Embora as avaliações do Centro de Previsão Climática da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos indicassem que teríamos o retorno do La Niña neste segundo semestre, parece cada vez menos provável que o fenômeno venha a ocorrer este ano. Previsões elaboradas pelo Instituto Internacional de Pesquisa para Clima e Sociedade (IRI), vinculado à Universidade de Columbia indicam que a fase de neutralidade (sem La Niña ou El Niño) deverá prevalecer.
Os fenômenos El Niño e La Niña desempenham papéis fundamentais no clima em diversas partes do planeta. Para o Brasil, o El Niño se traduz em chuvas intensas na região sul e períodos de estiagem na região norte. Isso ocorreu este ano com as fortes chuvas no Rio Grande do Sul e seca intensa na Amazônia.
Com o La Niña o panorama é o inverso. Ocorre uma redução de chuvas na região sul e aumento das chuvas na região norte. Isso também ocorreu há poucos anos, especialmente com uma forte estiagem que castigou o Rio Grande do Sul.
Os dois fenômenos se alternam como em uma gangorra. O indicador utilizado para aferir para qual lado essa gangorra irá pender é a temperatura média das águas do Oceano Pacífico equatorial.
Utilizam-se os valores de temperatura coletados em um intervalo de 30 anos no Oceano Pacífico equatorial. Essa é a referência climatológica que serve como base para determinar o que é considerado “normal” e identificar desvios ou anomalias. Com uma temperatura de 0,5 °C ou mais acima dessa média climatológica, temos um El Niño. Quando a temperatura fica 0,5 °C ou mais abaixo da média, temos um La Niña.
Quando um determinado desvio (para mais ou para menos) se mantém por três meses ou mais, é possível afirmar para qual lado a gangorra realmente inclinou. Esse é um período de espera para a atmosfera responder à variação da temperatura oceânica. Quando isso acontece, temos o chamado acoplamento oceano-atmosfera.
Previsões
A evolução da temperatura no Oceano Pacífico equatorial, ao longo de meses, permite prognosticar o comportamento da gangorra. As temperaturas em superfície e subsuperfície são coletadas com o uso de boias que transmitem os dados via satélite. Esses dados são repassados a uma série de institutos meteorológicos e climatológicos em diversos países que elaboram seus prognósticos.
O Centro de Previsão Climática (CPC) da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos faz um compilado dessas previsões de diversos institutos e indica qual a probabilidade de ocorrência do El Niño ou La Niña. Essa previsão combina a análise estatística e a interpretação subjetiva por meteorologistas especializados em uma abordagem de consenso. Essa é a previsão oficialmente utilizada e divulgada. Foi ela que indicou — e continua a indicar — que teremos um La Niña ainda este ano.
Há outra previsão realizada pelo Instituto Internacional de Pesquisa sobre Clima e Sociedade (IRI), vinculado à Universidade de Columbia que utiliza uma abordagem um pouco diferente. Ela utiliza modelos climáticos globais para gerar previsões. Mas, não há interferência de interpretações subjetivas feitas por meteorologistas ou climatologistas. Atualmente, esse modelo indica que não teremos La Niña. Essa situação permaneceria até a metade de 2026, quando teríamos a volta do El Niño.
Os dois modelos (C|PC e IRI) costumam convergir em suas previsões. Entretanto, o modelo da Universidade de Columbia tem se distanciado gradualmente das previsões do Centro de Previsão Climática desde a metade do ano.
El Niño permanente
Há cientistas que consideram a possibilidade de entrarmos em um El Niño permanente, devido ao aquecimento das águas oceânicas. Não é o caso de considerar que isso já está acontecendo. Isso seria muito prematuro, pois não é a primeira vez que dois El Niños se sucedem apenas com um período de neutralidade entre eles. Isso já ocorreu na segunda metade dos anos 1960 e 1970. Também aconteceu entre 2002 e 2005. Portanto, essa ausência do La Niña pode ser considerada normal. Fica o alerta, entretanto, de que o La Niña prognosticado não ocorreu por conta de um aquecimento oceânico cada vez mais intenso.
Fonte: CNN