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MALDADE HUMANA

Na Amazônia, caça deixa filhotes de onça-pintada órfãos e com chances de nunca mais voltarem à natureza

5 de setembro de 2023
4 min. de leitura
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Foto: Divulgação

Dois filhotinhos de onça-pintada ficaram órfãos e estão vivendo um drama por causa de um crime bastante comum na Amazônia: a caça de animais silvestres. Eles foram separados da mãe ainda muito pequenos e foram parar em uma aldeia indígena no interior do Pará, onde acabaram desenvolvendo raquitismo – deficiência por falta de cálcio o que prejudica o crescimento.

Sem conseguir andar, eles se rastejavam pelo chão. Caçar como uma onça comum, então, ainda vai ser um grande problema para os irmãozinhos lidarem até a vida adulta.

A situação chegou ao setor de inteligência de órgãos ambientais, que foram acionados para levar os dois bichinhos do cativeiro na aldeia até um ambiente de reabilitação de animais: o Centro de Triagem e Reabilitação de Animais Selvagens (Cetras) em Belém.

Depois da reabilitação com ajuda de agentes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) e de profissionais da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), agora eles estão em um zoológico de Parauapebas, no sudeste do Pará, onde já voltaram a correr, brincar e onde vão ser treinados a caçar.

Filhotes corriam risco de morte

O analista ambiental e chefe da Divisão Técnico-Ambiental do Ibama no Pará, Luiz Paulo Albarelli, explica que esse tipo de caça, com finalidade dos animais silvestres serem tratados como animais domésticos, ainda é comum no país como um todo.

No caso dos “irmãos onça”, ele explica que os dois adoeceram enquanto eram mantidos em cativeiro, evoluindo para problemas ósseos e de desenvolvimento por conta da alimentação que recebiam durante os três meses que passaram na aldeia indígena. Lá, eles comiam carne bovina e tomavam leite inadequado.

“Os dois estavam com um quadro de raquitismo nutricional e corriam risco sério de morte. A origem, portanto, dos animais foi ilegal, já que eles dependem da caça e não poderiam ser mantidos em cativeiro”.

O agente do Ibama disse que ainda não se sabe do paradeiro da mãe – se ela foi capturada ou morta por caçadores. Os filhotes foram separados dela com aproximadamente três meses de idade. “Nessa idade, o animal ainda está amamentando. A onça-pintada é uma espécie que sobrevive da caça, por isso ela não pode ser mantida em cativeiro, e os filhotes devem acompanhar a mãe até mais de um ano de idade, quando estão na fase de aprender a caçar para sobreviver”.

Foto: Divulgação

Reabilitação

Um dos veterinários que cuidou dos dois filhotes, Matheus Paiva disse que foram trinta dias de habilitação no Cetras, em Belém, antes dos dois serem levados para o zoológico.

“Nós podemos realizar o tratamento clínico para o quadro deles, porque chegaram sem conseguir se levantar e caminhar, então o tratamento clínico foi acompanhado de suplementação alimentar”.

A coordenadora do Cetras, professora Ana Silvia Ribeiro, da Ufra, reforçou que o trabalho foi feito em parceria com o Ibama, que assumiu o caso e deu toda assistência com suporte para manutenção dos animais. Uma das medidas para a reabilitação foi evitar que os animais tivessem obstáculos para escalar, o que poderia gerar novas fraturas, e a alimentação que era toda triturada para facilitar a digestão.

“Tivemos vários cuidados especiais, principalmente em relação à oferta da alimentação, não poderíamos dar presas vivas ou presas que necessitassem de mastigação. O alimento era todo triturado para evitar a fraturas dentárias”.

Ribeiro afirma que vários exames foram realizados para confirmar as fraturas, fissuras, desmineralização ósseas. Diante da situação, a professora destaca a importância de campanhas contra o tráfico de animais silvestres.

Rumo à volta para a natureza

O analista do Ibama Albarelli disse que os dois estão vivendo no Zoológico de Carajás, que faz parte do Programa Nacional de Conservação da Onça-pintada, além de estar dentro de uma unidade de conservação arborizada.

“No zoológico, os animais recebem cuidado de médico veterinário, de biólogos, dentro desse programa nacional, a ideia é que eles sejam reabilitados e futuramente retornem à natureza, mas é um um passo longo”.

Albarelli diz que os dois ainda tem muito a passar antes de voltar à natureza. Até lá eles serão treinados para caçar, já que não tiveram contato com a mãe.

“É um tratamento dia após dia, com objetivo final que eles voltem à natureza um dia”.

Foto: Divulgação

Fonte: G1

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