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A morte dos cavalos por exaustão

3 de janeiro de 2016
6 min. de leitura
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Dedicado a todas as defensoras e defensores da abolição do uso de animais para tração de lixo e de luxo.

Cavalos são cobiçados por seu porte majestoso (quando jovens e saudáveis) e por sua musculatura. Mas os humanos não raciocinam sobre a natureza, a potência e a finalidade desses músculos, feitos para tracionar e levar o peso do corpo do próprio animal. Os humanos, invejosos dessa força, escravizam os cavalos para força-los a tracionar cargas de todo tipo, incluindo a humana, montada sobre o lombo desses, ou sentada em uma charrete puxada por eles.

Músculos são músculos, tecidos vivos, com funções bem definidas e resistência idem. Quando usados além do limite, morrem. Sim. Músculos morrem por falta de oxigênio, por excesso de ácido lático, que irrita o tecido e causa obstrução dos vasos sanguíneos, enfim, músculos morrem não apenas por desnutrição, por infecção, toxinas e traumas, mas também por estresse.

A morte dos tecidos musculares equinos, quando não percebida pelos humanos escravizadores e cruéis, leva também à morte dos rins e do coração. Muitas podem ser as causas da morte muscular, da rabdomiólise ou miosite, conhecida também por estes nomes: doença da segunda-feira, mioglubinúria paralítica, azotúria e síndrome do cavalo atado (tying up).

Cavalos usados para tração e atração turística sofrem estresses todos os dias o dia todo, tanto físicos quanto mentais e emocionais. A morte dos tecidos musculares não advém suavemente para o cavalo. É precedida de dores insuportáveis. Seus passos tornam-se mais curtos, pois a rigidez dos músculos os impede de se alongarem, pois perderam a elasticidade e o tônus.

No quadro rabdomiolítico ou miosítico, o coração do cavalo acelera (taquicardia) e também sua respiração (taquipneia). Uma tentativa do corpo de enviar oxigênio às células asfixiadas pela deficiência circulatória causada pelo ácido lático, liberado em quantidade maior do que a entrada de oxigênio nelas, pelo uso excessivo do glicogênio, a reserva de energia armazenada no fígado.

Quantos condutores de charretes e montadores de cavalos estão habilitados para dar atenção aos sinais de que os tecidos dos músculos traseiros do cavalo (a rabdomiólise ataca especialmente os músculos posteriores, exatamente os de propulsão: lombares, femorais e glúteos) estão morrendo?

E os cavalos morrem, literalmente, ainda atados às cargas letais (“síndrome do cavalo atado”). Sua morte é causada pela parada renal e cardíaca. No esforço de retirar da circulação sanguínea os restos mortais dos tecidos musculares descartados, os rins fazem seu trabalho, o de filtrar o sangue, mas o tanto de tecido necrosado acaba por bloquear seus túbulos, que ficam obstruídos pela mioglobina, levando-os a parar de funcionar. Um sinal de que algo dessa natureza está ocorrendo pode ser visto na urina do animal, que muda de cor, indo do amarelo para o vermelho, o marrom, o café ou o preto. A parada cardíaca dá-se pelo mesmo efeito venenoso e tóxico de tal processo.

Quando o animal se recusa a dar partida, ele recebe a chicotada. A dor do açoite o leva a disparar. Mas quando os seus meios de dar partida estão mortos, os músculos, como é que o animal vai conseguir obedecer ao condutor? Ele, simplesmente, paralisa. O condutor o açoita. Desce do veículo e ali mesmo, no meio da rua, segue açoitando o animal. E todo mundo à volta acha isso natural. O homem, o ser racional, está ensinando o cavalo, o ser tido como irracional, a se portar devidamente, a tracionar a carga. Mas o ser racional está a ensinar o quê ao cavalo praticamente morto?

A carga sempre está acima do limite natural da tração do cavalo, pois o limite natural, para um equino, é o do seu próprio peso, nada mais além, exatamente o que ocorre com a musculatura humana, a menos que seja forçada a tracionar algo acima desse limite. Mas, neste caso, o humano escolhe submeter seu corpo ao excesso.

