta de inteligência. Sempre achei, mas atualmente, diminuir calçadas e arrancar árvores para facilitar a fluidez de um trânsito caótico é um contra-senso, um disparate, uma tolice, para ficar nos sinônimos apenas. E se há qualquer polêmica envolvendo esta questão, é preciso dizer, um povo que ainda se divide entre ‘as árvores ou os carros’ precisa acordar. Vale citar uma frase do jornalista Marcio de Almeida Bueno, natural de Veranópolis e residente hoje em Porto Alegre:
“Hoje as pessoas percebem que uma árvore a menos não é apenas um bibelô urbano que foi tirado do lugar, mas a presença de um ambiente natural em meio aos pavimentados centros urbanos – pelo mais rasteiro e egoísta, é ar melhor para quem ali transita. Uma micro-fauna de insetos e aves também perde espaço a cada motosserra em ação. Mas o susto de ver a Amazônia derrubada hectare por hectare tem feito o cidadão médio rever valores e perceber cada árvore como uma resistência da natureza, e não mais como uma peça obsoleta, ou matéria-prima da mais barata. Coincidentemente, os lugares mais chiques do mundo são muito arborizados, enquanto o Terceiro Mundo derruba com orgulho as árvores que ainda vê como estorvo”.
No livro Capitalismo Industrial – criando a próxima revolução industrial, o autor diz que basta o homem reinventar suas formas de produção, fazendo uso de tecnologia ecologicamente saudável para terminar com o medo de não sobreviver. O desafio de conciliar o desenvolvimento econômico com a proteção da natureza e dos animais não é tarefa das mais fáceis, mas contrariamente do que hoje muitos administradores pensam é a única forma de garantia efetiva das futuras gerações e do próprio planeta. Os gestores públicos que não atentarem para este fato, não podem continuar em suas funções. Quando a última árvore for cortada nada mais poderá ser feito.
Cleila Maria Fochesato Sartor é psicóloga, bacharel em Direito e em Serviço Social, pós-graduada em Ética e Filosofia Política.