Enquanto os olhos se voltam para a Conferência do Clima (COP30), em Belém, o alerta de cientistas sobre os impactos da crise climática sobre a biodiversidade segue a todo volume. As mudanças do clima lideram a lista de ameaças aos Patrimônios Mundiais da Natureza, como destaca relatório da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), divulgado em outubro deste ano. E são também a ameaça que avança mais rapidamente.
Essa é a quarta edição do relatório, publicado desde 2014 e faz um levantamento global das ameaças em sítios que receberam título de Patrimônios Mundiais Naturais. O estudo analisa 271 sítios reconhecidos pela UNESCO e alerta que 117 deles (43%) sofrem com os impactos da crise climática. Desde 2020, ano da edição anterior, novos 31 sítios entraram para a lista dos ameaçados pelas alterações no clima.
Sítios reconhecidos por sua rica biodiversidade estão entre os mais afetados.
O relatório aponta ainda que pouco mais da metade (57%) apresenta sinais positivos de conservação. Esse valor representa uma queda de 5% em relação a 2020.
Os efeitos das mudanças do clima já superaram outros problemas, como espécies exóticas invasoras, que ameaçam 30% dos patrimônios naturais avaliados. Doenças que impactam a flora e fauna local também apresentaram um crescimento alarmante. De acordo com o levantamento de 2025, este é o principal perigo para 23 localidades (9%). Em 2020, eram apenas cinco.
Os problemas estão interligados e são potencializados pelas mudanças climáticas. Variações bruscas de temperaturas e chuvas propiciam a propagação de espécies invasoras, e podem alterar as condições para patógenos.
O turismo insustentável, junto com a expansão urbana, industrial e até de infraestruturas turísticas são a terceira ameaça mais comum nos patrimônios naturais. O fluxo de visitantes também pode facilitar a dispersão de patógenos, alertam os pesquisadores.
O documento ressalta a necessidade de estudos para se prever os efeitos cascatas destes perigos, que põem em risco não somente os ecossistemas como a própria saúde humana.
“Estes são alguns dos locais mais notáveis do mundo, e abrigam uma biodiversidade e geodiversidade extraordinárias. Eles sustentam comunidades, inspiram gerações e nos conectam à nossa história comum. O novo Relatório sobre o Patrimônio Mundial da IUCN mostra que as ameaças estão aumentando e que são necessários esforços mais intensos. Devemos nos unir com ações mais comprometidas no terreno e maiores investimentos para garantir que esses tesouros insubstituíveis perdurem – para a natureza, para as pessoas e para as gerações futuras”, pontua a diretora-geral da IUCN, Grethel Aguilar.
Patrimônios Naturais no Brasil
No levantamento da IUCN estão nove Patrimônios Mundiais Naturais localizados no Brasil. Destes, quatro foram classificados como “Positivas, mas com algumas preocupações”, e outros cinco descritos enquanto “Seriamente Preocupantes”.
A preocupação sobre as UCs brasileiras inclui as ilhas de Fernando de Noronha e o Atol das Rocas, o Parque Nacional do Iguaçu, o Pantanal, as Reservas da Mata Atlântica da Costa do Descobrimento e as Reservas de Mata Atlântica do Sudeste.
O estudo da IUCN enxerga que a principal ameaça aos sítios de patrimônios naturais na América do Sul são hoje os impactos do turismo predatório e de massa. Em 2020, a principal ameaça era a atividade pecuária e a expansão de pastos.
No pódio estão também os efeitos das mudanças climáticas, em segundo, e incêndios florestais na terceira colocação.
Já as quatro localidades tidas como bem conservadas são o Complexo de Conservação da Amazônia Central, o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, a região dos parques nacionais da Chapada dos Veadeiros e das Emas, e o patrimônio natural e cultural entre Paraty e Ilha Grande, no litoral sul do estado do Rio de Janeiro.
Fonte: O Eco