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CRISE CLIMÁTICA

Mudanças climáticas e os efeitos nas estradas

Enchentes, deslizamentos de terra e queimadas geram impactos nas rodovias e nos animais silvestres que vivem perto delas.

20 de fevereiro de 2025
Gabriela Schuck de Oliveira
3 min. de leitura
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Ilustração: @cartuns_perdidos

A crise climática no mundo já é uma pauta discutida há décadas e cada vez mais estamos vivenciando os impactos das mudanças no clima devido aos poluentes antrópicos. Até mesmo as rodovias contribuem para a emissão de gases que intensificam o aquecimento global e, ao mesmo tempo, são afetadas pelas consequências desse fenômeno, sendo destruídas por enxurradas e deslizamentos de terra, por exemplo.

Desastres ambientais estão se tornando cada vez mais comuns, mas muitas pessoas ainda não conseguem relacionar esses acontecimentos às mudanças climáticas. O aumento de chuvas fora de época ou precipitações com intensidades além do previsto, secas severas, verões e invernos rigorosos são alguns dos principais sinais dessa crise. Esses distúrbios climáticos geram desastres ambientais, como enchentes, enxurradas, deslizamentos de terra, aumento de incêndios e falta de água; impactos que afetam diretamente as pessoas.

Além dos seres humanos, a fauna também sofre com impactos diretos e indiretos, como a perda de habitat, a mortalidade causada por catástrofes e até mesmo o aumento das interações entre animais silvestres, domésticos e pessoas durante desastres ambientais, o que pode acarretar no surgimento de zoonoses.

O exemplo do Rio Grande do Sul

Ilustração: @cartuns_perdidos

No ano passado, uma grande enchente no Rio Grande do Sul deixou cidades inteiras submersas e a capital enfrentou alagamentos sem precedentes. Durante esse evento, surgiram diversos relatos de peixes, cágados e jacarés “invadindo” a cidade. Na realidade, muitos animais silvestres foram arrastados para diferentes áreas, fugindo de ambientes que se tornaram inóspitos, enquanto a fauna aquática viu sua área de acesso expandida devido ao transbordamento de rios e lagos. Muitas vezes, as estradas se transformam em corredores aquáticos, pois, sem construções no caminho, a água se afunila, ganha velocidade e carrega os animais consigo. Quando o fluxo de água diminui, eles acabam longe de suas áreas de vida originais e expostos a regiões antrópicas.

Esse fenômeno não aconteceu apenas na enchente do ano passado. Com o aumento das chuvas, ruas frequentemente ficam alagadas e animais silvestres acabam surgindo nesses ambientes. Esse é o caso dos jacarés que, por serem animais semiaquáticos, conseguem se deslocar por corredores de água (estradas, ruas e rodovias alagadas). No entanto, mesmo sobrevivendo às enchentes, muitos acabam morrendo, seja por atropelamento ao tentarem retornar ao seu hábitat quando a água baixa, seja por serem abatidos pela população. Por serem predadores, muitas vezes são temidos e mal interpretados. Em grandes cidades, a maioria das pessoas não tem o hábito de conviver com eles e, por medo, preferem matá-los antes de conhecê-los melhor ou acionar os órgãos ambientais para o resgate.

A vida silvestre já enfrenta o desafio de se adaptar às mudanças climáticas, mas também precisa lutar pela sobrevivência diante do contato negativo com os seres humanos. E o mais preocupante é que não temos tempo para mensurar os impactos dos desastres ambientais na fauna, que acaba sendo uma vítima silenciosa em cada catástrofe.

Infelizmente, o cenário não é promissor. Nosso atual modelo de consumo, baseado em um mundo predominantemente capitalista, tem líderes que priorizam o lucro acima de tudo, incentivando atividades que geram emissões de poluentes. Além disso, a alienação da população, alimentada pelo consumo de fake news e pelo descrédito na Ciência, leva muitos a negarem o aquecimento global, o que nos mostra uma realidade sem perspectiva de qualidade de vida futura — nem para nós, nem para todas as outras formas de vida no planeta.

Mas não podemos desistir. Nós, pesquisadores e divulgadores científicos, precisamos unir forças e popularizar informações, pois o único caminho possível é o nosso reconhecimento como parte da natureza e o compromisso com seu cuidado.

Fonte: Fauna News

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