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GRAVIDADE

Mudanças climáticas podem causar perda de vegetação em 99% da Caatinga até 2060, alerta estudo da Unicamp

Áreas mais afetadas serão as chapadas Diamantina e do Araripe, além de parte do Planalto da Borborema. Banco de dados utiliza mais de 400 mil registros relacionados a cerca de 3 mil espécies.

9 de julho de 2023
4 min. de leitura
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Caatinga em Lajes do Cabugi, no Rio Grande do Norte — Foto: Willianilson Pessoa

As mudanças nos padrões de chuvas e temperatura podem causar a perda de espécies vegetais em 99% do território da Caatinga até 2060, aponta um estudo da Unicamp. A projeção revela ainda que as áreas mais afetadas serão as chapadas Diamantina e do Araripe, além de parte do Planalto da Borborema.

O levantamento foi realizado a partir de um banco de dados com mais de 400 mil registros relacionados à ocorrência de aproximadamente 3 mil espécies. Com a ajuda de métodos estatísticos e algoritmos de inteligência artificicial, os pesquisadores identificaram como cada planta respondia às variações características do clima.

Primeiro autor da pesquisa, o professor Mário Moura, do Instituto de Biologia, explica que o mapeamento das espécies considerou dois tipos de vegetação: a arbórea, que geralmente consiste em árvores de grande porte; e a não arbórea, que inclui cactos, gramas e capins, por exemplo.

“Nós percebemos que, no cenário otimista, 50 espécies de plantas poderiam ser extintas na Caatinga, e no cenário pessimista esse número chegaria a 250. Então 99% do território vai ter perda de espécies, especialmente a região Sul do bioma e a Noroeste, que são pontos turísticos muitas vezes”, afirma o pesquisador.

Cenários possíveis

Após a junção das informações sobre a ocorrência de espécies e variações do clima, o próximo passo foi cruzar os dados com os cenários de mudanças globais disponibilizados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês).

“Uma vez que identificamos essa relação entre ocorrência da espécie e clima, podemos pegar os mapas de clima do futuro e projetar essa mesma relação. […] No final das contas, fazendo todas essas combinações, foram quase 1,5 milhão de mapas gerados”, detalha Moura.

Os mapas revelaram, ainda, que 40% das comunidades de espécies vegetais da Caatinga devem passar por um processo de simplificação, no qual espécies raras e exclusivas a uma região são substituídas por plantas comuns, tornando o bioma menos variado.

“É como se você pegasse a biodiversidade, colocasse num liquidificador e batesse. Isso reduz um pouco a eficiência de todos os serviços ecossistêmicos, ou a própria resiliência que essa biodiversidade pode ter aos impactos do clima”, diz.

Consequências

 

Presente exclusivamente no Brasil, a Caatinga abrange 10% do território nacional, ainda que aproximadamente um terço da extensão do bioma tenha sido convertida em áreas agrícolas, e abriga cerca de 30 milhões de pessoas, segundo o pesquisador.

A perda de espécies vegetais afeta diretamente o ecossistema, prejudicando o processo de fotossíntese, aumentando a concentração de gás carbônico na atmosfera e acentuando os efeitos das mudanças climáticas.

“Quando a gente fala que tem uma floresta de pé, tem carbono no tronco, nas raízes e nas folhas da floresta. Quando tem desmatamento, você perde aquela vegetação que estava fazendo fotossíntese, então o sequestro de carbono que aquela vegetação fazia, você deixou de ter”, explica Moura

Para o pesquisador, os impactos climáticos não podem ser revertidos, apenas atenuados. Para isso, a esperança é de que estudos como esse possam orientar as esferas pública e privada em direção a políticas de preservação ambiental.

“É a última década que a humanidade tem para tentar frear isso. É como se você tivesse uma bola de neve para descer na montanha: vai chegar um ponto ali em que você não consegue segurar mais essa bola de neve. Ela vai embora e você não consegue frear”, analisa.

Caatinga no Rio Grande do Norte — Foto: Willianilson Pessoa

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