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AMOR E DEDICAÇÃO

Mulher resgata cadela após maus-tratos e relata jornada de superação: 'O que eu entrego para ela não é nada perto do que ela me devolve'

Larissa Caladdo conta o que a levou a adotar a cadela Aurora após maus-tratos. Nas redes sociais, ela decidiu compartilhar a jornada de superação dos traumas da cachorrinha, que ganhou milhares de fãs e tem conscientizado os seguidores sobre os direitos animais

21 de julho de 2024
João Maturana
9 min. de leitura
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Foto: Larissa Caladdo

Forte. Corajosa. Essas são algumas das características que Larissa Caladdo, 28, usa para descrever Aurora, cadela resgatada após sofrer maus-tratos. Nos últimos meses, ela se tornou um sucesso no TikTok e já acumula mais de 440 mil seguidores – só um dos vídeos da cachorrinha foi assistido mais de 10 milhões de vezes.

Em entrevista a Marie Claire, a mentora de empreendedoras do mercado vegano revela como encontrou o animal, explica como é o processo para superar os traumas do passado e diz que decidiu contar a história de Aurora para incentivar que outras pessoas adotem animais abandonados.

‘Sempre foi um sonho’

Larissa Caladdo mora em Aveiro, Portugal, e nunca teve um animal doméstico em seu passado. “Nunca tinha tido um animal. Acho que desde criança sempre foi um sonho para mim”, conta a carioca que vive com seu companheiro, Paulo Randall. Vegana, ela entende a importância de defender a adoção de animais. “Tem muito mais a ver com o meu estilo de vida, por conta da questão de não comprar e sim adotar. Daí, esse ano, tive a oportunidade”.

A consultora disse que entendeu que vivia um momento de estabilidade na sua carreira e em seu relacionamento. Foi quando decidiu procurar instituições próximas à sua residência para adotar seu primeiro animal doméstico.

Foi aí que encontrou uma publicação no Facebook anunciando a adoção da Aurora“Fiquei muito tocada, porque geralmente as pessoas não querem adotar cães adultos, e o histórico dela também não era nada favorável, pois foi encontrada acorrentada, junto de outros cães, no fundo de um restaurante após uma denúncia”, explica.

A adoção de Aurora

Só que Aurora não era uma cachorra qualquer. Como estava traumatizada, uma das voluntárias da instituição chegou a alertá-la que a cachorra não conseguiria “ir ao parque todos os dias”, “interagir com outros cães” e nem “pular e brincar”. Na verdade, ao chegar ao canil após o resgate, Aurora tremia e até rosnava quando alguém se aproximava. O medo não passou durante o período em que esteve disponível para adoção. “Ela olhava para o além e não interagia. Ficava igual uma ameba”, conta Caladdo.

Ao chegar com a cadela em casa, a tutora deixou que ela explorasse o local. Foi quando a cachorrinha decidiu se esconder no armário. Depois de 3 horas, a mentora conseguiu acalmá-la e a levou para um banho — esse momento de profunda fragilidade foi registrado. “Foi um dos vídeos que mais bombou, mas nem foi na intenção de ‘bombar’, e sim de compartilhar esse momento mesmo”, justificou.

Superando traumas

Para entender melhor como poderia ajudar sua nova filhote a superar os traumas, Caladdo conta que passou a pesquisar muito sobre a condição da cachorrinha, chegando a “maratonar” vídeos de adestradores. Ela também buscou informação e começou a entender o que poderia fazer. “Cachorros que passaram por alguma situação como a dela não construíram o senso de ‘eu’, porque foram agredidos no seu primeiro ano e ainda ficaram trancados em um espaço. Então, a cabeça dela era muito limitada”, lamentou.

“Tivemos que pensar em muitas logísticas para, por exemplo, não gerar uma dependência emocional nela, reduzindo as chances de ter uma ansiedade na hora da separação. Também implementamos uma rotina, porque para ela é fundamental.”

Os tutores de Aurora optaram por método não convencional de educar a cachorrinha, fugindo de um sistema punitivista. Dessa forma, ela é recompensada por seus acertos e seus erros são ignorados – e não repreendidos. “Quando ela não quer comer, a gente deixa ali. Deu o horário, colocamos mais comida. Não quis? Após dez minutos tiramos e não interagimos com ela. Dessa forma, ela está começando a perceber que tem possibilidade de escolha.” Segundo ela, foi necessário pensar em cada detalhe para que ela se adaptasse.

