Somente três boletins de ocorrência relacionados a maus-tratos e envenenamento em animais foram registrados neste ano em Sorocaba (SP), segundo dados da Polícia Civil. O número só não é maior porque as testemunhas da violência contra cães e gatos têm evitado a formalização das denúncias nos sete distritos e nas duas delegacias da cidade.
A estatística feita pela Seção de Controle de Zoonoses de Sorocaba comprova a falta de interesse da população em denunciar à Polícia Civil. Dados da área controlada pela Secretaria Municipal da Saúde revelam que, somente em maio deste ano, um total de 17 denúncias foram relacionadas a maus-tratos.
O auxiliar administrativo Rodrigo Bozzola de Castro e Santana, 21 anos, teve dois de seus sete gatos mortos na semana passada. “Tudo indica que eles foram envenenados pela forma que eles morreram”, comenta.
Segundo Rodrigo, morador do bairro Vila Carvalho, as duas mortes ocorreram no intervalo de três dias. “Acionamos a Polícia pelo telefone e disseram que era preciso um laudo para a elaboração de um boletim de ocorrência e, por causa de tanta burocracia, não fomos até a delegacia”, diz.
Rodrigo comenta que as mortes de seus dois gatos não foram as únicas na Vila Carvalho. “Duas vizinhas também perderam os seus gatos nos últimos meses, também por envenenamento, e não devem ter feito boletim de ocorrência”, conta.
Uma delas foi a ajudante geral Márcia Nascimento Ignácio, 53, que presenciou o seu gato de estimação agonizar e morrer em sua calçada. “Saía espuma da boca dele. Certamente ele foi envenenado”, relata. “Foi assustador”.
Márcia confessa não ter feito boletim de ocorrência, mas se arrepende. “Não fiz no mesmo dia porque eu estava muito nervosa, chorava muito. Depois, o tempo passou e não tomei essa iniciativa”, diz.
Já a funcionária pública Georgia Prado, 37, preferiu usar as mídias sociais para manifestar a sua indignação diante da violência sofrida pelo seu gato no início de maio. O animal foi atingido por um dardo, em uma das patas, e conseguiu ficar sem sequelas após ter sido atendido por um veterinário.
Georgia não procurou a Polícia para registrar a agressão ao seu gato. “Não tive a intenção de registrar um boletim de ocorrência, mesmo quando o meu outro gato morreu espancado. Escolhi um novo rumo e decidi alertar as pessoas via Facebook”, conta.
De acordo com o delegado José Antônio Belotti, titular do 2º Distrito Policial e da Delegacia de Atribuição de Crimes Ambientais e de Maus-tratos dos Animais, qualquer testemunha de violência pode procurar qualquer unidade policial para registrar boletim de ocorrência. “Não precisa se deslocar à delegacia especializada. Esse processo pode ser feito no distrito mais perto, nos plantões”, conta.
Belotti conta que, após a elaboração do boletim de ocorrência, é iniciado o procedimento de Polícia Judiciária. “São feitas oitivas com todas as partes envolvidas, além da junção de um laudo médico ou da ocorrência e a documentação é encaminhada para o juizado criminal”, diz.
Segundo Daniela Valentim dos Santos, diretora de Vigilância em Saúde, qualquer tipo de crime contra animais deve ser comunicado à Polícia. “Nós atuamos somente quando há um animal com doença transmissível ao homem ou vítima de atropelamento em via pública, sem a presença do tutor”, diz. “Vale ressaltar que a responsabilidade pela saúde e preservação é sempre do tutor do animal”, completa.
Fonte: Cruzeiro do Sul