O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, avalia que o mundo “vai na direção errada” na questão climática. Ele comentou os resultados do relatório publicado pela OMM (Organização Meteorológica Mundial) na terça-feira (13).
Para Guterres, as enchentes, secas, ondas de calor, incêndios e tempestades extremas que só pioram e batem recordes são “o preço da dependência de combustíveis fósseis”.
O relatório mostra que as concentrações de gases de efeito estufa continuam subindo em níveis recordes: as taxas de emissão de combustíveis fósseis estão agora acima dos níveis pré-pandêmicos após uma queda temporária. A ambição das promessas de redução de emissões para 2030 precisa ser sete vezes maior para estar de acordo com a meta de 1,5° C do Acordo de Paris.
Segundo o levantamento da OMM, sem uma ação muito mais ambiciosa, os impactos físicos e socioeconômicos das mudanças climáticas serão cada vez mais arrasadores.
A publicação aponta que os últimos sete anos foram os mais quentes já registrados e existe uma chance de 48% de que, durante pelo menos um ano nos próximos cinco anos, a temperatura média anual seja temporariamente 1,5° C superior à média de 1850-1900.
O alerta da OMM é o de que, à medida que o aquecimento global aumenta, “pontos de inflexão” no sistema climático não podem ser descartados.
O documento também revela que as cidades que abrigam milhões de pessoas, responsáveis por até 70% das emissões produzidas por ação humana, enfrentarão impactos socioeconômicos crescentes. As populações mais vulneráveis sofrerão mais, afirma o relatório, que dá exemplos de climas extremos em diferentes partes do mundo neste ano.
Segundo o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas, a ciência do clima é cada vez mais capaz de mostrar que muitos dos eventos climáticos extremos que o mundo enfrenta se tornaram mais prováveis e mais intensos devido às mudanças climáticas induzidas pelos humanos.
Ele citou os episódios deste ano e afirmou que é fundamental intensificar os sistemas de alerta precoce para construir resiliência aos riscos climáticos atuais e futuros em comunidades vulneráveis.
O chefe da ONU apresentou dados que reforçam a posição de Taalas: o número de desastres relacionados ao clima aumentou cinco vezes nos últimos 50 anos, e as perdas diárias já podem superar US$ 200 milhões.
Guterres afirma que os resultados da pesquisa da OMM são um lembrete vergonhoso de que a construção de resiliência é a metade negligenciada da equação climática. Para ele, é “escandaloso” que os países desenvolvidos não tenham levado a sério a adaptação e tenham “desprezado seus compromissos de ajudar o mundo em desenvolvimento”.
O secretário-geral das Nações Unidas lembrou que as necessidades de financiamento de adaptação devem crescer para pelo menos US$ 300 bilhões por ano até 2030.
Guterres esteve recentemente o Paquistão, onde disse que testemunhou a destruição causada pelas inundações. Assim, ele destacou a importância de garantir que pelo menos 50% de todo o financiamento climático seja destinado à adaptação.
Principais resultados do relatório
Níveis atmosféricos de dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O) continuam a aumentar. A redução temporária das emissões de CO2 em 2020 durante a pandemia teve pouco impacto no crescimento das concentrações atmosféricas – permanecendo na atmosfera depois que o CO2 é absorvido pelo oceano e pela biosfera.
As emissões globais de CO2 fóssil em 2021 retornaram aos níveis pré-pandêmicos de 2019 depois de caírem 5,4% em 2020 devido a bloqueios generalizados. Dados preliminares mostram que as emissões globais de CO2 em 2022, de janeiro a maio, estão 1,2% acima dos níveis registrados no mesmo período de 2019, impulsionadas por aumentos nos Estados Unidos, Índia e na maioria dos países europeus.
Os últimos sete anos, de 2015 a 2021, foram os mais quentes já registrados. A média global da temperatura média de 2018–2022 (com base em dados até maio ou junho de 2022) é estimada em 1,17% (cerca de 0,13° C) acima da média de 1850–1900.
Cerca de 90% do calor acumulado no sistema terrestre é armazenado no oceano, e o teor de calor do oceano para 2018-2022 foi maior do que em qualquer outro período de cinco anos, com as taxas de aquecimento dos oceanos mostrando um aumento particularmente forte nas últimas duas décadas.
Novas promessas nacionais de mitigação para 2030 mostram algum progresso na redução das emissões de gases de efeito estufa, mas são insuficientes. A ambição dessas novas promessas precisaria ser quatro vezes maior para limitar o aquecimento a 2° C e sete vezes maior para chegar a 1,5° C.
Fonte: A referência