Onde um dia reinou a guerra, agora prospera a vida: na costa alemã — mais precisamente na Baía de Lübeck, no extremo oeste do Mar Báltico — armamentos descartados durante a Segunda Guerra Mundial formam o lar de milhares de criaturas marinhas.
Bombas, minas, cabeças de torpedo… Toneladas de munições lançadas de embarcações entre 1946 e 1948 se acumularam no fundo do mar, formando uma espécie de “tapete corroído”. Por ali, cientistas esperavam encontrar um cenário melancólico, sem cor e sem vida. Mas, contrariando as expectativas, o que se viu foi uma verdadeira adaptação dos animais ao novo ambiente.
Um estudo, publicado na revista Communications Earth & Environment, revelou que mais de 40 mil animais vivem em cada metro quadrado das munições — cinco vezes mais que nas áreas vizinhas. Na prática, metais, bolsões de fusíveis corroídos e cartuchos se transformaram na casa de mexilhões, anêmonas, peixes e caranguejos, que ocupam os espaços a poucos centímetros de cargas explosivas.
“A epifauna se desenvolve sobre as munições danificadas em números comparáveis aos encontrados em substratos duros naturais. No futuro, as munições deverão ser substituídas por substratos seguros e resistentes”, explica a análise.
Um recife artificial
Como bem analisou o portal britânico The Guardian, que se debruçou na pesquisa, o Báltico um dia foi repleto de pedras e afloramentos rochosos, fundamentais para a fixação de organismos como corais, cracas, mexilhões e esponjas.
Com o passar do tempo, porém, essas estruturas foram sendo removidas para viabilizar construções civis. Logo, os arranjos artificiais entraram em cena e começaram a cumprir esse papel. Bom exemplo é o caso do recém-afundado ferry-boat Juracy Magalhães, na Baía de Todos-os-Santos, visando a restauração de recifes marinhos e o estímulo ao turismo subaquático.
No caso analisado, os vestígios de guerra acabaram virando essa espécie de recife artificial, com a diferença de que carregam risco de explosões e a ameaça constante de liberação de compostos tóxicos devido à corrosão.
Esse tema, aliás, é discutido por pesquisadores desde os anos 1990, que alertam para o risco das munições submersas. Há, porém, um dilema: remover esse material também destrói os ecossistemas que se formaram sobre ele.
Na Baía de Lübeck, onde a remoção já começou, a situação é evidente. Por isso, cientistas defendem substituir as munições retiradas por estruturas seguras — como blocos de concreto — para preservar a vida marinha.
Fonte: Náutica