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DIVERSOS FATORES

Mudanças climáticas reduzem em 50% o nascimento de tartarugas-da-amazônia e tracajás

Queimadas e cheias dos rios atrasaram ciclo reprodutivo de quelônios na Amazônia.

20 de dezembro de 2024
Fernanda Machado
4 min. de leitura
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Foto: Antônio Lucas

O nascimento de quelônios nativos amazônicos, como tartarugas e tracajás, no maior berçário do Brasil, localizado no Vale do Guaporé, em Rondônia, sofreu uma drástica redução em 2024. A estimativa é de que apenas 700 mil filhotes venham a nascer nesta temporada, menos da metade dos 1,4 milhão registrados em 2023.

Segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), os eventos climáticos extremos deste ano provocaram um efeito cascata que atrasou o ciclo reprodutivo das tartarugas-da-amazônia (Podocnemis expansa) e tracajás (Podocnemis unifilis), principais espécies protegidas na região.

Os impactos incluem uma seca histórica, intensa fumaça de queimadas, cheia dos rios e temperaturas recordes. Esses fatores desorientaram as tartarugas e dificultaram a chegada delas às praias de desova.

“Com a baixa visibilidade, elas demoraram mais do que o normal, o que gerou um atraso no ciclo reprodutivo e comprometeu a quantidade de filhotes”, explica o biólogo José Carratte.

O Vale do Guaporé é o maior tabuleiro de desova do país e um dos maiores do mundo, com sete praias – cinco no lado brasileiro e duas no lado boliviano. No entanto, das cinco praias brasileiras, apenas uma registrou eclosão de ovos em 2024.

De acordo com o superintendente do Ibama em Rondônia, César Luiz Guimarães, a seca extrema ampliou os bancos de areia das praias, o que expôs ainda mais os filhotes recém-nascidos a predadores e ao calor intenso.

“Os filhotes levam mais tempo para atravessar os bancos de areia até alcançar o rio, ficando vulneráveis a urubus, jacarés e aves predadoras”, ressalta César.

Cheia dos rios e inundação dos ninhos

Com a chegada das chuvas em dezembro, os rios da região começaram a subir rapidamente, alagando os ninhos ainda ativos. Esse fenômeno está causando a morte de milhares de filhotes antes mesmo de emergirem.

Apesar do esforço conjunto do Ibama, Associação Comunitária e Ecológica do Vale do Guaporé (Ecovale), Programa Quelônios da Amazônia e voluntários da região, que realizaram uma força-tarefa neste domingo (15), os números permanecem preocupantes.

“Identificamos os ninhos e resgatamos mais de 200 mil filhotes, mas é uma corrida contra o tempo para salvá-los”, afirma Deyvid Muller, biólogo Ecovale.

O fundador da Ecovale, José Soares Neto, descreve o momento como satisfatório e de muito orgulho. “É muito legal ver os filhotinhos saindo daquele buraco com areia pesada por conta da água”.

Predadores e comércio ilegal

Mesmo após alcançarem o rio, os desafios continuam. Espécies invasoras, como o pirarucu, estão se tornando novos predadores desses quelônios. Além disso, o comércio ilegal de tartarugas e seus ovos também persiste.

Fonte: g1

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