O ano de 2025 começou particularmente devastador no estado norte-americano da Califórnia. Acostumado com fortes incêndios florestais durante o verão, a região enfrentou episódios de fogo em pleno inverno. As chamas atingiram sua maior metrópole – Los Angeles – onde alguns dos bairros mais caros dos EUA foram queimados.
De acordo com o Guardian, os números até a tarde deste domingo (12/01) indicavam 16 mortes confirmadas e mais de 10 mil construções, entre residências e prédios comerciais, afetadas pelos cinco fogos ativos na região de Los Angeles – os incêndios de Palisades, entre Malibu e Santa Monica; Eaton, em Pasadena; Kenneth, perto de Calabasas; Hurst, em Sylmar; e Lidia, em Acton. Estes são os incêndios mais destrutivos em LA em mais de 40 anos.
Segundo a Forbes, entre as personalidades que tiveram suas casas destruídas, estão a socialite Paris Hilton, e os atores Billy Crystal, Cary Elwes, Eugene Levy, James Woods, Mel Gibson e Milo Ventimiglia. A Reuters destacou que os incêndios nos bairros mais ricos acabaram eclipsando as chamas em áreas menos abastadas de Los Angeles, como Altadena, onde a população afetada se sente abandonada pelo poder público.
Um dos maiores acervos privados de peças históricas de arte do mundo também está ameaçado pelas chamas. Os complexos do Getty Center em Brentwood e da Getty Villa em Malibu estão fechados por conta da proximidade do incêndio de Palisades. Um princípio de fogo no entorno da Getty Villa foi aplacado no começo da semana passada, mas a região segue sob alerta, de acordo com o NY Times.
Em uma triste ironia, essas peças são parte da coleção particular acumulada pelo magnata petroleiro J. Paul Getty (célebre por ter pechinchado o valor do resgate de seu neto sequestrado, J. Paul Getty III, em 1973) como forma de resguardar da cobrança de impostos seus lucros obtidos a partir dos combustíveis fósseis. A riqueza que permitiu a construção dessa coleção é agora a ameaça climática que pode consumi-la em chamas.
Os incêndios fora de época na Califórnia dificilmente aconteceriam em um mundo sem o aquecimento causado pela queima de combustíveis fósseis nos últimos 170 anos. ABC News, Associated Press, Axios, BBC, Guardian, LA Times, NBC News e TIME, entre outros veículos, repercutiram os alertas de cientistas sobre o impacto da crise climática nos episódios de fogo extremo em Los Angeles.
De forma geral, as chamas deste começo de ano foram intensificadas a partir de uma mudança brusca de clima úmido para extremamente seco, o que os climatologistas chamam de “chicote hidroclimático”. Um estudo publicado na semana passada na revista Nature aponta que esse fenômeno está ficando mais frequente e potente por causa das mudanças climáticas.
No caso da Califórnia, as chuvas recordes da última primavera e uma temporada de incêndios mais amena no verão deixaram um vasto estoque de vegetação que ficou ressecado com o clima bem menos chuvoso deste inverno. Os ventos fortes também contribuem para espalhar as chamas mais rapidamente.
As origens dos incêndios ainda não estão claras. É possível que o fogo tenha surgido de forma natural, mas as autoridades da Califórnia não rejeitam a possibilidade de que pelo menos alguns focos tenham sido causados por ação humana ou pela rede elétrica.
Fonte: ClimaInfo