“A gente evita ir na cama dela justamente para ela ter essa noção de que o espaço dela está sendo respeitado. Ela está aprendendo pelo amor, pela via do condicionamento positivo. Não olho para ela quando faz algo errado e nem falo nada, mas quando acerta, ganha carinho e recompensa”.

A mentora diz que as primeiras experiências de interação social de Aurora não saíram como o esperado. “Os primeiros passeios eram horríveis, porque ela não se mexia, ficava igual uma pedra. Tivemos que estipular um passo a passo. Às vezes, trabalhava da praça para deixá-la livre e ficávamos umas 3 horas até ela perceber que o movimento não significava nada. No início, a Aurora ficava em pânico embaixo do banco, então eu a tirava de lá para ela se expor ao problema e ver que não era uma grande coisa”, relata.

90 dias após ganhar um lar, a evolução é evidente. “Já tem três meses que ela está com a gente. Agora, a Aurora caminha tranquilamente, não fica mais com o rabinho entre as pernas. Mas claro, foi um processo de levá-la todos os dias na rua. Para a gente pode parecer bobo, mas para ela é tudo muito novo. Não foi nada fácil e o progresso não é uma linha reta. Tem vezes que ela ainda fica assustada com alguma coisa, mas a gente respira fundo e pensa que está tudo bem. É só um dia no qual as coisas não saíram conforme o esperado, e o importante é o processo completo.”

Caladdo conta que, agora, Aurora está aprendendo que está tudo bem ter medo, mas que out os sentimentos precisam ser vivenciados. Ela se tornou uma cachorrinha resiliente. “Está aprendendo aos pouquinhos. Claro que um bom petisco e a ração têm ajudado muito nesse processo”, brinca.

A carioca ainda explica que a cadela transformou completamente sua existência. “Tive um longo período depressivo depois da perda do meu avô, fui criada com ele. Isso aconteceu no período entre o final da minha adolescência e entrada na vida adulto, nessa casa dos 20 anos, que é um momento em que a gente fica meio perdido. E foi quando ela chegou”, relembra. “Ela me trouxe uma noção de responsabilidade, de não poder abandonar as coisas quando não está tudo perfeito ou dentro das minhas expectativas. Ela trouxe de volta o meu senso de disciplina, de dedicação e determinação. Acredito que ela resgatou certas faces da Larissa que estavam adormecidas. E sem contar a minha relação com o meu trabalho. Não tem como comparar o meu engajamento antes e depois da Aurora. O que eu faço para ela não é nada perto do que ela me devolve”, reconhece.

A exposição de Aurora nas redes sociais

Na conversa, Caladdo também explicou porque decidiu Aurora em vídeos nas redes sociais. Ela conta que estava trabalhando na persona que construiu no mundo digital para alavancar sua empresa de mentoria para empreendedoras do mercado vegano, o que incluía divulgar os valores do veganismo e outros assuntos relacionados a esse universo.

Por isso, sabia que, quando adotasse um animal, poderia mostrar bastante nas redes, por ser algo que faz sentido com o que ela mesma vende. Além disso, já vinha há algum tempo compartilhando mais da sua vida pessoal com seus seguidores e nutria desde nova o sonho de ter um animalzinho na família.

“Já tinha feito alguns vlogs, mas nenhum viralizou tanto quanto o da Aurora. Então, a ideia foi seguir com o processo de humanizar o meu negócio. Tanto que, no início, o perfil da Aurora era o meu próprio. Só que percebi no terceiro dia, quando um dos vídeos estava chegando perto dos 10 milhões de visualizações, que a maioria das pessoas que estavam ali queria consumir apenas conteúdos de pets. Não estavam interessados no mercado vegano. Então, troquei a página e coloquei um foco na Aurora. Claro que funciona como um funil, já que eu comento lá também e jogo as pessoas para o meu perfil do Instagram. Mas, no final, tudo gira em torno da Aurora.”

O futuro

Além de incentivar a adoção consciente, ela também já pensa em aumentar a família. “Se eu puder ter até uma girafa, eu quero! Você não precisa amar um animal, mas minimamente respeitar e entender que é uma outra vida.”

Caladdo também acredita que a reação de Aurora ao ver outros cachorros está dando bastante incentivo para que ela aumente a família em breve. “Tem poucos momentos no dia em que o rabo dela fica abanando e um deles é quando ela encontra um amiguinho na rua. Então, sim, faz parte do plano ela ter irmãozinhos”, promete.

Fonte: Revista Marie Claire

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