Um estudo alarmante da University of Plymouth, no Reino Unido, trouxe à tona uma nova dimensão da crise global da poluição por plásticos: a contaminação direta da nossa cadeia alimentar. Pela primeira vez, cientistas comprovaram que nanopartículas de plástico são capazes de penetrar nas raízes de vegetais e se acumular em suas partes comestíveis, chegando diretamente ao prato do consumidor.
A pesquisa, publicada recentemente, focou em dois tipos de culturas de grande importância global: a alface (Lactuca sativa) e a couve-flor (Brassica oleracea). Os cientistas expuseram as plantas, desde a semente até a maturidade, a água contaminada com nanopartículas de plástico fluorescentes, pequenas o suficiente para serem medidas em bilionésimos de um metro.
Utilizando técnicas de imagem de alta precisão, os pesquisadores rastrearam o caminho dessas partículas minúsculas. Os resultados foram inequívocos: as nanopartículas foram absorvidas pelas raízes das plantas e, através de seu sistema vascular, se translocaram e se acumularam nos tecidos das folhas, caules e, no caso da couve-flor, na própria “cabeça” que é consumida – conhecida como curdo.
Implicações para a saúde e o meio ambiente
A descoberta levanta preocupações urgentes sobre a segurança alimentar e os impactos na saúde humana a longo prazo. A contaminação por microplásticos já foi detectada em água potável, frutos do mar e até no sal de cozinha.
No entanto, esta é a prova mais direta de que os plásticos podem ingressar e se bioacumular em plantas terrestres, que são a base da alimentação de bilhões de pessoas.
“Essas descobertas são significativas porque comprovam que partículas plásticas em escala nanométrica não apenas aderem à superfície externa de uma planta, mas são internalizadas por ela. Isso abre uma nova frente de investigação sobre os potenciais efeitos toxicológicos dessa contaminação para a saúde humana quando consumimos esses vegetais”, analisa Henrique Cortez, ambientalista e editor do EcoDebate.
Como a contaminação acontece?
A principal via de contaminação identificada pelo estudo é a irrigação com água contaminada. Isso inclui o uso de águas residuais (esgoto) tratadas ou não, e águas superficiais poluídas, uma prática comum na agricultura em diversas partes do mundo, inclusive no Brasil.
A degradação natural de resíduos plásticos maiores no solo também pode liberar essas nanopartículas, que são então absorvidas pelas plantações.
Um alerta para a agricultura e políticas públicas
O estudo da University of Plymouth serve como um alerta crítico para agências reguladoras, agricultores e governos. Ele evidencia a necessidade urgente de:
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Melhorar os sistemas de tratamento de água: Garantir que a água usada na irrigação seja livre de contaminantes microplásticos.
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Avançar na pesquisa: Investigar os níveis reais de contaminação em plantações comerciais e os efeitos específicos na saúde humana.
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Repensar a gestão de resíduos: Combater a poluição plástica na fonte é a medida mais eficaz para prevenir que esses materiais cheguem ao solo e aos cursos d’água.
A pesquisa não quantifica os riscos imediatos, mas deixa claro que a presença de plásticos dentro de nossos alimentos não é mais uma hipótese distante, mas uma realidade que demanda atenção e ação imediatas.
Fonte: EcoDebate