O cavalo mirrado e faminto estava caído no acostamento da Rua Monte Everest, em Maringá, morreu no asfalto depois de agonizar por quase 24 horas. O sofrimento do animal comoveu a vizinhança, que ao mesmo tempo ficou indignada com a demora no atendimento dos órgãos públicos.
Assim que o cavalo despencou na rua de terra, moradores trataram de procurar ajuda, já que o tutor do animal sumiu e ninguém o conhece. Dezenas de ligações foram feitas para Corpo de Bombeiros, Polícia Militar, Força Verde, organizações não governamentais e Centro de Controle de Zoonoses (CCZ). O animal só foi socorrido e sacrificado depois de passar 22 horas gemendo de dor.
O cavalo estava caído do outro lado da rua, em frente à casa do funcionário público Durval Rodrigues. Ele e os vizinhos ligaram para o CCZ. Depois do telefonema, a equipe da prefeitura apareceu na Rua Monte Everest às 17h50 de quinta-feira, afirmando que poderia sacrificar o animal, mas que antes precisava localizar o responsável.
“Mas como é que eles vão achar o dono do bicho se ninguém sabe quem é?”, questionava Rodrigues. O CCZ prometeu voltar no mesmo dia, 15 minutos depois, mas ninguém apareceu.
A equipe alegou, segundo os moradores, que não tinha condições de remover o cavalo naquele momento porque não estava com os equipamentos apropriados.
O CCZ confirmou que atendeu ao chamado da vizinhança. Por telefone, os moradores disseram que o cavalo estava com as patas quebradas, mas não foi o que os oficiais da entidade constataram.
“Quando chegamos lá encontramos um animal ferido e desnutrido”, conta um deles. “Estava sofrendo muito e a única forma de livrá-lo da dor é a eutanásia.”
O empresário Antônio Lima, morador da Rua Monte Everest, relata como animal apareceu na rua: “Ele caiu no meio-fio e, sem força para se levantar, foi se arrastando até o outro lado da rua. Tinha que prender uma pessoa que faz uma maldade dessas.”
O cavalo, todo esfolado e coberto de moscas, debateu-se a noite inteira tentando se levantar. Queria sair dali, mas a fraqueza impedia a firmeza das patas. Rodrigues providenciou um cobertor para o bicho não bater os dentes de frio à noite e o resto da vizinhança deu água, capim, laranja, banana e alface.
Sem força até para esticar a cabeça e pegar a banana, os próprios moradores colocaram a comida na boca do cavalo. Rodrigues estava inconformado. “O discurso de cuidar dos animais é muito bonito, mas na prática é a minoria que segue a lei à risca”, critica.
“O sujeito usufrui do animal enquanto está saudável, mas depois que ele adoece o abandona.”
Dona Nair de Souza Toleto vigiou o bicho quase a manhã inteira e cortou capim do terreno baldio para dar de comer ao cavalo. “É um pecado ver o bicho agonizando.” Nair levou a neta Heloísa, de 3 anos, para ver o cavalo depois de muita insistência da criança. Ainda de pijama, a menina acariciou o rosto do animal. “Vó, ele tá dodói”, disse, baixinho.
O sofrimento do equino terminou por volta das 13 horas, quando a veterinária Evandra Maria Voltarelli e dois oficiais do CCZ apareceram. Evandra aplicou anestesia no animal e depois o medicamento que provoca parada cardiorrespiratória.
“Nos disseram que ele tinha um dono, mas não o encontramos. Nós fizemos a eutanásia porque o proprietário não apareceu e precisávamos abreviar o sofrimento dele.”
Uma multidão acompanhou com tristeza os últimos minutos de vida do cavalo. Comovido com o sofrimento do animal, o garoto Takeshi Medina, 13, encheu uma vasilha de água e despejou na boca do equino.
“É triste demais assistir a isso”, dizia. Depois de morto, uma retroescavadeira o recolheu e o despejou em um caminhão-basculante.
Fonte: O Diário