As crises ambientais que assolam a humanidade não estão isoladas umas das outras; elas interagem entre si, se propagando e se agravando mutuamente, o que torna ações isoladas ineficazes e contraproducentes. O alerta é da Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES), que divulgou nesta 4a feira (18/12) um relatório histórico que descreve as interconexões das crises de biodiversidade, mudanças do clima, insegurança hídrica e alimentar, e de saúde pública.
Batizado de Nexus, o relatório sintetiza o estado da arte da ciência sobre as crises ambientais e aborda as interligações entre elas, além de oferecer aos tomadores de decisão 70 opções de respostas específicas para maximizar os cobenefícios em cinco “elementos nexos”: biodiversidade, água, alimentos, saúde e mudanças climáticas.
Segundo a IPBES, as conexões entre as crises ambientais têm como pano de fundo dois problemas da economia global contemporânea: o consumo excessivo de recursos naturais e a insustentabilidade das práticas produtivas, tanto na indústria quanto na agricultura. Esses problemas intensificam a pressão sobre a natureza em diferentes frentes com efeitos mútuos, o que exige respostas holísticas por parte dos governos.
O relatório também destaca a perda crescente da biodiversidade ao redor do mundo, intensificada nas últimas décadas pelas mudanças climáticas. O declínio de espécies da fauna e flora tem impactos diretos em segurança alimentar e nutrição, qualidade e disponibilidade de água, resultados de saúde e bem-estar, resiliência à própria crise do clima, entre outros serviços da natureza.
Outro ponto destacado pelo documento é o papel de impulsionadores socioeconômicos indiretos da perda de biodiversidade, como o aumento do desperdício, o consumo excessivo e o crescimento populacional. Esses elementos intensificam os impulsionadores diretos, como as mudanças do clima, piorando os impactos em todas as partes do nexo.
“Os esforços dos governos e de outros atores muitas vezes falharam em levar em consideração os condutores indiretos e seu impacto nas interações entre os elementos do nexo porque eles permanecem fragmentados, com muitas instituições trabalhando de forma isolada, frequentemente resultando em objetivos conflitantes, ineficiências e incentivos negativos”, explicou Paula Harrison, copresidente do grupo responsável pelo relatório.
Fonte: ClimaInfo