Pesquisadores da Universidade de Durham, no Reino Unido, acompanharam a calota de gelo da Groenlândia ao longo de cinco anos, entre 2016 e 2021, utilizando mapas 3D. Em um estudo divulgado nesta segunda-feira (3) na revista Nature Geoscience, os cientistas emitiram um alerta preocupante: as rachaduras da camada de gelo da Groenlândia estão se abrindo cada vez mais. Culpa da intensificação das mudanças climáticas.
As fendas, também conhecidas como rachaduras ou fissuras, apresentam um formato de cunha e se formam nas geleiras. Elas são um reflexo do derretimento das calotas polares, acelerando o deslocamento e o derretimento das camadas internas de gelo. Esse processo intensifica a perda de volume da camada de gelo na superfície da Groenlândia — que já perdeu 5.091 quilômetros quadrados (km²) de área entre 1985 e 2022.
Para acompanhar a evolução das fendas, os cientistas examinaram mais de 8 mil mapas tridimensionais da superfície, gerados a partir de imagens de satélite de alta resolução ao longo de cinco anos. A comparação desses mapas indicou que o crescimento no número de fendas foi mais expressivo nas camadas de gelo em contato com o oceano, chegando a até 25% de aumento.
“Em um mundo em aquecimento, esperaríamos ver mais fendas se formando. Isso ocorre porque as geleiras estão acelerando em resposta às temperaturas mais quentes do oceano, e porque a água do degelo que preenche as fendas pode forçar fraturas mais profundas no gelo”, disse Tom Chudley, autor principal do artigo, em comunicado. “No entanto, até agora, não tínhamos dados para mostrar onde e com que rapidez isso está acontecendo em toda a camada de gelo da Groenlândia.”
A realidade é destoante na Geleira Jacobshavn, conhecida por produzir cerca de 10% de todos os icebergs da Groenlândia. Por lá, houve uma redução nas fissuras devido a uma desaceleração temporária no deslocamento do gelo durante o período analisado. Essa diminuição ajudou a equilibrar o aumento das fendas em outras áreas, resultando em um fluxo de derretimento relativamente estável ao longo dos anos do estudo.
No entanto, essa aparente estabilidade já se mostra incerta no contexto atual. Isso porque a velocidade do fluxo da geleira Jacobshavn voltou a crescer, indicando que o período de equilíbrio entre a expansão e o fechamento das fendas na camada de gelo pode ter chego ao fim.
“À medida que as fendas crescem, elas alimentam os mecanismos que fazem as geleiras da camada de gelo se moverem mais rápido, levando água e calor para o interior da camada de gelo e acelerando a desprendimento de icebergs no oceano”, explica Ian Howat, coautor do estudo.
Esse cenário trás grande preocupação aos cientistas, pois a geleira, por si só, foi responsável por 4% da elevação global do nível do mar ao longo do século 20. Já a Groenlândia, desde 1992, contribuiu com cerca de 14 milímetros desse aumento. Segundo projeções globais, a quantidade de gelo presente na Groenlândia seria suficiente para elevar o nível dos oceanos em até 7 metros caso todo seu gelo derretesse completamente.
Agora, os pesquisadores irão prosseguir monitorando as geleiras e os impactos das mudanças climáticas no Ártico. “O projeto ArcticDEM continuará a fornecer modelos digitais de elevação de alta resolução até pelo menos 2032. Isso nos permitirá monitorar geleiras na Groenlândia e em todo o Ártico, à medida que elas continuam a responder às mudanças climáticas em regiões que estão passando por taxas de aquecimento mais rápidas do que em qualquer outro lugar da Terra”, finalizou Howat.
Fonte: Revista Galileu