Segundo a doutora em comportamento felino na empresa WellFelis, Juliana Damasceno, a rotina do gato precisa ser assídua por conta da natureza territorialista do animal. “Gato é um animal territorialista. Ele determina o território com os recursos que precisa na natureza e faz o mesmo dentro de casa. Para o bem-estar dele, esse controle territorial é crucial e está relacionado com a rotina, com a percepção temporal”.
É necessário respeitar os momentos de relaxamento do gato, e por isso não é correto acordar os gatos durante suas habituais sonecas a tarde. “Esse momento de inatividade é muito importante para eles”, fala Juliana.
Registros de gatinhos deitados em notebooks são bonitinhas, mas denotam muito da relação do gato e do tutor. “Provavelmente são gatos que não têm aquele contato diário e estão querendo chamar atenção, aproveitando que o tutor está em casa”, conta a doutora. “Isso acontece, porque o tutor não tem os horários de atenção consistentes.”
Em caso de falta de horários com atenção constante, é recomendado o tutor colocar a cama do gato próxima ao local de trabalho, criando um espaço agradável para ele. Outro ponto é fazer isso sem dar bronca no animal: “Você pode falar ‘não’, mas a repreensão não é entendida como ‘estou errado. Você coloca a caminha no lugar certo e ele deve ir para lá.”
“O gato é muito fácil de redirecionar desde que você seja sutil assim como ele é. Não adiantar usar a mesma comunicação dos cães com os gatos. Não vai ser a mesma resposta, é uma espécie muito diferente.”
Com quatro gatos em casa, Juliana adaptou parte da mobília para gatos. Ela tem, por exemplo, prateleiras para felinos, e coloca uma caminha em cima da mesa e deixou outra no chão. Juliana conta que durante a entrevista todos estavam deitados próximos a ela sem ficarem incomodados.
“Faça um local confortável, aconchegante pro gato, perto de você, mas não fique interagindo fora do horário.”
Em relação ao horário de brincar, Juliana diz que o pico da atividade dos gatos é no início da manhã e à noite, momentos em que pessoas que moram na casa normalmente estão de volta. É importante ter esses momentos de diversão para que o gato não sofra na volta do trabalho presencial.
Como identificar um gato irritado
Segundo Juliana Gil, veterinária comportamentalista da clínica PsicoVet, os gatos tendem a ficar incomodados com a interação excessiva dos moradores da casa.
Fugir do carinho, ficar de costas ao tutor, se manter em seus locais favoritos e isolados indicam muitas vezes que estão irritados.
“O que acontece é que as pessoas estão em casa em um momento emocional difícil, então a tendência é que elas vão procurar ficar como gato, abraçar, pegar no colo por mais tempo”, diz Juliana.
Carlos Gabriel Dias, da clínica veterinária The Cat From Ipanema, diz que é preciso que os tutores presentem atenção e respeitem a personalidade dos seus gatos. “Se você olha para o animal e ele está mostrando comportamentos diferentes do habitual pode ser um sinal também.”
Outros comportamentos que podem indicar alterações que, necessitam muitas vezes de ajuda médica, é o gatinho comer e dormir demais. Outra questão possivelmente preocupante é o gato deixar de fazer coisas que normalmente fazia, como subir em prateleiras, arranhar.
Respeitar os espaços que os gatos determinam como deles é relevante para evitar a irritação dos animais. “Eles precisam ter a certeza de um local em casa que ninguém vai acessar. Então se eles estiverem lá, não é para mexer”, diz.
Crianças x gatos
Caso crianças e gatos não se deem muito bem em dias normais, no período de férias escolares a casa pode ficar um caos.
A veterinária Juliana Damasceno sugere aproximar as crianças para a rotina de brinquedos e de manutenção de limpeza do gato. “Tenho feito brinquedos para gatos em casa, com caixa de papelão. As crianças podem ser envolvidas para pintar e até construir junto mesmo.”
“É preciso que as atitudes sejam recompensadoras para os dois e sejam previsíveis, consistentes e positivas pro gato.”
Ela lembra que gatos não gostam de ser apertados e nem toda hora ficar no colo, ações comuns ás crianças: “Tem que ensinar que ele gosta de carinho onde ele está, gosta de carinho na cabeça, no queixo, nas bochechas, brincadeiras com varinhas, penas.”
“A gente tem que envolver a criança na brincadeira e na responsabilidade”, completa Juliana Gil. Ela também recorda da importância da supervisão de adultos nessa interação gatos e crianças.
Quanto as brincadeiras, a especialista recomenda separar dois momentos do dia para brincar: “Você brinca com os gatos e vai alternando os brinquedos, assim eles ficam sempre interessantes e estimulantes pro animal.”
“Este é o momento de aproveitar que você está em casa para fazer tudo que o veterinário pede, mas você sempre diz que não faz porque não tem tempo”, explica o veterinário.