De janeiro a 23 de setembro deste ano, foram encontradas 66 baleias jubarte mortas na costa brasileira. O número representa 120% do total registrado em todo o ano de 2009, quando 30 animais da espécie morreram nas águas do país, de acordo com o Centro de Mamíferos Aquáticos do Icmbio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade). Os especialistas, que ainda não sabem determinar as causas do fenômeno, preveem que o número chegue a 90 até o final de 2010.
Além de passar 2009, o registro de mortes de jubartes neste ano é o maior desde 2002, quando o levantamento começou a ser realizado pelo instituto. Para Fábia Luna, chefe do Centro de Mamíferos Aquáticos do Icmbio, órgão ligado ao Ministério do Meio Ambiente, o problema não ocorre somente no Brasil. Outros países do hemisfério sul do planeta estão registrando neste ano aumento no total de mortes deste tipo de baleia.
“Ainda não há dados consolidados, mas já foi observado um número maior [de mortes] na Argentina, Austrália, África do Sul, Nova Zelândia. As populações de jubarte passam seis meses na Antártida se alimentando, acumulam gordura, e no inverno migram para os continentes à procura de águas mais quentes. Suspeitamos que o problema está na Antártida, já que elas não se alimentam aqui”.
Após a realização de alguns estudos, a ação do homem como grande responsável pelas mortes foi praticamente descartada. Não houve aumento significante de pesca neste ano em relação a 2009. Também não cresceu o número de casos de morte por ingestão de plásticos ou ferimentos causados por barcos. A hipótese mais provável está na diminuição da oferta de alimentos para as baleias na Antártida.
“Por causa da proibição da pesca da jubarte, a população total vem crescendo. O aquecimento global, o derretimento das geleiras, a poluição, ou até mesmo a mudança no clima da Antártida podem ter causado algum tipo de impacto junto à população de pequenos crustáceos daquele continente [alimento da jubarte]”.
Coordenador de pesquisas do Instituto Baleia Jubarte, Milton Marcondes mostra que o encalhe de baleias vêm crescendo nos últimos anos, junto com o aumento da população. De 2002 a 2005, a média de animais encontrados mortos foi de 22. Entre 2006 e 2009, o número subiu para 36. A previsão para este ano é pessimista.
“Em agosto, achávamos que seriam encontradas cerca de 60 baleias mortas na costa do Brasil. Agora, a previsão é de que o número fique entre 80 e 90”.
Causas só em 2011
Uma vez por ano é realizada a CIB (Comissão Internacional da Baleia), onde especialistas de 88 países participantes se encontram e discutem sobre a situação das baleias no mundo inteiro. A reunião acontece geralmente entre maio e junho. Por isso, para Fábia Luna, esclarecimentos precisos para o aumento de mortes de jubartes deverão sair só após o encontro da comissão, no ano que vem.
“Neste ano nos reunimos no Marrocos, mas a temporada de mortes ocorreu depois. Então ainda não há um consenso sobre as causas das mortes. É no próximo encontro que todos os dados deverão ser ligados e discutidos. Até lá, fica difícil determinar o que está causando o fenômeno”.
Hábitos
De acordo com os estudos dos biólogos, a população de jubartes que migra para a costa leste da América do Sul anualmente varia entre 7.000 e 9.000 animais. No país, o banco de Abrolhos, na Bahia, é o local escolhido para a reprodução desses mamíferos, que chegam em julho e retornam à Antártida em novembro. Também são encontradas jubartes em grande quantidade no Espírito Santo.
A jubarte é uma espécie migratória, que vive em todos os oceanos. Após ficar foi à beira da extinção, sua caça foi proibida em todo o mundo em 1966. Conhecidas por suas nadadeiras peitorais longas, que podem chegar até a um terço do comprimento do corpo, as baleias jubarte, quando adultas, podem atingir cerca de 16 m de comprimento e a pesar entre 35 e 40 toneladas.
Fonte: R7