A Terra já ultrapassou seis dos nove limites planetários. As fronteiras são nove elementos do ambiente global que desempenham um papel fundamental na manutenção da estabilidade e da habitabilidade do planeta. Segundo os autores da análise inédita, a extensão pela qual ultrapassamos os níveis considerados seguros nessas questões é resultado das atividades humanas que afetam a Terra.
A ideia por trás do conceito é utilizar o conhecimento científico mais atual sobre a forma que a Terra funciona como um sistema para definir um “espaço operacional seguro” para a humanidade. Isso implica estabelecer limites que indicam até que ponto as atividades humanas podem interferir nos processos críticos sem correr o risco de desencadear mudanças irreversíveis nas condições que sustentam a vida como a conhecemos.
O estudo, realizado pela Universidade de Copenhague, na Dinamarca, e divulgado, nesta quarta-feira (13/09), na revista Science Advances, apresenta, pela primeira vez, métricas para todos os limites. Descobriu-se que seis deles foram ultrapassados: mudança climática, novas entidades (como os microplásticos), integridade da biosfera, mudanças no uso da terra, uso da água doce e fluxo biogeoquímico.
Ainda não foram extrapolados pelos humanos a acidificação dos oceanos, o esgotamento do ozônio estratosférico e a carga de aerossol estratosférico. Ainda segundo os autores, a transgressão está aumentando em praticamente todas as fronteiras, exceto na degradação da camada de ozônio.
Katherine Richardson, professora da Universidade de Copenhaga e líder do estudo, afirma que essa tendência de aumento da exacerbação dos limites é preocupante. “Cruzar seis fronteiras, por si só, não significa necessariamente que ocorrerá um desastre, mas é um sinal de alerta claro. Podemos considerá-lo como avaliamos a pressão arterial. Acima de 120/80 não é garantia de ataque cardíaco, mas aumenta-se o risco”, ilustra. “Para o nosso bem e o dos nossos filhos, precisamos de reduzir a pressão sobre essas seis fronteiras planetárias.”
Integração
Os 29 especialistas que fizeram a análise avaliam que outro resultado importante do trabalho é que ele enfatiza a necessidade de maior atenção nas interações entre as fronteiras. “O foco nas alterações climáticas causadas pelo homem não é suficiente se quisermos proteger o sistema terrestre de danos irreversíveis”, afirma Johan Rockström, diretor do Instituto Potsdam para a Investigação do Impacto Climático (PIK) e integrante do grupo.
“Depois das alterações climáticas, a integridade da biosfera é o segundo pilar da estabilidade do nosso planeta. A nossa investigação mostra que a mitigação do aquecimento global e a preservação de uma biosfera funcional para o futuro têm de andar de mãos dadas”, sublinha o coautor Wolfgang Lucht, chefe do Departamento de Análise do Sistema Terrestre do PIK.
Fonte: Correio Braziliense