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CLIMA EXTREMO

Mudança climática está causando “ondas de frio” no oceano, ameaçando a vida marinha

Estudo inédito relata um efeito pouco conhecido das mudanças climáticas: o fenômeno também causa um resfriamento das águas oceânicas, podendo matar a megafauna marinha

19 de abril de 2024
Tiago Robles
3 min. de leitura
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Foto: Ilustração | Freepik

Os últimos anos tem mostrado um aquecimento das águas oceânicas, com ondas de calor marinhas sem precedentes ocorrendo em várias partes do globo, como no Nordeste brasileiro até na região Antártica, algo que já está bem documentado. Inclusive, esse fenômeno está se tornando mais intenso e persistente devido às mudanças climáticas, como já noticiamos aqui.

Mas não se trata apenas de calor. A mudança climática também tem outro aspecto pouco relatado, segundo um estudo recente publicado na revista Nature Climate Change: ela está causando “ondas de frio” no oceano, ameaçando a biodiversidade marinha. Veja mais informações abaixo.

“Ondas de frio” no mar?

É isso mesmo, o outro extremo também pode acontecer nos oceanos. Às vezes, mudanças nos padrões dos ventos e nas correntes oceânicas, devido às mudanças climáticas, fazem com que as temperaturas da superfície do mar (TSM) diminuam repentinamente (10ºC ou mais) em poucos dias (um ou dois). Quando estas condições persistem durante vários dias ou semanas, a região afetada experimenta uma “onda de frio” marinha.

Isto acontece quando os ventos e as correntes forçam as águas costeiras a se deslocarem para o mar, sendo então substituídas por baixo pelas águas frias das profundezas. Este processo é conhecido como ressurgência.

Um “onda de frio” marinha ocorre quando as temperaturas da superfície do mar diminuem rapidamente em pouco tempo, persistindo por vários dias ou até semanas.

Os autores do estudo investigaram as potenciais consequências desses fenômenos em locais específicos ao longo da costa sudeste da África do Sul e da costa leste da Austrália. Primeiramente, eles observaram que as condições climáticas que impulsionam as ondas de frio marinhas se tornaram cada vez mais comuns nas últimas quatro décadas nestas regiões.

Ou seja, houve uma tendência crescente no número de eventos anuais de ressurgência nos últimos 40 anos, e também notaram um aumento na intensidade desses eventos de ressurgência, que ocasionam as ondas de frio marinhas.

Alguns impactos desses eventos

Um exemplo, que inclusive motivou a pesquisa, foi a onda de frio que atingiu a costa sudeste da África do Sul em março de 2021, matando pelo menos 60 animais de 81 espécies, incluindo raias, peixes tropicais e tubarões. As temperaturas da água diminuíram de 21°C para 11,8°C em menos de 24 horas, e o evento durou sete dias. Na África austral (Hemisfério Sul), tubarões-touro, tubarões-baleia e arraias-jamanta também já morreram devido a esse fenômeno, principalmente nos últimos 15 anos.

Para descobrir os impactos desse fenômeno no deslocamento sazonal de animais marinhos, os pesquisadores estudaram os tubarões-touro (Carcharhinus leucas), marcando-os com dispositivos de rastreamento que registravam a profundidade e a temperatura da água enquanto se moviam. Esses tubarões tem um movimento sazonal: eles migram para regiões de ressurgência (mais frias) durante os meses mais quentes. Com o início do inverno, eles migram de volta para águas tropicais quentes.

Os autores observaram alterações nos padrões migratórios sazonais, e com perfis de mergulho mais rasos quando os tubarões transitavam através da região da onda de frio marinha. Além disso, as espécies marinhas nos trópicos tendem a se deslocar para as latitudes mais altas (mais ao sul no Hemisfério Sul) à medida que o planeta aqueceo que as colocaria em risco de exposição a fenômenos repentinos de frio extremo no mar.

O aumento da ressurgência, ou seja, mais eventos de onda de frio marinha, pode fazer com que as mudanças climáticas expandam a distribuição das espécies animais dos subtrópicos, ao mesmo tempo que expõem as espécies migrantes a um maior risco de mortalidade pelo frio.

Fonte: Tempo

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