O ornitólogo francês Jacques Marie Edme Vielliard faleceu nesta madrugada na Capital paraense, onde será enterrado. Há três anos afastado do Instituto de Biologia da Unicamp, Viellard se dedicava ao desenvolvimento de um projeto em Belém (PA), que criava um Arquivo Sonoro da Amazônia.
Ele acompanhava também a construção de uma base de pesquisa no Parque de Ciência e Tecnologia do Guamá. Jacques Vielliard morreu em decorrência da falência múltipla dos órgãos, após complicações de uma cirurgia de fígado. Tinha 65 anos e estava desde 1973 no Brasil.
Neste momento, o professor Jacques Vielliard ainda levantava informações para escrever um Manual de Bioacústica. É dele um dos mais completos arquivos sonoros que se tem notícia na ornitologia mundial. Composto por fitas que gravou durante seus 35 anos de Brasil, o material está sendo digitalizado pela Unicamp. Tanto que é considerado o 5º maior acervo de sons de animais do planeta.
Em sua trajetória, ainda em Campinas (SP), Jacques Vielliard participou de vários programas especiais e de um Globo Repórter inesquecível, produzido pela EPTV Campinas, sobre o beija-flor, em 1995. Casado atualmente com Maria Luisa da Silva, a Malu, o estudioso deixou quatro filhos de seu primeiro casamento.
Ornitologia na veia
Nascido em Paris, em 22 de agosto de 1944, Jacques Vielliard, desde a mais tenra infância, quis estudar as aves. Era a sua maneira de compreender a natureza e, claro, contribuir para o conhecimento universal. Não resta dúvida que atingiu os seus propósitos.
Tinha apenas 18 anos quando foi mandado para sua primeira missão internacional: fazer um inventário do Coto Doñana. O relatório, de mais de 400 páginas, serviu para criar o primeiro Parque Nacional da Espanha.
Depois disso, fez mestrado em Ecologia – Ecole Normale Supérieure (Paris, 1968) e doutorado em Ecologia – na “École Normale Supérieure” – (Paris, 1971). Tinha experiência na área de zoologia, com ênfase em taxonomia dos grupos recentes, atuando principalmente em temas como aves, bioacústica, ecologia e biogeografia.
Na Unicamp chegou em 1978, ao aceitar o convite de Zeferino Vaz, Sérgio Porto e Fernando de Ávila Pires para criar na universidade um Laboratório de Bioacústica. Hoje, é um centro de pesquisa de ponta. Através dele, descobriu o Caburé-da-Amazônia Glaucidium hardyi Vielliard 1989 e do Graveteiro-do-Cipó Asthenes luizae Vielliard 1990.
Costumava dizer que o canto das aves funcionava como a identidade de cada espécie. “É fundamental para qualquer ser vivo reconhecer quem pertence à sua espécie, especialmente para o acasalamento, senão a espécie vai desaparecer”, dizia.
Fonte: EPTV