Uma recente pesquisa revela que as variações de temperatura provocadas pelas mudanças climáticas têm um impacto duplamente nocivo: não só desestabilizam as populações de fauna, mas seus efeitos se intensificam à medida que as temperaturas mudam mais rapidamente.
Na pesquisa, publicada na revista Nature, uma equipe internacional de cientistas descobriu que as alterações térmicas — tanto o aquecimento quanto o resfriamento — incentivam mudanças na composição das espécies em um ecossistema.
Os resultados também indicam que a adaptação comportamental e as modificações nas interações entre as espécies não são suficientes para manter a composição das espécies em face de taxas mais elevadas de variação térmica.
As descobertas do estudo são relevantes porque os impactos das variações de temperatura frequentemente não eram evidentes em ecossistemas terrestres ou aquáticos. Embora os efeitos nas espécies marinhas sejam mais claros e, portanto, mais fáceis de quantificar, plantas e animais terrestres se adaptam de formas mais discretas, afirmaram os pesquisadores.
Diferente da fauna marinha, a terrestre frequentemente pode se deslocar por distâncias curtas em busca de novas áreas que satisfaçam melhor suas necessidades térmicas. Apesar de isso poder atenuar um pouco os efeitos das mudanças de temperatura, esta pesquisa conclui que as criaturas da terra ainda são suscetíveis à desestabilização e à substituição em virtude das variações térmicas.
No artigo, os cientistas observaram as taxas de substituição de espécies, que se referem à perda e ganho de espécies ao longo do tempo. Embora isso ocorra naturalmente, descobriram que a taxa de substituição está acelerando devido às mudanças de temperatura mais velozes.
Se essa tendência continuar, espécies podem ser extintas e ecossistemas podem começar a se desintegrar, conclui a pesquisa. As maneiras mais eficazes de evitar esses cenários são: impedir um aumento maior no aquecimento global, preservar ambientes com uma diversidade de temperaturas, e reduzir a interferência em ecossistemas naturais. Os benefícios incluem uma vida selvagem mais rica, água pura e ar fresco.
A importância da diversidade de ambientes
Além disso, os pesquisadores descobriram que as espécies em ecossistemas com habitats menos variados eram mais vulneráveis às mudanças de temperatura do que aquelas em áreas com maior diversidade térmica. Por exemplo, se uma pessoa estivesse em um campo aberto durante o verão e começasse a sentir calor excessivo, não haveria um lugar mais fresco para se esconder. Mas se uma floresta estivesse nas proximidades, ela poderia simplesmente se mover para a sombra de uma árvore para se refrescar.
O artigo conclui que as plantas e os animais se beneficiam da variação de habitat para se proteger contra grandes alterações de temperatura. Viver próximo a essas “zonas de alívio térmico” permite que os organismos se movimentem em busca de conforto, em vez de serem extintos ou totalmente substituídos.
Seja devido a condições naturais ou ações humanas, nem todos os ambientes possuem uma diversidade de temperaturas suficiente para proteger as espécies que os habitam. Esses animais são os mais suscetíveis às rápidas mudanças de temperatura.
Entender as diferentes necessidades das espécies que vivem em ambientes mais ou menos variados pode auxiliar a sociedade a identificar quais ecossistemas demandam mais atenção e proteção, conclui o estudo.
A influência da atividade humana na substituição de espécies
É crucial ressaltar que os pesquisadores detectaram que os impactos humanos, como uso da terra, poluição e a introdução de espécies invasoras, exacerbam os efeitos das alterações térmicas na substituição de espécies. Isso pode ser devido à diminuição da diversidade de paisagens e ao aumento do estresse em espécies que já estão próximas de seus limites térmicos.
Fonte: EcoDebate