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PROLIFERAÇÃO

Mudanças climáticas estão impulsionando a disseminação de infecções fúngicas letais, alerta estudo

Infecções fúngicas, há muito negligenciadas pela política de saúde global, podem desencadear uma grande crise de saúde pública nas próximas décadas.

23 de maio de 2025
Stuti Mishra
3 min. de leitura
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Folhas de uva Chardonnay afetadas por doença fúngica em Chablis, França. Foto: AP

A crise climática está expandindo rapidamente o alcance global de infecções fúngicas potencialmente fatais, com o aumento das temperaturas permitindo que espécies perigosas prosperem em novas regiões, de acordo com um novo estudo.

Dois importantes patógenos fúngicos — Aspergillus fumigatus e Aspergillus flavus — devem se espalhar mais rapidamente por novas partes da Europa e outras regiões à medida que o aquecimento continua, alertam os pesquisadores.

As descobertas levantam novas preocupações sobre o crescente impacto das doenças fúngicas na saúde, que continuam sendo pouco estudadas em comparação com outras ameaças infecciosas.

Utilizando modelagem climática, pesquisadores da Universidade de Manchester descobriram que o A. fumigatus, que causa aspergilose — uma infecção pulmonar grave e muitas vezes fatal — pode expandir sua área geográfica em 77% até 2100 em cenários de altas emissões. Essa mudança pode expor cerca de nove milhões de pessoas a mais na Europa ao fungo.

Enquanto isso, o A. flavus, que infecta culturas agrícolas e produz aflatoxinas cancerígenas, deve se espalhar por 16% a mais do território global. Sua expansão ameaça tanto a saúde humana quanto a segurança alimentar, especialmente em regiões já vulneráveis ao estresse climático.

“Mudanças em fatores ambientais, como umidade e eventos climáticos extremos, alterarão habitats e impulsionarão a adaptação e disseminação dos fungos”, disse o Dr. Norman van Rhijn, um dos autores do estudo.

As descobertas surgem em meio a uma crescente preocupação de que infecções fúngicas — há muito negligenciadas pelas políticas globais de saúde — possam desencadear uma grande crise de saúde pública nas próximas décadas.

Ao contrário das infecções bacterianas, os fungos são mais difíceis de tratar e resistentes a muitos medicamentos existentes. Apesar da ameaça, menos de 10% das espécies fúngicas estimadas no mundo foram descritas.

Em 2022, a Organização Mundial da Saúde incluiu, pela primeira vez, patógenos fúngicos entre suas ameaças prioritárias. Apesar disso, a pesquisa sobre fungos continua subfinanciada. Em resposta aos riscos crescentes, a Wellcome Trust anunciou mais de £50 milhões em financiamento para pesquisas sobre doenças fúngicas no próximo ano.

“Já vimos o surgimento do fungo Candida auris devido ao aumento das temperaturas, mas, até agora, tínhamos pouca informação sobre como outros fungos poderiam responder a essas mudanças ambientais”, disse o Dr. van Rhijn. “Os fungos são relativamente pouco estudados em comparação com vírus e parasitas, mas esses mapas mostram que patógenos fúngicos provavelmente afetarão a maioria das regiões do mundo no futuro. Aumentar a conscientização e desenvolver intervenções eficazes será essencial para mitigar as consequências.”

Especialistas alertam que a disseminação das infecções fúngicas também pode ser acelerada por eventos climáticos extremos como tempestades, secas e incêndios florestais, todos capazes de dispersar esporos e criar condições ideais para a proliferação de fungos.

Embora o estudo tenha constatado que climas mais quentes podem impulsionar a disseminação fúngica em novas áreas da Europa, algumas regiões da África podem se tornar quentes demais para a sobrevivência de certos fungos.

No entanto, os pesquisadores alertaram que a resiliência dos fungos, seus genomas grandes e alta capacidade de adaptação os tornam aptos a evoluir em resposta a novas condições.

A resistência a antifúngicos também está aumentando, em parte devido ao uso generalizado de fungicidas na agricultura. Muitas infecções apresentam altas taxas de mortalidade, e os tratamentos disponíveis são limitados devido à toxicidade e à semelhança biológica entre fungos e seres humanos.

“Os patógenos fúngicos representam uma séria ameaça à saúde humana ao causarem infecções e perturbarem os sistemas alimentares. As mudanças climáticas agravarão esses riscos”, disse Viv Goosens, gerente de pesquisa da Wellcome.

“Para enfrentar esses desafios, precisamos preencher lacunas importantes na pesquisa. Ao usar modelos e mapas para rastrear a disseminação dos fungos, podemos direcionar melhor os recursos e nos preparar para o futuro.”

Traduzido de The Independent.

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