Um estudo traz um alerta para o futuro dos litorais em todo o mundo: até o final deste século, quase metade das praias arenosas pode desaparecer devido aos efeitos das mudanças climáticas. O trabalho, que contou com a participação do pesquisador brasileiro Pedro Pereira, vinculado ao programa de pós-doutorado da FAPESP na Universidade de São Paulo (USP), foi publicado na renomada revista Nature Climate Change.
A pesquisa, que analisou dados de satélite dos últimos 35 anos, projetou que, dependendo do cenário de emissões de gases de efeito estufa, entre 25% e 48% dessas praias sofrerão uma erosão severa. Esse processo não é apenas uma questão de perda de beleza natural, mas uma ameaça direta a infraestruturas, economias locais e ecossistemas costeiros.
Por que as praias estão desaparecendo?
O principal motor desse fenômeno é o aumento do nível do mar, impulsionado pelo derretimento das calotas polares e glaciares. Combinado a esse fator, estão a maior frequência e intensidade de eventos climáticos extremos, como tempestades e ressacas, que “lavam” a areia para o mar. A ação humana, através da construção de barragens e edifícios muito próximos à costa, também interrompe o fluxo natural de sedimentos que alimentam as praias.
“O que mais nos surpreendeu foi a alta sensibilidade das praias ao aumento do nível do mar. Mesmo que consigamos estabilizar o clima, um certo grau de erosão já é inevitável”, explica Pereira.
Cenário crítico para o litoral brasileiro
O estudo tem um recorte importante para o Brasil. Enquanto a média global de praias sob alto risco de erosão é de 15%, no Nordeste brasileiro esse índice salta para mais de 40%. Estados como Ceará e Piauí são os mais vulneráveis. No Sudeste, litorais como o do Rio de Janeiro também aparecem como áreas de alto risco.
Isso significa que cidades turísticas e comunidades que dependem do mar podem enfrentar sérios problemas com o avanço do mar sobre vias, imóveis e comércio.
Há solução? A janela de oportunidade está se fechando
Os pesquisadores são enfáticos ao afirmar que a redução drástica das emissões de carbono é a medida mais crucial para mitigar essa perda em grande escala. Um cenário de baixas emissões poderia evitar até 40% do retrocesso costeiro previsto.
Além da ação global contra as mudanças climáticas, são necessárias soluções baseadas na natureza, como a restauração de manguezais e recifes, que atuam como barreiras naturais. O gerenciamento costeiro também precisa ser revisto, limitando novas construções em áreas de risco e promovendo a realimentação artificial de praias em casos críticos.
A mensagem final do estudo é clara: o destino das nossas praias está intrinsecamente ligado às decisões que a humanidade tomar hoje. A preservação desses ambientes icônicos depende da nossa capacidade de agir contra a crise climática.
Fonte: Instituto Humanitas Unisinos