O futuro pode tornar a agropecuária obsoleta e, se não pela vontade, tudo indica que pela necessidade, já que não há mais tanto espaço para a expansão da agropecuária no planeta, considerando que a atividade já utiliza a maior parte das áreas agricultáveis do mundo – chegando a 77%. Além disso, sabemos que com mais desmatamento, seja para formação de pastagens ou produção de ração para animais criados para consumo, teremos mais problemas ambientais.
Mesmo já demandando tantas terras, a pecuária contribui com apenas 17% das calorias consumidas pela população mundial, enquanto vegetais, que requerem áreas até dezenas de vezes menores, são responsáveis pelo maior percentual. Basicamente, isso significa que a carne é uma fonte ineficiente de nutrição.
Maneira ineficiente de produzir alimentos
Esse apontamento, já feito em inúmeras pesquisas, documentários e pela Organização das Nações Unidas (ONU), foi reforçado por um relatório publicado em fevereiro pela empresa de pesquisa global de mercado IDtechEX.
No relatório assinado pelo analista de tecnologia em bens de consumo, Michael Dent, que tem doutorado em biologia química pelo Imperial College London, é enfatizado como a indústria de carne é insustentável.
“É uma maneira ineficiente de produzir alimentos que, em breve, não será capaz de alimentar adequadamente a crescente população global, que poderá chegar a 10 bilhões em 2050. A produção de carne também é prejudicial ao meio ambiente, contribuindo para as mudanças climáticas, diminuindo o suprimento de água e causando poluição.”
Pesquisa fala em substituições realistas e acessíveis
A situação é considerada preocupante porque o consumo de carne está aumentando, não diminuindo, mesmo com o crescimento do veganismo. Dent avalia que é improvável que a população mundial se torne vegana até 2050.
“Serão necessárias substituições realistas e acessíveis para a carne antes que ocorra uma mudança mais significativa em caminho oposto à indústria convencional de carne”, analisa.
A pesquisa da IDtechEX sustenta que proteínas à base de vegetais e carnes cultivadas a partir de células animais são segmentos de rápido crescimento e que têm ganhado um grande aporte de investimentos – o que pode contribuir para uma mudança mais substancial.
Carne vegetal não é apenas para veganos e vegetarianos
O relatório cita como exemplo a penetração desses produtos nas grandes redes de fast food e em supermercados, assim como a rápida expansão de marcas que já se tornaram referências globais em alternativas à carne – como Beyond Meat e Impossible Foods – que recentemente prometeu substituir os alimentos como alimentos até 2035.
“Atualmente a carne vegetal não é apenas para veganos e vegetarianos. Melhor qualidade e percepção do produto como alternativa mais saudável e megatendências em relação ao consumo consciente estão fazendo consumidores de carne comprarem cada vez mais as carnes à base de vegetais.”
Em relação às carnes cultivadas, a pesquisa frisa que a vantagem em relação à agropecuária, e principalmente o processo de criação e matança de animais, é que produzir carne em laboratório permite que se use 99% menos terra e 96% menos água e sem ferir ou matar animais.
Otimismo no mercado de proteínas alternativas
“Células cultivadas dobram em número em poucos dias, o que significa que a carne cultivada também pode ser produzida muito mais rapidamente que a carne convencional. A empresa israelense Aleph Farms afirma que pode produzir um lote de bifes cultivados dentro de três semanas, um prazo muito menor do que a média de dois anos da agropecuária.”
Michael Dent cita ainda que os investidores desse segmento estão muito otimistas nos últimos cinco anos, o que explica a arrecadação de R$ 656 milhões quando o negócio começou a atrair um número significativo de investidores em 2015.
“O investimento cresceu 85% de 2017 a 2018. Entre os apoiadores destacados estão Bill Gates, Richard Branson e o cofundador do Google Sergey Brin, que ajudou a financiar o primeiro hambúrguer de carne sintética cultivado em 2013.”
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