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SRI LANKA

Mortes de dugongos despertam sentimento de urgência para proteção da espécie

19 de julho de 2021
Malaka Rodrigo (Mongabay) | Traduzido por Gustavo Prado
6 min. de leitura
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Relatos recentes de dugongos aparecendo mortos no Sri Lanka trouxeram grande preocupação sobre os diminutos esforços para conservar este raro e ameaçado mamífero marinho.

As principais ameaças aos dugongos são a caça para coletar a carne do animal, explosões resultantes de pescaria com dinamite, e o emaranhamento dos animais em redes de pesca.

Um projeto, que durou de 2015 até 2018, que planejava criar planos de ação para a conservação dos dugongos, por meio da criação de áreas marinhas protegidas, ainda não foi implementado.

Em um reconhecimento da severidade das ameaças à espécie, o Sri Lanka está pronto para declarar o dugongo como criticamente em perigo pela primeira vez, na sua Lista Vermelha de espécies nacionais ameaçadas.

Foto: Ranil P. Nanayakkara

Samith Fernando é dono de um serviço de turismo para aqueles que desejam passear pela Laguna Puttalam, um ponto turístico situado 130 km ao norte de Colombo, a capital comercial do Sri Lanka. Em 2017, ele disse que avistou um dos mais elusivos mamíferos marinhos que habitam as águas do país: dugongos (Dugong dugon).

Não era um dugongo sozinho, e sim uma família com cinco integrantes, que foram avistados rapidamente antes de desaparecerem nas águas turvas da laguna. Ele nunca mais viu nenhum dugongo depois daquele dia, mesmo operando passeios de barco diários no local, e aquele único encontro permaneceu em sua memória até hoje.

Até que em março deste ano, houve um novo avistamento: um dugongo morto arrastado para uma das ribanceiras da laguna. Duas semanas mais tarde, outro dugongo morto apareceu. Fernando disse que ele não quis ver os animais, com medo de que eles fossem parte da família com a qual ele teve o encontro quatro anos antes.

Ambos mediam 1.5m de comprimento, e por essa razão foram considerados juvenis, com uma idade aproximada de 7 anos de idade, disse Ranil Nanayakkara, do Biodiversity Education and Research (BEAR). Estima-se que dugongos tenham uma expectativa de vida de 70 anos na natureza, o que aponta à uma morte não natural para estes dois indivíduos, disse o pesquisador.

“O primeiro dugongo pode ter sido vítima de uma rede de pesca, mas o segundo, sem dúvida, foi vítima de pescaria com dinamite, devido ao padrão de sangramento presente nos olhos e nas narinas,” disse Nanayakkara, um membro do IUCN/SSC Sirenia Specialist Group.

Caça, explosões e enredamento

No Sri Lanka, dugongos, também conhecidos como vacas marinhas por causa da sua alimentação baseada em algas que crescem no fundo do oceano, são encontrados somente em locais onde estes vegetais proliferam, como o Golfo de Mannar, Baía de Palk e Estreito de Palk, localizados no norte do Oceano Índico, que separa o Sri Lanka da Índia. O estado de conservação da espécie é classificado como vulnerável na Lista Vermelha da IUCN.

Foto: Sevvandi Jayakody

Registros históricos indicam que dugongos eram abundantes nas águas do Sri Lanka décadas atrás, porém foram dizimados pela caça, pois algumas comunidades consideram sua carne uma iguaria.

Eles se reproduzem lentamente, com um período de gestação de um ano, e os recém-nascidos permanecem dependentes da mãe por diversos meses, então a pressão exercida pela caça exacerbada levou a população do animal ao declínio.

Em 1970, a espécie foi declarada como protegida sob a Fauna and Flora Protection Ordinance (FFPO), mas a caça ilegal persiste.

Em média doze corpos de dugongos são reportados anualmente, mas conservacionistas afirmam que existem muitos mais casos não oficializados. Muitos são vítimas da pesca com dinamite, que é ilegal no Sri Lanka, mas praticada mesmo assim.

Geralmente eles são vítimas acidentais deste tipo de atividade, mas os dugongos também podem ser deliberadamente visados, pois têm muito valor no mercado negro, disse Prasanna Weerakkody da Ocean Resources Conservation Association (ORCA).

Outra séria ameaça à espécie é o enredamento dos animais em equipamentos de pesca, disse Weerakkody. Ele cita redes de emalhar fundeadas, tipicamente utilizadas para capturar arraias, como sendo particularmente prejudiciais aos dugongos, já que eles “pastam” no fundo do mar.

“Quando um dugongo fica preso em uma rede, ele torce seu corpo para livrar-se dela, mas esse movimento acaba prendendo-o ainda mais, e eventualmente o animal sufoca pois não consegue voltar à superfície para respirar,” disse Weerakkody.

Conservação

Em meio às persistentes ameaças, o Sri Lanka tomou medidas para proteger os dugongos. De 2015 até 2018, o país fez parte do Projeto de Conservação do Dugongo e das Algas Marinhas junto com mais 8 países. O projeto terminou com a criação de um plano de contingência, que recomendou diversas ações a serem tomadas para reduzir a mortalidade da espécie, e sua sobrevivência a longo prazo.

Arjan Rajasuriya, coordenador do programa de proteção marinha e costeira na IUCN Sri Lanka, e membro do comitê de planejamento do plano de conservação dos dugongos, disse que enquanto algumas ações foram tomadas durante o projeto, muitas das recomendações ainda não foram implementadas.

Foto: Sugath Emmanuwel

A proposta de estabelecer três novas áreas marinhas protegidas (AMPs) cobrindo 902 km2 de importantes habitats de dugongos é uma daquelas recomendações. Duas dessas AMPs seriam implementadas no Golfo de Mannar, e a terceira, na Baía de Palk.

O Sri Lanka já possui diversas AMPs, mas elas são mal administradas e falharam em atingir os objetivos de conservação, de acordo com uma análise de 2007. Essas AMPs são gerenciadas pelo Departamento de Conservação da Vida Selvagem, mas a agência não possui uma unidade de conservação marinha significativa.

Considerando tal fato, a declaração de novas áreas marinhas protegidas não será eficaz na conservação dos dugongos, disse Rajasuriya.

“Enquanto é importante declarar estas áreas como AMPs, o monitoramento e a administração constantes são peças-chave para assegurar a sobrevivência da espécie,” ele acrescentou.

As decisões serem tomadas unicamente por executivos pode não ser a melhor abordagem para a conservação destes animais, e sim uma estratégia de cooperação com as comunidades locais, diz Rajasuriya.

“Estas comunidades também deveriam receber benefícios monetários advindos do turismo na região, para que elas adquiram uma noção de propriedade que estimulará a proteção de espécies marinhas raras, como os dugongos,” ele diz.

Foto: Samith Fernando

A última versão da Lista Vermelha do Sri Lanka, publicada em 2012, não avalia o estado de conservação de mamíferos marinhos em âmbito nacional. Mas a próxima atualização do inventário irá mudar isso, Nanayakkara do BEAR disse, e pela primeira vez o dugongo será classificado como criticamente em perigo.

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