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ISOLAMENTO

Mudanças climáticas estão empurrando répteis australianos em perigo para a beira da extinção

29 de outubro de 2025
3 min. de leitura
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Foto: Heath Warwick

As alterações climáticas estão a levar muitos répteis nativos da Austrália ao limite da sobrevivência — e as pistas para garantir o seu futuro podem estar escondidas nos registos fósseis. Um novo estudo, publicado na revista Current Biology, resulta de uma colaboração internacional entre o Museums Victoria Research Institute e o Museum für Naturkunde Berlin.

A investigação revela que o Rankinia diemensis, uma espécie ameaçada, tem vindo a ser empurrado, ao longo de milhares de anos, para áreas cada vez mais pequenas e isoladas devido às mudanças climáticas.

Combinando provas fósseis recolhidas em museus de história natural com dados genéticos de espécimes preservados, os investigadores reconstruíram a forma como a espécie reagiu a transformações ambientais no passado — e o que isso poderá significar para o seu futuro.

Jane Melville, curadora principal de vertebrados terrestres no Museums Victoria Research Institute, explica que as alterações climáticas forçaram esta espécie a procurar refúgio em zonas de maior altitude.

“Há cerca de 20 mil anos, durante o último período glacial, os dragões-da-montanha ocupavam uma área muito mais vasta do sudeste da Austrália, incluindo a Ilha Kangaroo e Naracoorte, no Sul do país”, refere.
“Atualmente, essas populações desapareceram. As que restam, em Vitória, Nova Gales do Sul e Tasmânia, estão confinadas a uma distribuição reduzida e encontram-se mais isoladas geneticamente. Se as temperaturas globais continuarem a subir, estes lagartos ficarão sem espaço para onde fugir”, acrescenta.

Recorrendo a tecnologia de microtomografia computadorizada (micro-CT), os cientistas conseguiram identificar minúsculos fragmentos fósseis e, ao combiná-los com dados genómicos de exemplares atuais, traçaram a evolução da distribuição e da diversidade genética da espécie ao longo do tempo.

Os resultados mostram que as populações de baixa altitude já sofreram um declínio genético, enquanto os habitats mais frios e elevados se estão a tornar menos adequados devido ao aquecimento global. Esta tendência faz do Rankinia diemensis um alerta para outras espécies de répteis que partilham o mesmo ecossistema.

Os répteis estão entre os animais mais vulneráveis às alterações climáticas, uma vez que não conseguem regular ativamente a sua temperatura corporal. Padrões semelhantes de distribuição e diversidade genética foram observados noutras espécies, como o Tiliqua nigrolutea, o que indica que várias espécies do sudeste australiano podem enfrentar destinos idênticos.

As coleções de museus de história natural revelaram-se essenciais para esta descoberta. Fósseis, ossos e espécimes preservados no Museums Victoria e noutras instituições oferecem um registo único da biodiversidade australiana ao longo do tempo, permitindo ligar o passado, o presente e o futuro das espécies ameaçadas.

O autor principal, Till Ramm, antigo doutorando do Museums Victoria Research Institute, destaca a importância da nova área científica da paleobiologia da conservação e a necessidade urgente de atualizar as estratégias de preservação face à perda de habitats causada pelas alterações climáticas.

“Aprendendo com o passado, podemos prever e decidir melhor o futuro”, afirma Ramm. “Os nossos resultados mostram a rapidez com que o clima pode perturbar a biodiversidade e porque é que proteger os habitats agora é mais crucial do que nunca”, adianta.

“Ao estudar fósseis e espécimes preservados em museus, conseguimos perceber como as espécies reagiram a desafios ambientais anteriores e aplicar esse conhecimento à conservação futura”, acrescenta Nurin Veis, diretora do Museums Victoria Research Institute. “O passado guarda lições essenciais para proteger a biodiversidade que ainda temos”, conclui.

Os visitantes do Museu de Melbourne podem ver modelos 3D do Rankinia diemensis na galeria do Research Institute e explorar Our Wondrous Planet, a mais recente exposição de ciência e biodiversidade dos Museums Victoria, que convida o público a refletir sobre a importância de cuidar do planeta para as gerações futuras.

Fonte: Greensavers

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