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ATIVISMO

Mulheres indígenas lideram iniciativa de proteção de felinos selvagens no Peru

23 de abril de 2025
Rhett Ayers Butler
2 min. de leitura
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Foto: Mujeres Quechua por la Conservación

As florestas de queuña no Peru, que antes cobriam vastas extensões das montanhas, reduziram-se a uma fração de sua antiga grandeza, deixando para trás uma paisagem onde a biodiversidade e a segurança hídrica estão em risco. Esse colapso ecológico desencadeou uma consequência imprevista: animais selvagens, deslocados pelo desmatamento, estão se aproximando das comunidades indígenas, gerando conflitos entre pessoas e predadores, relata o colaborador da Mongabay, James Hall.

O puma, o gato-do-deserto-peruano e o gato-andino entraram em conflito com os humanos à medida que invadem esses habitats cada vez menores. O problema não são os próprios felinos, como observa a bióloga Cindy Hurtado, mas a perda de suas presas. À medida que veados desaparecem, o bois se tornam a próxima refeição.

O impacto nos meios de subsistência locais tem sido significativo, especialmente para as mulheres da vila quéchua de Licapa. Nessa comunidade, onde os homens muitas vezes saem para trabalhar nas cidades, as mulheres ficam para trás, cuidando das crianças e de pequenos rebanhos de alpacas, galinhas e porquinhos-da-índia. A perda desses animais para os felinos selvagens não é apenas um inconveniente; é uma ameaça direta à renda familiar.

“Achávamos que [os felinos selvagens] eram animais maus”, lembra Alicia Ccaico. A resposta tradicional era previsível: quanto menos felinos, melhor. No entanto, em Licapa, essa visão arraigada começou a mudar, graças a um projeto impulsionado por mulheres indígenas, liderado pela bióloga quéchua Merinia Mendoza Almeida e pelo especialista em felinos Jim Sanderson.

O que começou como um experimento hesitante tornou-se um movimento consolidado: Mujeres Quechua por la Conservación (Mulheres Quéchuas pela Conservação). Mais de 30 mulheres se reúnem mensalmente para discutir suas experiências, aprender sobre o ecossistema e explorar soluções que equilibrem as necessidades humanas e da vida selvagem. Esses encontros vão além de esforços de proteção; são espaços de empoderamento em uma sociedade onde as vozes das mulheres muitas vezes foram silenciadas.

Medidas simples, como reforçar galinheiros, reduziram conflitos com felinos menores. Mas lidar com o problema dos pumas exigiu estratégias mais sutis, incluindo a redução da pressão de pastoreio na floresta. Os resultados têm sido promissores, e a ênfase do projeto nas mulheres indígenas começou a derrubar barreiras patriarcais antigas na região.

Como aponta a pesquisadora Rocio Morales, esse projeto é um raro exemplo de como a inclusão de mulheres indígenas na proteção pode romper barreiras sociais e políticas. E o envolvimento de crianças nessas atividades garante que as sementes da conscientização já estejam sendo plantadas na próxima geração. Nas terras altas de Licapa, onde passado e futuro se encontram, um novo capítulo está sendo escrito — um em que a coexistência, em vez do conflito, pode ser o legado deixado para trás.

Traduzido de Mongabay.

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