EnglishEspañolPortuguês

Muda o ano, mas a escravidão segue sob bênçãos

31 de dezembro de 2009
2 min. de leitura
A-
A+

As pessoas sequer sabem direito o que estão comemorando na ‘virada de ano’. É apenas uma gritaria embalada a álcool e com gente perdendo a mão por causa dos fogos de artifício. Isso sim que é começar bem o ano.

2009_01_01_val

E montam um banquete na ceia do dia 31 de dezembro, com repeteco neste 1º de janeiro, conforme o caso. Apesar das promessas de um ano novo, o emparedamento mental segue firme, com alicerces que fixam o especismo e a exploração animal no DNA dos homens e mulheres de bem. A própria refeição do réveillon é um show de horrores. Alguns servem bandejas de focinhos de porco para os convidados, pois ‘o porco fuça para frente’. Um quitute supersticioso e que se faz sem contestar, mas quem perde a liberdade, a vida, a paz e o cheirador é o porco, que não teve a mesma ‘sorte’ do anfitrião.

No dia seguinte, tudo volta ao normal. Alguns poucos ganham muito com a atividade de encarcerar animais por toda a vida, e finalmente matar e resfriar seus restos. E o resto, silencioso e se mantendo ocupado, concorda sem dizer nada. Também tem os que esfolam animais, os que torturam, os que abrem com bisturi, os que fazem dançar em público, os que obrigam a brigar com semelhantes, a carregar peso, os que fazem morrer na ponta da mira, os que acorrentam por toda a vida, os que apedrejam, pisam, esmagam, furam olhos, marcam a ferro, castram a frio e demais demonstrações da criatividade e superioridade humanas.

No entanto, o sistema nos faz acreditar que é uma época de renovação, de recomeço, de esperança de tudo melhorar. Mesmo que o dia a dia seja ditado pelo ritmo da televisão, do futebol, dos escândalos em Brasília e das amenidades das celebridades. Mas se você nasceu vaca ou coelho de laboratório, sua passagem de ano é uma noite que antecede – dias, semanas ou meses – aqueles momentos em que, por seu corpo ser barato e não estar nos alfarrábios jurídicos, haverá a prova viva e dolorosa da ausência de limites do especismo. Vai doer. Será frustrante e apavorante. Não terá volta, nem anestesia, nem a presença materna como consolo. Nenhuma divindade olhará para sua ferida, até porque olhos imaginários não existem. Ninguém vai mastigar mais devagar, pensando no que aconteceu. Pessoas de bem não perderão o sono por sua causa. Vocé é barato, e esta é uma sociedade de consumo. Você nasceu carregando produtos ao redor de seu sistema nervoso e por baixo de sua pele, pelo, escamas ou etc., então as planilhas de cálculo trabalham sem registrar sua dor e ausência de liberdade. Eu lamento, mas este mundo vai te machucar.

Você viu?

Ir para o topo