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RONDÔNIA

Mudanças climáticas estão afetando o nascimento de tartarugas no maior berçário do Brasil

19 de dezembro de 2024
3 min. de leitura
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Foto: Pedro Lucas

No Vale do Guaporé, em Rondônia, as mudanças climáticas estão afetando gravemente o nascimento de quelônios nativos da região, como as tartarugas-da-amazônia (Podocnemis expansa) e os tracajás (Podocnemis unifilis). No último domingo (15), durante uma atividade do projeto Quelônios do Guaporé — uma força-tarefa de salvamento no Rio Guaporé — o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) informou que, devido a um efeito cascata no ciclo reprodutivo dos animais, não devem nascer mais do que 700 mil filhotes de tartarugas nesta temporada, número drasticamente inferior aos 1.437.128 registrados oficialmente em 2023.

De acordo com o Ibama e biólogos que acompanham essas espécies há décadas, a razão para isso são especialmente a seca recorde registrada na região Norte, a fumaça de queimadas intensas, a cheia dos rios e as altas temperaturas.

O vale do rio Guaporé é o maior berçário de quelônios do Brasil e um dos maiores do mundo. Em um raio de 30 quilômetros, estão as sete praias desse nascedouro, com cinco no lado brasileiro e duas no lado boliviano. Porém, em agosto, setembro e outubro de 2024, a intensa fumaça das queimadas encobriu o céu da região e prejudicou os animais.

“Essa fumaça desorientou as tartarugas, seja pela falta de visibilidade ou pela dificuldade em avistar predadores naturais. Com isso, elas acabaram demorando mais do que o normal a chegar nas praias para desovar, gerando um atraso que provocou um efeito cascata no ciclo de reprodução”, explicou José Carratte, biólogo que acompanha o projeto e supervisor de Meio Ambiente do Grupo Energisa.

César Luiz Guimarães, superintendente do Ibama em Rondônia, acrescentou que a seca extrema deste ano aumentou o tamanho dos bancos de areia do rio (as praias) e de seus afluentes e isso foi mais um agravante para os animais. “Como eles precisam levar mais tempo para cruzar o banco de areia até o rio, ficam mais expostos aos predadores, como urubus, jacarés e aves, e ao calor forte desta época do ano”, relatou.

Agora, já na época do nascimento, o período de chuva em dezembro começa a elevar o nível dos rios muito rapidamente, provocando o alagamento dos ninhos e dizimando milhares de filhotes.

O Programa Quelônios da Amazônia Guaporé existe há 22 anos e é realizado pelo Ibama e pela Associação Quilombola e Ecológica do Vale do Guaporé (Ecovale), com o apoio do Grupo Energisa. A iniciativa se destina a conservar e proteger quelônios, algumas aves (quero-quero, gaivotas) e lagartos que utilizam as praias do rio Guaporé como local de desova.

Na força-tarefa do dia 15 de dezembro, voluntários resgataram dos ninhos o maior número possível de filhotes de tartarugas-da-amazônia – eles foram colocados em cercas para evitar os afogamentos, sendo possível realizar a soltura ordenada e com maior segurança. Duzentos mil nascimentos foram registrados apenas na data, segundo a iniciativa.

“Nós buscamos identificar os ninhos o mais rápido possível e cavamos para retirar quantos filhotes conseguirmos. Com a elevação da água de maneira muito rápida, ela começa a matar as tartarugas por baixo, inundando os ninhos não apenas por cima, mas também por baixo. É uma corrida contra o tempo para que os recém-nascidos consigam chegar até as águas do rio Guaporé, onde enfrentarão novos desafios”, apontou Deyvid Muller, biólogo da Ecovale.

Dentre esses novos desafios dentro do rio Guaporé e seus afluentes, as pequenas tartaruguinhas são alvo fácil dos gigantes pirarucus, que não são nativos dessas águas. Como espécie exótica invasora, os peixes são um novo predador para os quelônios.

Como é o caso em muitas localidades da Amazônia, o trabalho de monitoramento e comunicação do projeto depende da presença de energia elétrica nas bases. Graças à painéis solares instalados no local, os pesquisadores possuem acesso à internet e podem se comunicar com o Ibama e outros órgãos e instituições, seja para a execução dos trabalhos ou para o envio de denúncias para o órgão fiscalizador.

Fonte: Um Só Planeta

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