Qualquer esforço além deste, o de tracionar seu corpo equino, representa lesões nos tecidos da musculatura posterior do animal. Essas lesões podem ser constatadas com exames cintilográficos e miografias, mas quem vai pagar para examinar um cavalo usado como escravo para tracionar luxo e lixo? Só os cavalos que valem milhares ou milhões têm o benefício de exames, e, ainda assim, muitos morrem no páreo também, pela mesma razão.

Sinais, sim, o animal os dá todo tempo. Alfabetização humana para decifrá-los, isso é o que não há. Atentem para estes sinais, defensores dos animais que veem os cavalos atados nas ruas: 1) rigidez da marcha; 2) imobilidade total; 3) recusa em dar partida; 4) recusa em seguir, mesmo tendo dado partida; 5) decúbito canino (o cavalo deita-se como o faz o cão sentado); 6) fasciculações (tremores); 7) cãibras; 8) respiração ofegante; 9) batimentos cardíacos acelerados; 10) sudorese; 11) músculo enrijecido; 12) recusa ao toque sobre os músculos duros. Tantos são os sinais que o corpo do cavalo envia aos seres racionais. Mas tantas são as recusas dos racionais em atender aos “gritos” silenciosos e desesperados do animal que envia esses e outros sinais.

Entre tantos fatores que levam à hipóxia dos tecidos musculares, a desnutrição ou a nutrição equivocada estão entre os mais relevantes. Animais privados do capim de boa qualidade, alimentados com concentrados de carboidratos, forçados a fazerem esforços extremos, esses são os mais vulneráveis à morte por rabdomiólise. Falta de vitamina E e de selênio também ajudam a decompor os tecidos asfixiados da musculatura. E o uso intenso e repentino do animal também.

Exames clínicos (enzimas creatina-kinase (CK), aspartato-amino-transferase (AST), concentração de fósforo e de mioglobina) podem detectar o perigo, mas quem é que vai gastar dinheiro para evitar o sofrimento e a morte de um cavalo pobre, puxador de lixo ou de turistas, a dor insuportável que ele sente, se comprar outro cavalo é mais barato do que cuidar da vida e da saúde do cavalo em agonia, deixando-o em repouso absoluto, cuidando para que não fique muito tempo na mesma posição, ministrando-lhe sedativos para minimizar as dores horríveis, as vitaminas e microminerais e muito líquido?

A abolição do uso de animais para tracionar cargas humanas, lixo e luxos, porá fim a essa agonia silenciada. E tal abolição depende da consciência de todas as pessoas, de sua recusa em usar os serviços que torturam esses animais, charretes e carroças, sejam elas cobertas de flores ou de poeira. Não esperem que os “donos” dos cavalos parem de fazer aos animais o que fazem, pois eles ganham dinheiro, pago a eles para fazerem o que fazem. Quem é inocente nesta cena? Só o cavalo. E é ele, sozinho, quem sofre e morre de esgotamento. Na frente de todo mundo. Já não há perdão para tamanha estupidez racional.

Referências das fontes médicas online nas quais baseei a pesquisa que resultou no artigo postado:
[https://www.vetsmart.com.br/protocolo/s%C3%ADndrome-da-rabdomi%C3%B3lise-por-esfor%C3%A7o];
[http://faef.revista.inf.br/imagens_arquivos/arquivos_destaque/icuYg08ts8orFXS_2013-6-21-12-14-11.pdf];
[http://prasefalardecavalos.blogspot.com.br/2012/05/sindrome-da-rabdomiolise-equina-sre.html.];
[http://www.sovergs.com.br/conbravet2008/anais/cd/resumos/r0705-2.pdf]; [https://www.evz.ufg.br/up/66/o/miopatiastexto.pdf]
Vídeo de cavalo morrendo de rabdomiólise ou exaustão

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